quinta-feira, 14 de abril de 2005

Os parolos
A Casa da Música foi, finalmente, inaugurada!
Por favor, não se emocionem tanto. É certo que esta é uma obra indispensável num país rico e excedentário, que faz palpitar o coração de todos os portugueses à sua simples menção, mas tenhamos um pouco de calma.
A Casa, que por acaso até é bem gira, tinha abertura prevista em 2001, já que a sua construção teve como pretexto o Porto Capital da Cultura 2001. Passou a capital da cultura, passaram os anos, passaram os dirigentes, passaram os milhões e milhões que nós todos andámos a gastar com a brincadeira.
O custo inicial era impressionante: 40 milhões de euros. Agora, com as obras e as contas finalmente fechadas, ficou por uns míseros 100 milhões. 20 milhões de contos, coisa pouca.
Tudo isto é um escândalo.
E, afinal, tudo parece estar bem. Os parolos dos Media portugueses fazem telejornais em directo da Casa da Música, nos jornais não há outras manchetes (salvo a honrosa excepção do nosso caro 24 Horas), tudo afinal está bem porque é hora de festa.
Tudo isto só é possível por se passar na mui nobre cidade invicta, em que o caciquismo ainda faz lei e todos comem a sua parte. É assim em todo o país, só que lá é um pouco mais. Lisboa, os centralistas de Lisboa, têm um sentimento de superioridade ao contrário, ou seja, como estão sempre a ser atacados pelos tripeiros, sentem que têm de pedir desculpa por respirar e que nunca, mas nunca, têm o direito de criticar seja o que for.
Gostaria de saber onde estão agora as vozes nortenhas que se levantaram aquando do absurdo esbanjamento da Expo 98, em que mais uma vez ameaçaram pegar em lanças para acabar com o favorecimento da capital.
Mais uma sala de espectáculos é bom. Se é bonita e funcional, melhor. Mas alguém tem que ser responsabilizado por este e outros despesismos inadmissíveis.
E talvez seja finalmente a hora de repensar os luxos a que os incorrigíveis portugueses se continuam a dar, num país em que as pensões são de miséria e há cada vez mais gente a dormir na rua.

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