terça-feira, 27 de abril de 2010

A merda e o cagalhão

Defendem os patrões que seja alterado o regime do subsídio de desemprego.
Querem, em primeiro lugar, que não haja limite mínimo para o subsídio, podendo ser inferior aos 400 euros actuais. Depois, que o subsídio atribuído vá minguando à medida que o tempo passa, para "obrigar" o desempregado a procurar activamente o emprego.
É uma proposta tipicamente de direita que, de certo modo, faz sentido. Parece-me evidente que, no subsídio de desemprego como no rendimento mínimo, há muito abuso e nenhuma fiscalização. E que, de facto, muito boa gente prefere estar a receber subsídio do que a trabalhar.
Agora isto é apenas um lado da questão.
Os patrões insistem em manter Portugal como o paraíso dos salários baixos no que toca à Europa Ocidental. É claro que este modelo já deu o que tinha a dar. Agora produz-se na Europa de Leste - com profissionais também baratos e mais qualificados - ou no Oriente.
A verdade é que é esta política de exploração que leva a que alguém sem emprego prefira não trabalhar. Parece-me óbvio: trabalhar todos os dias para ganhar 450 euros ou não fazer nenhum e ganhar 400? Ou 350, já agora? A questão não pode ser vista só de um lado.
É também pelo facto de o trabalhador empregado ser explorado que torna tão apelativo ser um trabalhador desempregado.
Todos os estudos o mostram: Na Zona Euro, Portugal é o país que tem a maior discrepância, em média, entre quem ganha mais numa empresa e quem ganha menos. E qual a receita que nos dão para sermos competitivos? Cortar nos de baixo, como é óbvio.
Pagamos fortunas a gestores que - demonstram-no todos os indicadores - não sabem gerir.
Num país onde não existe a meritocracia e sim progressão rápida através de cunhas para uns quantos e exploração desumana e desmotivadora para outros, é óbvio que não pode haver produtividade.
Reduzir isto aos salários dos mais pequenos ou ao subsídio de desemprego, é apenas querer, como dizia Marx, engrossar as fileiras do "exército de desempregados". Permitir aos incompetentes que mandam continuar a viver à grande, a gerir mal. Alguém há de pagar.

1 comentário:

funafunanga disse...

Mas é mais rápido mudar as regras do subsídio de desemprego do que mudar as mentalidades (o nosso problema financeiro é de hoje e no famoso 'longo prazo' estaremos todos mortos).

Por outro lado, creio que não estás bem a ver a ambição de vida e a mentalidade de muitos dos papa-subsídios crónicos. A postura deles deve-se não tanto a um protesto contra a exploração, mas à simples questão de princípio de quererem passar a vida sem fazer nenhum, mesmo que abdicando de certos confortos adicionais. A lei do menor esforço está bem enraizada entre nós. E o 'estar à espera que o Estado faça alguma coisa por mim' então, nem se fala.

Quanto À nota final sobre a inexistência de meritocracia neste nosso páis, não podia estar mais de acordo.