sábado, 21 de agosto de 2010
Dignidade Mínima Garantida
O CDS-PP quer pôr os beneficiários do Rendimento Social de Inserção a limpar as matas e florestas públicas e vai entregar no Parlamento um projecto de resolução recomendando ao Governo a aplicação desta medida já no próximo Verão. Tradução: os beneficiários do RSI são proto-criminosos (o seu crime é a pobreza preguiçosa) que devem ser castigados com trabalhos forçados socialmente úteis.
A Paulo Portas e seus acólitos não lhes ocorreu por um segundo a ideia de propor que este importante serviço público de limpeza das matas pudesse ser feito não a troco dos míseros 189,52€ do Rendimento Minimo mas sim inserindo os beneficiários do RSI no mercado de trabalho a troco de um salário condigno. Para os nossos misericordiosos democratas-cristãos, a função do Estado não é retirar os pobres da pobreza ou os desempregados do desemprego - isso do Estado Social é uma depravação moral inventada pelos comunistas para minar a missão evangélica da Igreja - mas sim criminalizar a pobreza, providenciando aos pobres uma respeitosa ocupação num Estabelecimento Prisional. É que o Estado Penal já é mais consentâneo com o seu piedoso cristianismo.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
8 comentários:
Não me choca... Nascemos sem nada, morremos sem nada. Tudo o que ganhamos entretanto tem um preço (directo ou indirecto). Agora: tudo depende de quantas horas deste serviço comunitário vão exigir dos beneficiários do RSI: se for jornadas de 12 horas com meia sardinha para almoço, choca-me. Agora, uma coisita mais ligeira, dividindo o mal pelas aldeias - porque não? Aliás, a obrigação de trabalhar (sing for supper) até pode ser positiva, na medida em que afugentará alguns beneficiários fraudulentos. Além de que tirará força aos sectores da sociedade que são contra o RSI, como 'subsídio à preguiça' como alguns lhe chamam.
Mas porquê ficar pelos beneficiários do RSI e não incluir também a tropa (vamos, como não dá para passearem todos ao mesmo tempo nos dois submarinos, os que estão à espera podem fazer-se úteis). E criar um "serviço cívico obrigatório", mas a ser prestado nos bombeiros, não só com a vantagem de ensinar alguma cultura cívica aos mancebos e cachopas e contribuir para algumas melhorias no país?
A proposta é interessante, salário condigno seria algo a rondar os 500€, o estado e os proprietários de zonas florestais e abandonadas pagavam a diferença, digamos que 300€.
A pergunta que se coloca é:
Essas pessoas que estão em casa com o seu plasma, tv cabo, ar condicionado e a reproduzirem-se em ciclos anuais (para receberem mais uns abonos e criar criaturas iguais) iriam?
Parece-me que não...
Caro Anónimo,
1) Se um beneficiário do RSI recusasse uma justa oferta de emprego, o seu subsídio deveria ser cortado.
2) Estás a reduzir trezentos e tal mil beneficiários todos ao mesmo estereótipo do pobre preguiçoso e aldrabão. Estás a jogar o jogo do Paulo Portas.
Caro Funafunanga,
E a reinserção profissional dos beneficiários do RSI com um salário justo é algo repulsivo para os teus valores?
Claro que não, Amarelo. Gostaria imenso de pagar aos desempregados um bom salário para limparem as florestas. Mas o dinheiro escasseia... E depois, qual seria o vínculo deles? Contrato a prazo? Recibos verdes? É que passar mais um batalhão de limpadores florestais ao quadro dos organismos públicos não creio que fosse muito bom para as finanças públicas.
Todos os anos cerca 330 milhões de euros são gastos no combate aos incêndios, enquanto apenas 150 milhões de euros são gastos na prevenção. Se o Estado gastasse mais na prevenção - nomeadamente integrando cerca de 10 mil beneficiários do RSI no quadro da função pública para o trabalho permanente de limpeza florestal (e digo no quadro porque haverá sempre a necessidade deste serviço público de prevenção dos incêndios), o número de incêndios reduziria significativamente, poupando-se muito mais no combate aos incêndios, sendo provavelmente o saldo financeiro final mais favorável para o Estado, o que, assim sendo, ao invés de aumentar o défice orçamental, contribuiria, pelo contrário, para o seu decréscimo (além do desemprego diminuir e do nosso parque florestal ficar mais preservado).
Vamos fazer contas. 10.00 talvez seja um número excessivo. Imaginemos 5.000 pessoas, a ganhar 600 euros por mês (é pouco, mas estou a pensar em termos até generosos para o que é habitual pagar-se para esse tipo de trabalho). 600 X 14 meses dá 8400. Para 5.000 funcionários daria um orçamento anual de 42 milhões de euros. Haveria ainda despesas de transporte e alimentação dessas pessoas. Partindo do pressuposto de que não haveria administradores de mercedes e salários milionários, podemos pensar num gasto total de 80 milhões ao ano.
Face às contas que apresentas, não me parece mau negócio para o contribuinte.
Ei, não vale recorrer ao truque baixo da honestidade intelectual.
Enviar um comentário