terça-feira, 24 de agosto de 2010

"Um guia breve mas útil de desobediência civil"


"Greve de fome. Aqui, os oprimidos renunciam a comer até que lhes satisfaçam as suas exigências. Os políticos traiçoeiros deixam frequentemente biscoitos ao alcance da mão ou talvez mesmo queijo cabreiro, mas tem se lhes resistir. Se o partido no poder consegue que o grevista coma, é-lhe geralmente fácil sufocar a insurreição. No Paquistão quebrou-se uma greve da fome quando o governo fabricou uma vitela cordon bleu extraordinariamente requintada, que as massas acharam demasiado atraente para ser recusada, mas pratos de gourmet como esse são raros.

O problema da greve de fome é que passados vários dias pode-se ficar muitíssimo esfomeado, especialmente quando carros de som são pagos para percorrerem as ruas dizendo, «Hum... que frango tão bom. Hum... que ervilhas... Hum...»

Uma variante da greve da fome para aqueles cujas convicções políticas tão radicais consiste na recusa em utilizar cebolinho. Este pequeno gesto, quando utilizado a propósito, pode influenciar brutalmente um Governo, e toda a gente sabe muito bem que a teimosia de Mahatma Gandhi em comer apenas salada sem tempero envergonhou de tal maneira o governo britânico que o levou a fazer várias concessões. Para além da comida há outras coisas de que se pode desistir: jogar whist, sorrir e ficar ao pé-coxinho imitando um flamingo."

(Woody Allen, in «Without feathers»)

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