terça-feira, 21 de junho de 2005

Cunhal
Com algum atraso, aqui vai.
Tenho pena que a única referência no Vodka à morte de Álvaro Cunhal seja com recurso a opiniões de dois senhores da Direita. Parece que agora fica bem dizer isto, tipo "ele era tão bom homem, até a Direita diz bem dele!". Se a opinião da Direita me parece irrelevante na maioria das questões, nestas também o é.
A esquerda, a esquerda não comunista, diz umas palavras de circunstância sobre o homem, mas insiste na referência quase exclusiva à sua coerência. A esquerda portuguesa, como quase todas, continua a ser muito encarniçada nas rivalidades internas, e Cunhal é um daqueles casos em que o homem não parece ser apenas património do PC, mas o próprio PC.
Não concordo.
Cunhal é do seu partido e dos seus camaradas, sem dúvida, mas é também de Portugal e de todos os portugueses, principalmente dos trabalhadores.
A coerência é importante, fundamental até, sobretudo nos tempos que correm, por comparação com todos os políticos de merda que habitam a sociedade portuguesa. Mas coerência não esgota nem pode esgotar a vida e o legado de Cunhal. Hitler também foi coerente.
Cunhal é para mim uma figura admirável, um exemplo, um herói. Não tenho medo de o dizer, como nunca tive quando ele era vivo.
Para mim Cunhal representa a luta contra a ditadura, claro, mas também a luta de todos os trabalhadores e oprimidos do mundo, particularmente de Portugal e das ex-colónias.
Representa o exemplo de quem deu o corpo ao manifesto, sofreu na pele sem nunca se vergar ou renegar a luta pelos mais fracos.
Cunhal, teórico brilhante, operacional de verdadeira acção, intelectual valioso, escritor mediano, homem imperfeito. É isto Cunhal.
E é, na hora da sua morte, um homem da mais suprema relevância, que bem falta nos faz nos tempos que correm e nos que se avizinham.

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