segunda-feira, 16 de junho de 2008

So Long, Big Phil

É claro, depois de dois excelentes jogos, cá está o profeta da desgraça a dizer mal da Selecção e do intocável Scolari.
Pois.
Há duas coisas que me estão a fazer muita confusão em relação ao treinador de todos nós. Vamos por partes.
Em primeiro lugar, esta saída para o Chelsea. O timing do anúncio foi absolutamente desastroso, isso parece-me óbvio. Depois de dizer que os jogadores só podiam pensar na selecção, e só no fim do Euro tratar da vidinha, é fabuloso ele vir fazer exactamente o contrário. Depois, é gritante a diferença de actuação em relação ao que aconteceu no Euro 2004. Aí, tinha contactos com o Benfica, mas assim que a notícia saiu veio armar-se em virgem ofendida e dizer que, no Benfica, nunca! Só a selecção interessava, e o resto tinha o simples intuito de destabilizar. Pois, os tempos mudam, e as divisas também.
Por falar em divisas, Scolari teve o desplante de dizer que, nos últimos 15 dias, o presidente da federação andou a correr as capelinhas à procura de um patrocinador que cobrisse a oferta do Chelsea. "Infelizmente não foi possível", explicou, muito pouco pesaroso, o bom do Scolari, esse tuga do Rio Grande do Sul. Que o troglodita do Madaíl não se tivesse cansado, digo eu, talvez tivesse saído desta novela com um ar um bocadinho menos ridículo. Toda a gente sabe que "it's all about the money". Mas, muito sinceramente, não era preciso esfregar-nos o nariz na merda, desta maneira. Depois de tanta santinha do Caravaggio, de tanta bandeirinha na janela, depois de tanta emoção a trautear o hino dos canhões a marchar, lá vem o vil metal estragar esta fabulosa "love story". Como diz o bom povo português, "ele a mim nunca me enganou", e não era preciso esta historieta do Chelsea.

A segunda coisa que me está a irritar foi o jogo contra a Suíça. Já o defendi, inclusivamente aqui no tasco, que Scolari teve o mérito - graças em boa parte aos nossos grandes jogadores - de nos aproximar das melhores selecções do mundo, mas não foi nem será capaz de nos levar ao topo, onde podemos estar. Ele continua a ver Portugal como um país de padeiros, mulheres de bigode, adoradores de Roberto Leal, desgraçadinhos muito agradecidos por ele, do país do futebol, nos ter levado até onde não tínhamos ido, excepto no tempo do Deusébio.
O jogo com a Suíça foi como um tratado sobre a psique de Scolari. Tacanho, de mentalidade pequena, medroso, incapaz de decidir no momento que separa os meninos dos homens. Era um jogo a feijões? Era. Era para ganhar? Obviamente que sim. Era, em certa medida, um dos jogos mais importantes do torneio. Era o jogo mais ansiado pelos emigrantes portugueses radicados na Suíça, que todos os dias têm de servir à mesa dos comedores de chocolate e adoradores de cucos. Era uma questão de orgulho, era uma questão de dignidade básica. Mas tudo isso Scolari matou, com o calculismo muito pouco latino de quem já estava apurado e resguardava as estrelas para outros campeonatos. Concordo inteiramente com a equipa que montou, de início. Talento não falta, na nossa equipa, e também eu queria ver jogar os quaresmas, os velosos, os migueis, os meireles. A verdade é que, tirando o Nani, ninguém mostrou pedalada para roubar o lugar de quem jogou os dois primeiros jogos. O Quaresma continua mais interessado em mostrar-se do que em ajudar a equipa, e só não foi para a rua porque não calhou. O Veloso não soube desbloquear o jogo nacional, e em termos defensivos não se viu, embora tenha dado à equipa uma nova capacidade de passe longo. O Meireles andou perdido, não se viu. O Miguel fez disparates o jogo todo. O Postiga tentou bater o recorde mundial de foras de jogo, e deixou o Nuno Gomes e a sua bandelete mais tranquilo. O Bruno Alves não consegui matar ninguém, e como tal não serviu para nada. Ah, e o Ricardo foi igual a si próprio, um mijas kamikaze.
O problema não foi a equipa principal. Os jogadores não estão entrosados e até correram, não foi esse o problema. O problema foi, no início da segunda parte, perceber-se claramente que a Suíça - país conhecido pelo ski e pelo curling - estava a ganhar o domínio do jogo, e que com uma ou duas mexidas na equipa Portugal limpava-lhes o sebo num instante. Mas Scolari mostrou, nesse momento, que não queria ganhar o jogo. Que se lixe a honra, que se lixe o nome, que se lixem os emigrantes que pagaram para ver a selecção treinar. Se para ganhar o jogo fosse preciso meter titulares com nervo e capacidade de decisão, então era preferível que perdêssemos. Foi essa a mensagem que passou para dentro do campo, enquanto a equipa se afundava por entre os equívocos do futebol suíço. E foi por isso que perdemos.

Scolari vai para o Chelsea, e eu sou daqueles que acha que ele não dura até ao Natal. Treinar um clube como o Chelsea, em Inglaterra (se ele acha que a dócil imprensa portuguesa é dura, que espere para ver), é mais difícil do que acertar uma pera num sérvio parado, e nem isso ele conseguiu. Quero vê-lo a convencer o Balack a rezar à senhora do Caravaggio, ou o Drogba a curtir ao som do Roberto Leal.

Viva a selecção nacional.

1 comentário:

Alex disse...

Epá, absolutamente e totalmente de acordo. De tal forma que até tomei a liberdade de colocar no meu blog um link para este post. Soberbo! E é impressionante como temos de explicar a 90% da população isto...