sexta-feira, 16 de dezembro de 2005

Padre Malícias

Contam-me – que eu não vi – que, ontem, no debate entre o Jerónimo Sousa e o Francisco Louçã, este último terá aproveitado a sua intervenção final para elogiar João Amaral e Lino de Carvalho.

Assenta bem a Louçã esta prática tão portuguesa de elogiar mortos depois de mortos!

No Abrupto, Pacheco Pereira classifica o acto de oportunismo político. Eufemístico, parece-me, considerando o historial do líder bloquista.

São correntes em Louçã os laivos de desbragado moralismo. Lembremo-nos, por exemplo, do debate em que proibiu a Paulo Portas de falar da vida por nunca ter sido pai.

Ontem, não fugiu à regra. Invocou as capacidades de dois inteligentes homens, como que querendo lembrar aos vivos, olhos nos olhos, que tempos houve em que existiam comunistas bons e que a ele, Francisco, homem impoluto neste mundo de esquerdas sectárias, cabe a invocação da boa palavra e das boas memórias da esquerda.

Ontem, no gesto firme e calculado da sua última intervenção, Louçã fez muito mais que oportunismo político. Da minha parte, agradeço-lhe não só a homenagem (lamentavelmente póstuma) feita a dois comunistas, mas sobretudo o seu contributo na fundação de uma nova doutrina de esquerda: o trotsquismo mórbido.

Obrigado, Francisco.

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