Um homem nasce, cresce, copula e morre, numa existência passageira, patética e absurda como a de qualquer outro animal. Tom Waits tem toda a razão quando disse um dia que os homens não são outra coisa senão macacos com dinheiro e armas. Sim, é verdade, a história da humanidade não é mais do que a sucessão de lutas impiedosas, cruéis e sem qualquer sentido entre símios oriundos de clãs rivais. E quem pensar que o admirável mundo gadjet do século XXI, com os seus inúteis brinquedos de plama e fibra óptica que nos impingem e nos enrabam todos os dias através da mega-televisão LCD-HD que temos lá em casa de não sei quantas polegadas compradas a não sei quantas prestações, alteram um milímetro que seja a nossa primitiva e animalesca natureza, basta pensarmos nos corpos que todos os dias são desmembrados e esventrados e estropiados no Afeganistão e no Iraque com o contributo do nosso bondoso e fraterno Nobel da Paz e com a cumplicidade cobarde e conveniente de todos nós, para percebemos que continuamos a ser a mesma besta iníqua e grosseira que sempre fomos e sempre seremos.
E, contudo, a história da humanidade não é nada disso. Mais do que a história da nossa bestialidade, a nossa história é sobretudo a história das sucessivas tentativas de esconder a nossa bestialidade. A história da arte escondendo a nossa boçal mortalidade. A história do amor escondendo a permanente pressão do sémen para se descarregar.
Em 1962, um macho de seu nome Jobim e outro de seu nome Vinicius, bebiam calmamente uma cerveja gelada na esplanada do Bar Veloso, quando uma fêmea atraente, bamboleando as suas ancas pelas ruas quentes de Ipanema, provocou neles uma descarga intensa de testosterona. Estes homens podiam ter sido honestos com a boçalidade intrínseca da sua natureza e vociferarem qualquer coisa como "é carapau, lambia-te toda, minha mula mamalhuda". No entanto, estes homens cultos e sofisticados, que se deliciavam a beber gin tónico e ouvir Cool Jazz nas varandas dos seus apartamentos em Manhatan, optaram pela hipocrisia da arte e do amor e disseram um para o outro: olha que coisa mais linda, mais cheia de graça, é ela menina, que vem e que passa, num doce balanço, a caminho do mar ...
5 comentários:
Um homem nasce, cresce e, certamente, morre. Copular é que já não é tão garantido.
Por falat em copular, será que o Jobim e o Vinicius...
Reparo correctíssimo, caro raviolli_nnja. Nem nas mais avançadas sociais democracias do norte da Europa foi instituído a cópula mínima garantida.
Três palavaras para este post: Post do Caralho!!!
Para o bem, obviamente...
Caro Fúria dos Dias,
Obrigado, caralho.
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