quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Entre a Alegria e a Nobreza



Estava aqui o amarelo já sem angústia eleitoral nenhuma, convencidíssimo do seu voto no pomposo Alegre, quando vem esse patifório do Fernando Nobre apresentar a sua candidatura presidencial. Fico baralhado. Com certeza que fico baralhado. Aqui vai então a minha estupefacta opinião. Em primeiro lugar, considero que esta candidatura serve sobretudo para dividir a esquerda. A direita agradece. Em segundo lugar, tudo indica que há aqui a mão singela do Soares: para o pai da nossa democracia, mais uma punhaladazinha nas costas do seu antigo amigo é muito mais importante do que evitar a reeleição do candidato da direita. Posto isto, não há nada a fazer: a candidatura já está lançada e é preciso tomar decisões. No meu dilema entre o Nobre e o Alegre, pesam 3 critérios: personalidade, cálculo político e simbologia política. No primeiro critério, o Nobre ganha destacadíssimo: tenho muito mais admiração pelo humanismo e carácter do fundador do AMI do que pela gabarolice inconsequente do Alegre. No segundo critério, preciso de sondagens, mas aparentemente parece que o Alegre tem melhores condições para vencer a direita do que o Nobre. No terceiro critério, inclino-me mais para o Alegre, por ele simbolizar a possibilidade de toda a esquerda se unir à volta de um projecto comum. Ainda a procissão das presidenciais vai no adro e já tenho uma certeza: detesto fazer escolhas difíceis.

14 comentários:

funafunanga disse...

Mas o Nobre pode porventura capitalizar ainda melhor do que o Alegre o sentimento de simpatia pelos anti-sistema.

É que, nesse capítulo, o Alegre já deu provas de não ser tão outsider assim... A forma como depois do grito do ipiranga nas últimas presidenciais se voltou a conciliar com o aparelho socialista deixou grande parte dos seus apoiantes desiludidos. O Nobre, pelo contrário, não é um político de carreira. Isso, no actual estado de coisas, é um argumento a seu favor... Vejamos, todavia, como encara a velhacaria rasteira que é normal em qualquer eleição - se resiste ou se se junta aos outros, tornando-se como eles.

Mil Nove e Vinte disse...

Foda-se, tanta análise para quê? O Nobre ganha destacadíssimo por não ser o Alegre, ponto final.

É patrocinado pelo Soares? Irrelevante.

o homem do estupefacto amarelo disse...

Caro funafunanga,

Essa foi a esperteza velhaca do Soares: incentivar, na sombra, uma nova candidatura de esquerda muito mais independente do que a de Alegre, para lhe retirar esse capital político. O Soares pode ser um cabrão, mas ninguém o supera no tacticismo político.

funafunanga disse...

É claro que se o povo está numa de querer um chefe de Estado com absoluta independência face aos directórios partidários e grupos económicos; um que não lhes deva nada, muito menos favores; que seja a encarnação da nação, do passado, presente e futuro e do seu espírito intemporal... a aspiração é muitíssimo legítima, mas está à procura nos lugares errados. Há uma solução, aliás com provas dadas por toda a Europa, e que resolveria esse problema bastante bem... apenas requerendo uma mudança constitucional e o sacudir dalguns slogans e preconceitos que hoje até já nem significam grande coisa (se é que algum dia significaram)...

... A essa solução de verdadeira independência dá-se o nome de... monarquia.

Little Bastard disse...

fooooda-se, funáná, desceste 30 mil pontos na consideração.
Estás ao nível do Carlos Carvalhal.

funaná da bicharada disse...

Eh pá, o Nível Carvalhal não, tudo menos isso!! Qualquer cromo da liga dos últimos é preferível!

papousse disse...

E a monarquia chama-se aquele gajo de bigode.

Capitão Moura disse...

Chamaram-me?

funafunanga disse...

