A imprensa política, já a aquecer os seus motores de factóides e cenários apocalítpicos, fez grande alarde com o facto de, a partir de hoje, já não ser possível a Cavaco Silva demitir o Governo.
É claro que isto só interessa aos punheteiros dos jornalistas políticos. É absolutamente óbvio, desde há muito, que isto é uma ficção. Que Cavaco nunca na vida ia dar uma (ainda que ténue) abébia ao Manuel Alegre ao demitir o Governo e abrir, nesta fase, uma crise política.
O problema não está aí.
O problema está no próprio Passos Coelho, e na absoluta bazófia que foi a sua ameaça, muito pouco velada, de que queria conhecer as linhas mestras do próximo Orçamento do Estado, exactamente até este dia. Passos Coelho é aquele tipo que é muita mau dentro do carro, mas quando o outro sai pronto para o molho foge com o rabinho entre as pernas.
- Ou fazes isso ou...
- Sim, ou...?
E é o silêncio.
Porque a questão não está no Orçamento, e o poder não está, efectivamente, nas mãos de Cavaco, que só quer que o deixem ganhar as eleições descansado.
Quanto ao Orçamento, é simples. O PSD apoiou o PEC, nas suas duas versões, colocando o carimbo da sua concordância na política orçamental, económica e financeira do Executivo. Este próximo Orçamento vai no mesmo caminho, e tem o mesmo objectivo. Como tal, não vale a pena fingir que, de repente, já não se concorda. Sócrates, como é óbvio, podia no mínimo fingir que está a negociar, para deixar o PSD salvar a face. O problema é que Sócrates não sabe negociar. Não está no seu arrogante ADN. E quer governar como se estivesse ainda em maioria.
E, mais importante, a questão está no que raio quer o PSD fazer, na única estratégia que lhe interessa: atingir o poder.
Ou é já ou noutra altura, através de uma moção de censura com o apoio de outros partidos. Ou então é esperar que o Governo caia de maduro. Como isto não vai acontecer - porque Sócrates nunca assumirá o óbvio, que não tem condições para governar - entra aqui o terceiro cenário, de deixar o Governo chegar ao fim do mandato. O que seria desastroso para o país.
Como tal, Passos Coelho tem de se assumir. Ou derruba ou deixa de fazer barulho inócuo.
Eu acho que, daqui a um ano, estaremos a ter eleições. E vai dar-me gozo ver os meninos do PSD a roerem-se de impaciência até lá.
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