segunda-feira, 23 de maio de 2005

A Falha Básica!

Ontém à noite, como qualquer benfiquista com bê, é, éne, éfe, i, quê (de quá-quá), u, i (outra vez), ésse, tê e á muito grandes, celebrei entusiasticamente a vitória que todos nós aguardávamos desde 94 e que, pelo que se viu ao longo deste campeonato, pouco faria adivinhar que chegaria este ano.
Mas chegou! Chegou e a Nação Benfiquista "saiu à rua num dia assim", em todos os lugares, com muitos nomes, e com o fim de expressar todo o júbilo tão dolorasamente contido ao longo destes anos.
Como tantos outros, dirigi-me ao centro nevrálgico do novo mundo (entenda-se o Marquês), onde a festa já ia avançada e o dito senhor e o seu leão não sabiam onde se haviam de enfiar com tanta águia por perto!
O ambiente era de uma euforia contagiante; do Marquês aos restauradores, a avenida da Liberdade vestia-se de vermelho e de cânticos vários (embora finitos e um sem número de vezes repetidos).
Aqui chegamos ao destino da presente posta: entre as frases de ordem "Campeões, Campeões, nós somos Campeões!" ou "Ninguém pára o Benfica, ninguém pára o Benfica, ninguém pára o Benfica, olé, olé (ou será allez, allez???)", entre outros que só ficam bem e demonstram uma profunda identificação ao clube e ao momento pelo qual este está a passar, ouviam-se também gritos de guerra como " E quem não bate palmas é tripeiro, é tripeiro, é tripeirôôôôôô!" ou mesmo "Ó Pinto da Costa vai pr'ó caralho!" e podiam-se vislumbrar cachecois com inscrições do tipo "Porto é merda!"
Este tipo de clubite ranhosa faz-me muita confusão! Não só desvaloriza o Benfica, como demonstra uma clara insegurança quanto ao valor do clube. Nietzsche escreveu outrora qualquer coisa como "o forte não oprime o fraco nem o despreza, caso assim fosse não seria o forte", e é claramente isto que penso.
Faz-me confusão o adepto que, tanto ou mais do que deseja a vitória do seu clube, deseja a derrota do adversário; aquele adepto que vê os jogos dos rivais directos e torce pelas equipas que os defrontam e é faccioso no juízo dos lances e rejubila com a derrota e humilhação do adversário. Afinal o adepto ama a sua equipa ou odeia o adversário? E por favor não me tentem vender um sine qua non que jamais comprarei; não é por gostar de peixe que vou odiar a carne! quanto muito sou-lhe indiferente: não um indiferente agressivo de quem despreza, mas um indiferente despreocupado de quem reconhece a existência e o valor mas que não se identifica.

Caros Benfiquistas: SOMOS CAMPEÕES!!! E tudo o resto é conversa!


P.S. - A "Falha Básica" é um conceito psicanalítico desenvolvido por Michael Balint, que consiste numa falha narcísica muito primitiva. Isto vai influenciar a formação da personalidade e o tipo de investimento que o indivíduo promoverá no mundo exterior, procurando este investimento colmatar esta falha, através da procura da retribuição narcísica deste exterior. O objecto externo não é apercebido como tendo uma identidade própria e independente, visto esta situação comportar a diferença e a distância entre o próprio e o objecto e, logo, a possibilidade de frustração, coisa que o indivíduo não pode suportar. Assim, ele vai "atacar" (através de defesas maníacas como o desprezo e a desvalorização) todo e qualquer objecto (interno ou externo) que surja como passível de provocar frustração! Todo o ser humano comporta em si uma "falha básica"; ninguém tem o seu narcisismo primário perfeitamente estabelecido. A "dimensão" da dita falha é que varia com o indivíduo!

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