terça-feira, 8 de março de 2005

Journal Of An Idle Consultant

II. Alegremente caminhamos para o abismo

Encontro-me sentado no meu posto de trabalho, são dez e meia da manhã e pela terceira vez este mês não há internet. Não sei o que passa lá fora no mundo exterior, ou se sequer ainda existe mundo exterior.
Será que as promessas de guerra, atentados à bomba e assassinatos políticos do fim de semana passado se estão a concretizar?

É quarta-feira. Aqui no buraco tudo continua impávido e sereno, como se o mundo lá fora não existisse. Levanto os olhos por cima do monitor do computador e perscruto até onde a vista alcança o escritório, dezenas de computadores e cabecinhas de idle consultants atrás destes. Nada os perturba, nem sequer o facto de a qualquer momento, tudo poder terminar, de forma inversa ao final de uma qualquer telenovela sul-americana... Sem um final feliz.

Gostava de ter uma AK-47 ou uma outra qualquer arma semi-automática na gaveta dos meus pertences. Poderia assim, de vez em quando, subir para cima da minha secretária e gritar: Sua cambada de consultores amorfos! Não sabem que estamos àbeira do abismo?. Eles não responderiam, ou porque não sabem ou porque não se importam. Escolheria um idle consultant aleatoriamente, faria pontaria à sua pequena e oca cabeça e dispararia um único tiro certeiro que o atingiria na nuca e espalharia uma pasta levemente cerebral sobre o seu monitor. Provavelmente ninguém daria por nada, apenas e eventualmente a empregada de limpeza no dia seguinte que se encarregaria de raspar o cadáver do soalho e jogá-lo no lixo juntamente com as resmas de fotocópias mal tiradas e folhas que a impressora não soube imprimir. O monitor seria limpo e reluzente aguardaria pelo próximo consultor. Dizem que abater alguém por trás écobardia... eu gosto de lhe chamar misericórdia.

De repente as massas amorfas começam a movimentar-se e pelo escritório ecoa de que o carrinho da comida está láfora à espera... são onze horas. Olho para as miniaturas de janelas que se encontram junto ao tecto do escritório e vislumbro um céu cinzento e ameaçador... já não sei se estamos em Setembro ou se já caímos no abismo.

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