segunda-feira, 26 de abril de 2010

25 de Abril para quando?

Nasci antes do 25 de Abril, e o que lhe tenho de mais próximo é a vivência dos meus pais. Estavam em Angola, então, com a minha irmã. Ao contrário de outros retornados, não perderam nada, porque não tinham nada para perder. Eram assalariados, a minha mãe costurava como ainda hoje, o meu pai havia ficado lá após terminar o serviço militar, e dava os primeiros passos de uma longa carreira como jornalista.
Não guardam mágoa, antes pelo contrário. O meu pai enfrentou a morte diariamente durante anos, sem perceber a razão pela qual o mandavam matar ou morrer. Também não romanceiam a coisa. Não são pessoas políticas. A minha mãe é vagamente PSD, o meu pai é um catavento que, nas últimas eleições, votou no Jerónimo. Mas ensinaram-me uma coisa: a respeitar.

Apesar de ter nascido quatro anos depois da Revolução, tenho grande respeito e carinho por esse dia.
Porque, nesse momento e nos anos imediatamente a seguir, queríamos algo. Estávamos a lutar por algo. Acreditávamos que íamos transformar isto, que o POVO podia fazê-lo, que o POVO era quem mais ordenava. Orgulho-me de um povo que, inculto, pobre e iletrado como era, acreditou que era possível tomar o destino nas suas mãos.
Orgulho-me de um povo que ocupou terras por trabalhar, que obrigou os ricos a fugir para o Brasil, com as suas malas cheias de dinheiro e sangue inocente. Que veio para rua e que acreditou em coisas tão simples, tão belas e, talvez, tão irrealizáveis.
Orgulho-me porque, então, havia uma consciência colectiva de que havia um desígnio nacional, que juntos poderíamos ser alguém, recuperar a dignidade, tornar este país um lugar melhor e mais justo. A esta distância, não falo necessariamente de ideologia. Foi feito mal ou foi feito bem, cada um terá o seu lado, e não é isso que me importa agora. Mas havia algo, havia lados, havia crença, havia acção.

Não esta merda.

Hoje ouvi o Aguiar Branco a citar Lenine. E vi Sócrates e Cavaco encherem a boca a falar de Abril. Deu-me vontade de vomitar.
Estes e outros que tais, os Lellos, os Alegres, os Passos Coelho, toda essa escumalha, foram esses e outros que tais, que venderam os ideais de Abril. Não em troca de outros ideais. Em troca de dinheiro, de poder, de aparências, de nada.

Somos uma sociedade igualmente iletrada, inculta, miserável. Mas com plasma e carrinho novo.

Façam o que quiserem. O povo legitima-vos com o voto. Mas não conspurquem um dia tão lindo ao falarem nele. Não vale a pena. Escolham lá a merda do BMW novo e desamparem-me a loja. Foda-se.

1 comentário:

Xuxi disse...

o povo ja nao é quem mais ordena ...é que mais ordenha, pra dar de mamar a corja.