sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

O Natal

Finalmente acabou, é a primeira coisa que me aptece dizer. Eu não desgosto do Natal, mas isto tem muito menos piada quando se é suposto ser adulto. Aliás, um gajo percebe que é adulto quando oferece prendas melhores do que as que recebe. "Quanto tive filhos deixei de comer pernas de frango, tive que me dedicar às asas, que ninguém gosta", dizia-me o meu pai antigamente. Se calhar tem a ver com isso.
Os cínicos, como eu, tendem a não gostar do Natal. Gostam de dizer mal do Natal, isso sim.
Quero partilhar uma imagem que me ficou, quando estive uma hora à espera da minha mãe no Cais do Sodré, na véspera de Natal. A estação estava estranha, com pouca gente e poucos comboios para um dia de semana. Entre os passageiros, o português do Paraná (e aquela merda do aborto ortográfico, hã?) era o mais parecido com a nossa língua que se conseguia ouvir.
E, no meio dos poucos passageiros, naquela noite gelada em que todos os cafés estavam fechados (e eu cheio de dores de cabeça e a morrer por uma bica), estava um homem na plataforma.
50 e tal anos, de pele escura e ar magrebino. Rosto cansado, dorido, batido pelo trabalho, provavelmente. Ia apanhar o comboio para Cascais, onde aparentemente iria ter com a sua família. Nas mãos - e isto foi o que realmente me impressionou - tinha duas coisas: uma caixa com um bolo e um ramo de flores, de aspecto pobre e simples.
Ia ter com a sua família, e levava um bolo e flores, para a sua mulher, talvez?...
E o Natal é para estas pessoas. Para quem sofre diariamente, muitas vezes num país que não é o seu, lutando de manhã à noite por um salário de miséria. É para eles, para quem a família os leva a sacrifícios impensáveis para nós, niilistas de pacotilha.
O Natal não é para nós, os cínicos, os irónicos profissionais.
É para os velhos - e que chatos eles conseguem ser - e para os solitários, que às vezem conseguem ignorar essa solidão por apenas um dia, uma noite que seja.
O Natal é para aquele homem na plataforma, à espera do comboio para Cascais, com um bolo numa mão e um ramo de flores na outra.

Bom Natal para todos, meus amigos.

2 comentários:

Eu disse...

muito bonito, amigão

tiagugrilu disse...

Muito bom mesmo.