Não forçosamente, papuças. Não tenho uma opinião muito má dele (está acima na minha consideração do Mário Soares ou do Cavaco, certamente). Em todo o caso, a tradição portuguesa, desde as Cortes de Lamego, do D. Afonso Henriques, passa pelo recurso às cortes no caso de uma quebra na sucessão dinástica . Os representantes do povo que escolhessem novo monarca, nova dinastia. A pessoa concreta do 'pretendente' é uma questão muito secundária. E certamente evitaria episódios como o protagonizado como o Cavaco, que se devem ao lugar do presidente na luta político-partidária - quer queiramos quer não, nunca tivemos um 'presidente de todos os portugueses' nem teremos, pois é uma contradição nos próprios termos.

Enfim, é talvez uma sugestão ingrata, logo em 2010, ao fim destes 100 anos de fulgurante desenvolvimento económico e cultural do país, 100 anos de radiosa liberdade e democracia e em que o país nunca perdeu o sentido de rumo...

professor x disse...

Yep, e lá terías a nova dinastia Soares. Epá monarquia não obrigado, aliás, este país não tem dinheiro para sustentar uma monarquía moderna e europeia. Só de pensar na nobreza que sempre a reboque destas monarquías até me dá vómitos.

funafunanga disse...

Professor X, essa da dinastia Soares é, há que reconhecê-lo, um argumento válido e aterrador.

Mas quanto ao das despesas... Esse preconceito é contrariado pelos factos: mesmo descontando o facto de as famílias reais, como qualquer outra família, terem também o seu património particular para gastos particulares – e que, nos países civilizados, é escrupulosamente separado do património do Estado afecto ao órgão chefe de estado – a república em regra sai bem mais cara ao contribuinte do que a monarquia.
Título numa edição do CM de finais de Setembro:
“A Casa Real de Espanha terá no próximo ano 8,9 milhões de euros para gastar, exactamente a mesma verba que lhe foi atribuída pelo Orçamento do Estado em 2009”
Façamos agora uma análise comparativa estilo ProTeste…Montante das despesas orçamentadas para 2009 para a Presidência da República de um país mais pobre do que Espanha, como é Portugal: € 16.800.000,00 – dezasseis milhões e oitocentos mil euros, quase o dobro daquilo que é afecto à família real espanhola.
É que, muito embora o Presidente seja um só, mai-la sua senhora, entre nós o contribuinte tem, ademais, de suportar a “família alargada” dos assessores de tudo e mais alguma coisa, nomeados, em boa parte, para pagar favores políticos que, no caso dum Rei, pura e simplesmente não fazem sentido: ele não depende de ninguém para adquirir o seu direito ao cargo, não tem a sua imparcialidade diminuída pela participação na disputa político-partidária.
Em termos puramente economicistas: pagamos quase o dobro daquilo que pagam os espanhóis, por um serviço de qualidade bem mais fraca. Nada a que os portugueses não estejam já tristemente habituados…

p.s.: e não, não me vais ver de cachucho no dedo.

raviolli_ninja disse...

Ainda assim prefiro o festival de escolher um novo cromo (ou revalidá-lo) a cada 5 anos. Pode ser que na rifa calhe um que não nos envergonhe muito.

Com um rei apanhávamos com uma amélia conservadora anos a fio, com tudo o que isso traz associado (e para que não haja dúvidas sobre o que falo: beatice, movimentos pro-vida, anti-casamentos gay, famílias numerosas, pseudo-condes, caça-ao-príncipe, elitismo sanguíneo, o-meu-veleiro-é-maior-que-o-teu, betos dos cavalos, betos marítimos, betos urbanos, louras oxigenadas, triplicação da tiragem da Lux e da Caras, desfiles militares pomposos, o-meu-filho-anda-num-colégio-mais-caro-que-o-teu, Opus Dei, eu-trato-o-meu-filho-por-'você', beija-mãos e outros quejandos).

Quanto ao Sr. Duarte, há uns valentes anos ouvi-o dizer na tv uma coisa incrível e à qual ninguém fez eco: que a monarquia era uma causa perdida, mas que, pronto, tinha-lhe saído a rifa de a defender (adaptação livre).

funafunanga disse...

... Ou um rei largarto, bem sei (e não, 'I'm the lizzard king, I can do anything' não é aplicável)... Não calculas como é solitário ser-se o único gajo que, além de querer um rei, quer ver o Glorioso campeão.

Little Bastard disse...

Raviolli, tou contigo. Óptima resposta.