sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
A banalização da chantagem no nosso discurso político
Quando a esquerda propõe que os custos da crise não sejam sempre imputados aos trabalhadores e aos mais pobres mas que sejam também repartidos pelo capital e pelos mais ricos (através de impostos sobre grandes fortunas, fim do sigílio bancário, fim do offshore da Madeira, fim dos benefícios fiscais dos bancos, aumento da tributação sobre as mais-valias bolsistas, reforço da progressividade dos nossos impostos (nomeadamente através da criação de novos escalões de IRS para os rendimentos mais elevados), imposição de limites aos salários e bónus dos CEOs, etc.), a resposta dos nossos empresários é sempre a mesma: se se atreverem em mexer nos nossos interesses, fugimos com o nosso capital para o estrangeiro. O que é curioso e perverso é que esta chantagem mafiosa do tipo "don't mess with us, otherwise you are going to wake up with the head of your favourite horse bleeding next to you" é aceite como normal e legítima, não suscitando qualquer indignação digna de nota. Enquanto se perpetuar este estádio de total banalização da chantagem enquanto instrumento dos poderosos na reacção a qualquer tentativa de contra-poder de esquerda, restam poucas esperanças para que haja espaço político e mediático de afirmação de uma alternativa de esquerda.
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