sábado, 10 de fevereiro de 2007

O meu voto

Depois do meu último post, que provocou reacções acesas por parte de alguns amigos, voltei a pensar com afinco no assunto agora em referendo.

Como dizia, pude confirmar algumas reacções. Acusações de pretensioso, defensor do não, retrógrado, hipócrita, burguês, enfim, o chorrilho habitual a que a nossa esquerda, infelizmente ainda bastante estalinista, já nos habituou.
A mais curiosa reacção de todas veio de um bom amigo, o saudoso O Zé, que me acusou de ser pretensioso, por ter expressado publicamente a minha opinião. Ora, as opiniões são como o olho do cu, cada um tem a sua. Pretensioso seria eu pensar que a minha opinião, publicada no mais fantástico blog do mundo mas ainda desconhecido do mundo exterior, teria qualquer efeito relevante no sentido de voto de quem quer que fosse. Ao contrário da Direita e de muita Esquerda, eu não sou um evangelizador. Não pretendo necessariamente mudar as ideias seja de quem for. Limitei-me a dar a minha opinião, aliás, uma não opinião, a solitária expressão de uma séria dúvida numa questão que parece cheia de certezas.
Foi-me dito depois que não fazia mal eu dar a minha opinião, mas que só a devia partilhar depois das eleições. Tal como expliquei, isso torna-la-ia completamente irrelevante. E, sobretudo, recuso a ceder a estes esquemas tacticistas, de que devemos censurar uma opinião, mesmo que apenas nossa, em favor de um suposto bem maior, neste caso a vitória do SIM.
Eu prezo muito a liberdade intelectual, sobretudo a minha. Não pertenço nem nunca pertenci a qualquer partido, na minha vida inteira votei em três partidos diferentes (PC, BE e PCTP) mas não estou preso, muito menos intelectualmente, a qualquer um deles.
Limitei-me a expressar dúvidas, na tentativa talvez de ajudar as pessoas a pensar, e também a mim, já que desesperava por uma decisão, sem a conseguir tomar com segurança.
As ideias ainda são livres.
Não fui pretensioso, mal intencionado ou qualquer outra coisa. Contribui para o debate, inclusivamente em relação aos amigos que me acusaram de tudo isto.
Qualquer decisão deve ser fruto de uma ponderação a todos os níveis. Abafar a discussão para que dela não nasçam dúvidas - eventualmente pondo em risco o fim que pretendemos - é censura, e é tratar o povo como estúpido. Isso sim, é pretensioso, para além de fascista.

Vamos agora ao voto.

Tal como há oito anos, votarei sim.
No post anterior expliquei todas as minhas dúvidas, e mantenho a esmagadora maioria delas. E a razão, em última análise, é bem simples. Não consigo ter uma noção de quando já existe um ser humano, e a despenalização do aborto deixaria desprotegido, ainda que apenas legalmente, um ser indefeso e sem voz. Apenas legalmente, porque abortos sempre existirão.
E isto leva-me aos motivos pelo qual votarei sim.
Porque seria hipócrita não o fazer, eu não o fazer. Como disse, se me visse nessa situação, recorreria ao aborto, e seria um daqueles que iria a Espanha. Se eu, pessoalmente, tenho esta posição, não devo obrigar aqueles menos favorecidos que eu a recorrerem ao aborto de vão de escada. O voto em branco poderia ser honesto intelectualmente, se há mais dúvidas que certezas, mas neste caso equivaleria a um rotundo Não. Seria um voto pela manutenção do status quo, e toda a gente já percebeu que isto como está não pode continuar.
E, voto sim sobretudo porque do outro lado está uma multidão de padrecos, beatas, betos, fascistas e, sobretudo, as irmãs Brito e Cunha. Perante isto, devo admitir que a minha decisão se tornou bastante mais fácil.

Mas a forma completamente maniqueísta como toda a gente parece encarar este assunto não pode ser esquecida. Tendo este assunto sido tratado com irresponsabilidade, ligeireza e até desrespeito pelo direito de cada um à sua opinião, espero que de tudo isto resulte, efectivamente, um mal menor.

Votarei sim e espero que isto se resolva.
Ah, e não me voltem a chatear com referendos, já agora.

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