terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Quando leio Bukowski...

...sinto-me, de início arrogante.
Eu também sou capaz de fazer aquela merda. Sou capaz, sobretudo, de escrever aquela merda. Uma frases simples, gajas e mamas e copos.
Depois sinto-me frustrado, porque não sou capaz (ninguém é).
Depois sinto-me esmagado, porque a facilidade da escrita e o prazer rítmico e visual de cada página faz-me ter vontade de ganhar vergonha na cara e nunca mais escrever uma linha na vida.
Quando leio Bukowski, fico contente por não ser ele.
Depois fico destruído por não ser ele. Por gostar de andar de sapatos, por não ter sífilis, por querer conservar a minha mulher linda, por não viver a minha vida na eterna incerteza do amanhã, por tomar banho frequentemente, por não beber até morrer.
Bukowski não escreve, é. E ninguém mais o pode fazer, da mesma maneira, porque mais ninguém foi capaz de viver, daquela maneira.
E porque sou um tipo português, de um subúrbio chamado Carcavelos, que tem um emprego bem pago. Um tipo eficiente, que paga contas, que vai às Finanças e anda de carro. Que se preocupa com os animais e com a sua mãe. E que, de mês a mês, lá consegue tirar uma tarde para, durante umas horas, brincar a essa coisa de ser escritor.
Quando leio Bukowski, apetece-me beber. Depois bebo, e apetece-me ler Bukowski.
Quando leio Bukowski, tenho vontade de me mandar, nu, para um monte de esterco, onde pertenço enquanto aprendiz de escrevinhadeiro.
Quando leio Bukowski, percebo, enfim, que tenho demasiado a perder.
É por isso (e por um pequeno pormenor de diferença abissal de talento) que nunca chegarei lá.

7 comentários:

funafunanga disse...

O melhor é que, lendo o Bukowski, ficas a saber que o gajo também passava horas a pensar que nunca ia ser o Céline, porque não passava dum bêbado, não era franciu e não andou na I Guerra, e suponho que assim sucessivamente, até ao primeiro troglodita que desenhou na caverna uma mini-estória "Fui caçar e apanhei um mamute. Depois comi-o com a minha malta".

Olha, como dizia o Buke "If you're going to try go all the way, otherwise don't even start". Mais fácil de dizer que fazer...

crítico libertinário disse...

O Luiz Pacheco comia Bukowskis ao pequeno-almoço.

Sol disse...

Belo texto!

o homem do estupefacto amarelo disse...

Homem que é homem vende ao diabo o seu carácter, os seus afectos e a sua higiene por uma bom prato de talento. Mas fazer negócios com o diabo é sempre um risco. Nada nos garante que depois de um gajo se tornar irreversivelmente um filho da puta putanheiro, bêbado, violento e mal cheiroso, o diabo, na sua infinita malícia, não lhe dê em troca apenas o talento de escrita de um Manuel Alegre.

Xuxi disse...

so lydia lunch e quase tao boa como Bukoswski....

Xuxi disse...

atrevo me a dizer k lydia lunch era o equivalente do Bukowski, mas agora a tipa ta mta gorda e nao parece ja fazer grandes mamadas e drogas e o camandro como fazia....nem as obras dela ja sao a estaleca do que once foram....she's getting old & boring i guess

Xuxi disse...

atrevo me a dizer k lydia lunch era o equivalente do Bukowski, mas agora a tipa ta mta gorda e nao parece ja fazer grandes mamadas e drogas e o camandro como fazia....nem as obras dela ja sao a estaleca do que once foram....she's getting old & boring i guess