sexta-feira, 9 de abril de 2010

Bastard sem filtro: uma noite em LX

Ora muito bem.
A primeira missão era encontrar um café ao pé da Cidade Universitária, para ver a bola e sair a tempo de ir ver o Bandido à Aula Magna.
A primeira tentativa foi infrutífera. Até havia lugar, mas a quantidade de idiotas vestidos à morcego-tuga deu-me logo a volta ao estômago.
Acabei por aterrar numa coisa abjecta chamada Capas Negras, um snack bar detido por um lagarto que, claramente, prefere ter a casa vazia a ver o Benfica ganhar. Cheguei às sete e meia, e o tipo fez questão de nos dar meia hora de O Preço Certo, só para chatear, enquanto ia treinando os seus dotes agoirentos, com total desrespeito por 80% da sua clientela àquela hora, benfiquistas como eu. O que vale é que já estou treinado nestas merdas, e até ia tranquilo para o que desse e viesse.
Lá chegou o camarada Amarelo, que se aguentou surpreendentemente com o ritmo das imperiais, que foram chegando mais rápido que os golos do Liverpool.
A meio do jogo entrou um casal cigano. Ela, coitada, cheia de paciência. Ele, embriagado, naquele estilo de quem está à desculpa de qualquer razão para esfaquear meia casa. Em meia hora, confirmou todas as minhas teorias acerca dessa nobre raça: conseguiu incomodar toda a gente, embriagar-se ainda mais, mandar vir com a mulher, cantar e, basicamente, deixar meio café a chegar-se mais à porta. Foi colorido.
O palhaço do dono, um azeiteiro de nome Luciano, ou coisa assim, lá se coibiu de gritar os golos do Liverpool, embora lá fosse mandando a sua laracha.
O mesmo não se pode dizer de dois caras de cu que, num café cheio de benfiquistas (ok, eram betinhos universitários do Benfica) tiveram a distinta lata de gritar, alto e bom som, os golos dos ingleses. Devem ser daqueles ressabiados que ontem foram adeptos do Liverpool desde pequeninos. É por estas e por outras que me vai dar um gozo do caralho se formos campeões. Se eu estivesse a 11 ou a 23 pontos, como estes tristes estão, estava era bem caladinho, mas o complexo de inferioridade e a raiva ao Benfica é maior, e finalmente tiveram, numa época inteira, uma desculpa para deitar cá para fora o seu reles veneno.
Aguardem-nos que vamos a caminho, cambada de complexados.

Quanto ao jogo em si.
Só vi até ao 3-0, portanto só posso comentar até aí.
Entrámos muito bem no jogo, a mandar no jogo, mostrando calma e classe. Eles foram lá uma vez e golo. Foram lá outra, idem. É a diferença de uma equipa eficaz, com experiência internacional de alto nível. Na Luz, desperdiçámos golos atrás de golos. Na parte do jogo que vi, o Liverpool não falhou uma chance, apesar da nossa boa atitude.
Depois, desta vez Jesus inventou. David Luiz à esquerda é estúpido, meter o Sidnei a frio a marcar o Torres num jogo desta importância só podia dar merda. E, claro, o Júlio César voltou a mostrar que não serve para o Benfica, para quem ainda tinha dúvidas (não era o meu caso). Por outro lado, demonstrámos demasiado respeito pelos ingleses. Ao 2-0 era mexer logo na equipa e meter gente na frente. Depois, deixámo-nos papar no contra-ataque, o que é um clássico do Liverpool.
Em suma, caímos de pé. Perdemos porque eles foram muito mais eficazes, não tivemos a sorte do jogo, o nosso guarda-redes não guardou nada e porque o nosso treinador não teve a sua noite mais feliz. Acontece aos melhores. Agora é hora de olhar para o campeonato, aquilo que todos os benfiquistas desejam.

Quanto ao Foge Foge Bandido.
Ha, a Aula Magna. Uma sala tão gira e que pareceria feita para concertos, com pequenas excepções: o facto de um gajo ter de estar sentado, não poder beber nem fumar. Foda-se, já estive em igrejas mais liberais que isso. Enfim.
O público, uma estranha mescla da geração 30/45, todos razoavelmente alternativos. 90% tinha óculos, aposto que todos têm blogs e a grande maioria gasta bué guita em roupa e procura na internet porno com animais.
But what do I know?
Na fila vip para levantar convites vi a Mafalda Veiga. Estranhamente, desta vez não parecia um troll e não tinha o João Pedro Pais atrelado. O que é bom.
Nas cadeiras atrás de nós, decorria um engate manhoso que, por mais que tentasse, não consegui evitar ouvir. Isto porque o gajo, um morcão de fatinho e sotaque do puorto, não parou de falar o tempo todo. Foi mandando várias pérolas. As minhas preferidas foram quando disse que "quando disseste que não conhecias o Bandido fiquei com medo, porque isto é um bocado alternativo" e a outra quando se queixou, durante 15 minutos de concerto, que "não se percebe bem o que ele está a dizer. É pena, porque o que ele faz bem é escrever, o melhor dele são as palavras". Foda-se, vai para casa ler um livro, então. E CALA-TE, CARALHO!
Ha, e além disso o engate dele era bem pobrezinho. Coitado, tanto trabalho para comer aquilo...

Enfim, ha, é verdade, houve música.
Bom concerto. Não é fácil transpor aquilo para o palco, mas funcionou. É claro que o Manel Cruz é, provavelmente, o tipo mais brilhante a aparecer na música portuguesa em muitos anos, e isso vê-se no seu som, cheio de boas ideias. Umas resultam, algumas não, mas é sempre interessante. Valeu a pena.

O Amarelo ofereceu-me a prenda de anos, atrasada, o último da Charlotte Gainsbourg.
Quase me fez esquecer o Glorioso.

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