quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Para quando a puta de um jornalismo de investigação sério, isento e desinteressado em Portugal?



Antes que o velho e rezingão do "Bastard" morra de um ataque de coração, venho por este meio retratar-me, reconhecendo publicamente que existem de facto indícios fortíssimos de que Sócrates tem andado a arquitectar um "vergonhoso plano para controlar a comunicação social e limitar a liberdade de imprensa", já para não falar de "ter mentido descaradamente". Apesar de tudo, continuo a chamar a atenção para a notória falta de autoridade moral dos meios de comunicação social que o denunciam. Vejamos alguns exemplos. Comecemos pela Manuela Moura Guedes e o seu defunto "Jornal de Sexta". Sobre este caso, nem há muito a argumentar, porque a falta de objectividade é de tal forma gritante e o sensacionalismo de tal forma obsceno, que nenhuma pessoa séria poderá qualificar essa aberração mediática de jornalismo. Continuemos pelo ex-director do Público, José Manuel Fernandes. É imoral compará-lo com o apêndice infectado do José Eduardo Moniz, porque, mesmo no seu reinado, o jornal "Público" foi o único a não ceder um milímetro ao sensacionalismo (não se podendo dizer o mesmo de supostos jornais de referência como o "Expresso", muito menos do "Correio da Manhã- Parte II) em que se transformou o DN). No entanto, no que diz respeito à cruzada cega e facciosa que o ex-director montou contra o Sócrates, sofria da mesmíssima falta de objectividade jornalística que a sua congénere televisiva. Continuemos pelo senhor Mário Crespo. Admiro muito o profissionalismo deste velho senhor da televisão, mas caramba, fazer notícias a partir de escutas de conversas privadas em restaurantes, ainda por cima supostamente ouvidas por terceiras pessoas, e ainda para mais sem garantir qualquer contraditório, viola ao mesmo tempo tantas e tão elementares regras deontológicas do jornalismo, que me escuso a fazer mais quaisquer comentários. Terminemos então no Jornal Sol, no seu director, José António Saraiva, e na polémica da divulgação ilegal de escutas telefónicas mandadas destruir pelo Supremo Tribunal de Justiça. Para mim, repugna-me essa cumplicidade obscena que existe entre operadores de justiça e jornalistas, onde, na maior impunidade, se viola permanentemente a lei e o segredo de justiça, com o mesquinho propósito de vender mais uns quantos jornais e de servir agendas políticas secretas e obscuras. Agora, tenho que dar o braço a torcer ao Bastard, reconhecendo como muito suspeito o facto de dos quatro exemplos que citei, três deles terem misteriosamente perdido espaço mediático (Jornal de sexta suprimido, José Manuel Fernandes afastado da direcção do "Público" e Mário Crespo afastado do "Jornal de Notícias"). Mas, caralho: para quando a puta de um jornalismo de investigação sério, isento e desinteressado em Portugal?

3 comentários:

Little Bastard disse...

Fooooda-se, tu tás tipo Betencourt. Cada tiro cada melro, quanto mais falas mais te enterras.
A tua verborreia tecnocrata, não fundamentada e essencialmente errada tem tantos buracos que não sei sequer por onde começar.
Bom, lá vou eu gastar mais um pouco do meu latim.

Em primeiro lugar, mais uma vez gastas 90% do teu tempo a bater na comunicação social. Quanto ao Sócrates, duas linhazinhas envergonhadas, muito a contragosto. Olha, mete pomada que diz que isso passa.
Depois falas da falta de autoridade moral de alguns órgãos de comunicação social na denúncia que fizeram de Sócrates. Não entendo porque raio têm falta de autoridade. Podes não gostar, e eu tb não, mas é tudo. Não tem nada a ver com o teu argumento.
Dizes que o ex-director do Público irrompeu numa "cruzada cega e facciosa" contra aquele que é, aparentemente, o teu ídolo. Falas também da sua falta de objectividade jornalística. Meu amigo, responde-me a uma coisa: é ou não verdade que o teu novo ídolo se licenciou ao domingo? ou que assinou mamarrachos que não fez? ou que beneficiou de um estranho bónus nos impostos pagos sobre o seu apartamento?
Passas ao Mário Crespo, esse grande chato. Para quem, como tu, fala de cátedra acerca de jornalismo, dás argoladas lixadas. O senhor não estava a escrever uma notícia, estava a escrever um artigo de opinião. Há uma pequena diferença, que aparentemente desconheces. Eu sei bem - e tu tb sabes - que o teu novo ídolo já processou vários jornalistas por causa de ARTIGOS DE OPINIÃO, que eu saiba ainda é livre e vincula quem a dá, ou escreve. Pelos vistos aprovas esta prática, mais uma mordaça a quem não bate palmas com o cu ao chefinho.
Depois, passas ao sol. Dizes que te repugna "essa cumplicidade obscena que existe entre operadores de justiça e jornalistas, onde, na maior impunidade, se viola permanentemente a lei e o segredo de justiça, com o mesquinho propósito de vender mais uns quantos jornais e de servir agendas políticas secretas e obscuras". Acho muito curioso que isto te repugne, e que te repugne mais que a cumplicidade obscena entre operadores da justiça e os governantes, que por acaso são pagos por nós. Sobre isto, nem uma palavrinha, né?
Os jornalistas são uns nojentos porque violam a lei para vender jornais e "servir agendas políticas secretas e obscuras". Já o facto de o Sócrates fazer a mesma coisa - com toda a certeza para servir agendas políticas menos secretas e mais claras - não tem qualquer problema.
Visto que estás a falar do que não sabes, permite-me elucidar-te um pouco sobre o jornalismo, que é algo de eu sei alguma coisa.
Os jornais que tu não atacaste, ou muitos deles, já fazem parte do polvo. São manipulados ao contrário, mas isso já não te incomoda. Preferes que te alimentem com a informação normalizada e aprovada pelo chefinho. Violar a lei é que não, não é meu menino, meu metedor compulsivo de moedas no parquímetro da EMEL?
Uma última lição: falas de deontologia jornalística. Deontologia e ética jornalística não é a mesma coisa que, na tua mente de burocrata, consideras de legalidade. Na altura da censura, era proibido escrever algumas coisa; mas havia jornaliatas que o faziam, e violavam a lei. E estavam a actuar, natural e indiscutivelmente, de forma absolutamente ética e deontológica.
Havia tanto mais para dizer, já que nesta tua baboseira meteste mais água que a defesa do Sporting.
Mas enfim, estou cansado disto.
Continuando e terminando com a terminologia futebolística: acabas de ser goleado. Agora vais queixar-te do árbitro?

