segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Segunda tentativa de um rescaldo em cima da hora (depois de o meu computador se ter desligado – Ouviste João?! Tens que vir arranjar esta merda!!!)

Qual CNN qual SIC Notícias, rescaldo em cima da hora é no sempre fabuloso Vodka Atónito.
Vamos por partes, começando pelo mais importante.

1 – O Sim ganhou. Pronto. A lei será alterada e, em grande parte, acabaremos com uma desigualdade importante. Todas as mulheres, e não apenas as ricas, poderão abortar em condições de higiene e segurança, até às 10 semanas de gravidez. É isto que está em causa, e não é pouco.

2 – Em termos partidários, é naturalmente uma vitória para o PCP, para o BE e para o PS, visto que estava no seu programa eleitoral (pois, desta eles não se esqueceram, vá lá). Sócrates, principalmente, ficará grato por esta vitória, que lhe dá um balão de oxigénio em termos de opinião pública, e um argumento para fingir que, ao contrário de tudo o que está a provar, ainda é de Esquerda. Estou curioso para ver qual a bandeira que o BE vai arranjar agora, tendo em atenção o deserto de ideias que por ali tem grassado.

3 – O país continua absolutamente dividido, ainda que a Direita continue, lentamente, a perder terreno. Norte e Regiões Autónomas foram coutadas do Não. É um fenómeno indiscutível, que pode ter várias leituras, e que explica muita coisa.

4 – A vitória do Sim é apenas o princípio. A parte difícil vem agora, na forma de uma regulamentação eficaz e da preparação do nosso Sistema Nacional de Saúde. Veremos o que faz o nosso querido Governo, que tanto empenho tem demonstrado em destruir quaisquer possibilidades de um cidadão português ter cuidados de qualidade pagos através dos seus impostos.

5 – Apesar da mudança da lei, é absolutamente fundamental que seja criada uma verdadeira e efectiva rede de apoios às futuras mães que, passando necessidades, optem por ficar com os seus filhos. Esta é uma responsabilidade da qual o Estado não se pode demitir, e cabe a todos os bem intencionados desta campanha, de um lado e do outro, exigir estas medidas por parte de quem nos Governa. Porque também isso é a luta pela igualdade de oportunidades, que determina depois a liberdade de escolha, livre.

6 – O estado dos nossos cadernos eleitorais é deplorável. Estima-se que mais de 5% dos inscritos já morreram ou votam noutro país. Neste referendo, isso poderia fazer a diferença entre ser vinculativo ou não. De qualquer das formas, é sempre grave, e um sério sintoma de terceiro mundismo. Pagamos impostos, pagamos a 700 mil funcionários públicos, e para quê?

7 – O nível da abstenção foi, para mim, o verdadeiro facto político desta fantochada a que se chamou de referendo. É uma hipocrisia brutal os partidos (quase todos) que fizeram uma grande vitória pelo facto de mais gente ter ido votar do que há oito anos. Era mais que óbvio que isso aconteceria. O nível de abstenção continuou a ser, para mim enquanto cidadão, uma vergonha. Mais de quatro milhões de eleitores não foi votar. Não mexeram o cu para desempenhar essa difícil tarefa de fazer uma cruzinha. Da última vez era porque estava sol, e a malta foi toda para a praia. Desta estava de chuva, então foi tudo para o centro comercial, comprar dvd’s do Noddy e passear o fato de treino. Este povo, que é o nosso, foi o mesmo que fez a revolução, que andou em cima de tanques e a ocupar latifúndios, e agora é esta merda. Queixam-se muito, os políticos são todos uma merda, mas depois só querem é saber da sua prestaçãozinha Cofidis de ascensão à burguesia. Puta que pariu todos esses gajos. Espero que seja introduzido já o voto electrónico, para acabar de vez com a merda das desculpas, mas acho que nem assim lá vamos. Se calhar é mesmo verdade, a malta gosta de viver na merda. Desde que a merda tenha ecrã plano e possamos ir passar 15 dias ao Algarve.

8 – O referendo morreu. A instituição chamada referendo morreu. Por um lado, mais de metade das pessoas não apareceu, nem neste nem nos outros. Nós não queremos participar, não queremos decidir. Queremos que os outros decidam, que a gente a seguir diz mal, ok? Por outro lado, só a existência deste segundo referendo mostra que ninguém acredita neste instrumento, só serve para pseudo-legitimar uma decisão política que quem está no poder não quer assumir. O assunto foi referendado, e só voltou agora às urnas porque quem está agora no poder não gostou da resposta. O argumento foi que o primeiro não tinha sido vinculativo, mas este tão pouco o é. E então? Vamos ser coerentes e voltar a fazer um referendo, sobre o mesmo assunto, daqui a oito anos? É a mesma coisa que a consulta da Constituição Europeia, em alguns países: falhou, espera-se um pouco e pergunta-se outra vez, até ouvirmos a resposta que queremos ouvir. Isto só mostra que o referendo não serve para nada e mais, que o próprio povo não o quer, não tem nele qualquer interesse.
Como tal, deixem de gastar o nosso tempo e o nosso dinheiro inutilmente.
Abriria uma excepção para a liberalização da drogas leves. Aliás, deixo aqui a sugestão ao BE. Afinal vocês vão precisar de falar de alguma coisa até ao fim da legislatura, certo?

Viva a liberdade e esta merda de povo que somos.

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