segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Esquerdas, Direitas e o Resto

Um tipo pode definir-se de vários modos, mas provavelmente aquele que mais dirá de si e da forma como encara o mundo será o de ser de Esquerda ou de Direita.

Era bom que as coisas fossem tão simples assim, mas de tão simples que assim são acabam por fazer-nos cair num inevitável simplismo.

Sou de Esquerda, mas não há nada que me irrite mais do que a malta que é de Esquerda em tudo, que concorda com tudo o que soe a Esquerda, mesmo que isso seja realmente estúpido. Isto também acontece com a Direita, mas menos. Um gajo que admite que vende a alma ao diabo por dinheiro e que não tem coração, bom, basicamente, já me desarmou. Não o consigo apanhar em contradição. Um idiota de Esquerda é mais irritante.
Adiante.

Na última semana, várias notícias me fizeram pensar nesta dicotomia.

Nos EUA, estalou a polémica porque vai ser instalada uma mesquita perto de onde estavam as Torres Gémeas (recuso-me a chamar-lhe essa coisa estúpida e folclórica de Ground Zero). E esta acesa polémica estalou em Nova Iorque, a cidade mais arejada mentalmente dos EUA. Se fosse em Houston, Texas, já tinham queimado o edifício e os responsáveis pela infeliz ideia. Aqui sou de Esquerda. Não tenho nada contra e até acho bem, no sentido de que dá um muito necessário sinal de tolerância. Já a Direita local clama, como habitualmente, por uma eterna vingança, não percebendo que foi isso, em parte, que criou o problema.

Depois, Sarkozy e os ciganos. Confesso que não me choca a ideia de expulsar do país gente que está ilegal e comete crimes de média gravidade. E isto é um bocado de Direita. Mas choca-me profundamente que, debaixo de uma capa de pseudo-legalidade, se persiga uma etnia, que é o que, de facto, está a acontecer. Dos ciganos, a única coisa que gosto é da música. Irrita-me a sua convicção de superioridade indigente, a recusa em bulir, o talento e o esforço empregue em enganar, intrujar e parasitar os outros (é claro que isto é uma generalização perigosa, mas é o que acho). Mas esta verdadeira perseguição étnica de Sarkozy é inaceitável. E nisto sou de Esquerda.

Por último, saíram dados oficiais sobre as taxas de criminalidade nas zonas, em Lisboa e no Porto, nas quais foram instaladas câmaras de vigilância por parte da polícia. As taxas caíram, dando força a quem defende a utilização desta vídeo-vigilância. E aqui sou de Direita. Acho muito bem, e não tenho medo nenhum de violarem a minha privacidade, uma vez que é na rua.

Algures no meio disto tudo estará a minha consciência. Que me faz, e bem, tentar olhar para tudo com olhos de ver, e não com os olhos oficiais de um lado ou do outro.

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