o homem do estupefacto amarelo disse...

Caro senhor jornalista,

Sobre a apreciação do governo de Sócrates, é muito mais o que nos aproxima do que o que nos divide: ambos criticamos as suas políticas económicas de direita (e as convergências privilegiadas que faz com os partidos ainda mais à direita), a sua tendência para o absolutismo nos tempos da maioria absoluta e para o dramatismo nos tempos de maioria relativa, a sua tendência para atentar contra a liberdade de imprensa, etc., etc. É por isso pouco honesto da tua parte criar divergências artificiais à volta deste tópico.

Desta fornam, como é natural e saudável acontecer num debate, centrei-o não no que nos une mas sim no que nos divide: a nossa opinião sobre a actuação dos meios de comunicação social em Portugal. Neste campo, as nossas opiniões divergem consideravelmente devido sobretudo à posição que ocupamos em relação ao mesmo. Desta forma, não vou censurar a tua reacção corporativista em defesa da tua classe: é humano cada um proteger os seus. Na minha qualidade de "não jornalista", tenho a vantagem de poder ser mais objectivo nesta análise: não é uma virtude, é uma obrigação. Tenho, pois, o dever de te prestar os seguintes esclarecimentos:

a) É verdade que formalmente a peça do Mário Crespo era um artigo de opinião, mas na substância consistia sobretudo na apresentação de alegados novos factos. Sempre que se apresentam factos novos, mesmo que metidos às escondidas no meio de um pseudo- artigo de opinião, o autor não se pode comportar com a ligeireza de um mero opinion maker. Pelo contrário, deve assumir-se enquanto jornalista, estando obrigado aos procedimentos deontológicos daí decorrentes, nomeadamente garantindo o direito ao contraditório. Desta forma, é pouco honesto escudar a falta de rigor da notícia no facto da mesma ter sido veiculada no espaço destinado à emissão de meras opiniões. Mas há uma segunda questão independente da forma: independentemente do texto do Mário Crespo ser ou não um verdadeiro artigo de opinião, não é legítimo, em nenhum dos casos, fazê-lo espiolhando conversas privadas num restaurante. Isso não é liberdade de imprensa- é pura coscuvilhice. A pseudo-liberdade de imprensa não pode ser feita atropelando todos os outros direitos e garantias, nomeadamente o direito à privacidade.

b) O teu argumento de analogia entre o jornalismo actual e o jornalismo no tempo do Estado Novo é falacioso. Estás a comparar alhos com bugalhos. No tempo do fascismo, não existia Estado de Direito, estando proibida formalmente a liberdade de imprensa através da censura. Sendo a legalidade daquele tempo não democrática, quem quisesse adoptar um comportamento ético tinha que obrigatoriamente violar a lei fascista. Com o 25 de Abril, foi instituído um estado de direito, em que a lei decorre da soberania do povo e em que a liberdade de imprensa é um dos direitos consagrados pela lei. Neste contexto democrático, a legalidade e a moralidade coincidem, pelo que os jornalistas podem (e devem) informar o público da verdade dos factos sem a necessidade de infringirem a lei.

c) Não me oponho (antes pelo contrário) às três notícias do Público citadas por ti, informando a opinião pública de factos (suspeitos) relacionados com o Sócrates. O que eu critico no Público (enquanto José Manuel Fernandes era o seu director) é a sua violação sistemática do dever de isenção, atribuindo sempre um espaço mediático incomparavelmente maior aos factos compromotedores relacionados com o Sócrates quando comparado com o espaço atribuído aos factos comprometedores de outras forças políticas e com o espaço atribuído a factos positivos relacionados com o governo de Sócrates.

d) Mas muito mais do que debater o caralho destas irrelevâncias pseudo-intelectuais filhas da puta, o que eu gostaria mesmo era de ir outra vez à bola contigo ver o nosso Glorioso a brilhar na Catedral.

Little Bastard disse...

Amarelinho:

isto começa a cansar, por isso vou tentar ser breve.

É óbvio que um jornal livre dá mais espaço às tramóias do Sócrates do que às tramóias de outras figuras ou do que às coisas boas de Sócrates. Para isso existe e Lusa, o DE, o DN, o JN e os outros do polvo.

Por outro lado, enganas-te quando tentas simplificar a minha postura com corporativismo. Por uma razão, os jornalistas não ganham nada com isto. Até ganham: ganham chatices e processos judiciais. É bem mais fácil ficar calado.
Quem ganha são os accionistas de jornais, que talvez aumentem as vendas, e quanto a estes não tenho grande solidariedade.

Por último, a nossa grande diferença é tu acreditares na nossa
justiça (e no pai natal, já agora), que tão bons resultados tem dado. E eu acredito que, se a justiça não funciona, há que arranjar outra maneira de "get the job done".
Ah, claro, e és um pussy.