O Anafado Inspector Rôla e o Massacre dos 7 Pães de Kilo
Quatro e meia da manhã, há já quase sete horas que jogo à lerpa com a Morte e estou perdendo a paciência. Cerveja atrás de cerveja e a manilha está seca, o trunfo: espadas.
Uma rotineira investigação de assalto a uma residência, aonde apenas uma varinha mágica tinha sido furtada, descambou numa jogatana de lerpa. Acho que estava fascinado pela Morte, essa ruiva escanzelada de peitos firmes. As ruivas sempre me fascinaram.
Aproveito uma pausa no jogo em que a Morte vai à retrete e vou à cozinha buscar mais um par de cervejas, no frigorifico já não há mais nenhuma, talvez na arca congeladora. Ao lado do pack de seis a refrescar algo prende a minha atenção, um tupperware de tampa vermelha, a minha curiosidade professional obriga-me a investigá-lo. Abro o tupperware e deparo-me com um quarto de Pão de Kilo cortado com a precisão de um neurocirurgião.
Lembrei-me imediatamente de um caso por resolver que assombrava os serviços da PJ há vários meses, o caso do desaparecimento de um Pão de Kilo, todas a primeiras quintas-feiras do mês de uma padaria ali para os lados de Santos, um que caso pertencia ao Inspector Rotring.
O autoclismo é puxado. Regresso à sala com duas cervejas fresquinhas.
O quarto de Pão de Kilo na arca não me sai da cabeça, tenho que pôr em acção as minhas capacidades indagatórias. A questão é directa e mortífera: "Tenho uma certa fome, será que não me arranja uma sandezinha?" Uma pausa suspeita e surge a resposta: "Lamento mas não tenho pão." "Excepto aquele quarto de Pão de Kilo, na sua arca congeladora, não?", respondo à queima-roupa.
A Morte levanta-se subitamente e de um armário saca um livro do Manuel Alegre e tenta atingir-me com dois versos, esquivo-me por pouco. Saco da minha fusca e atinjo a Morte por entre os olhos, com um certeiro refrão de uma das músicas do Quinteto Tati.
A Morte caí fulminada no chão. A Morte está morta.
Chamo os colegas da criminolgia. Após apurada investigação à residência da suspeita, são descobertos os restos mortais de mais seis Pães de Kilo, de todos eles apenas sobra um quarto, cortado com a precisão de um neurocirurgião e dois deles já bolorentos.
Já não se pode confiar numa ruiva. Merda!
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