sábado, 4 de setembro de 2010

Normalidade

Finalmente terminou o infame processo Casa Pia.
Sabemos que teremos recursos e novela para dar e vender. Mas, tirando para os arguidos e para as vítimas, o que importa acabou hoje.
É tempo de parar, de deixar a poeira assentar, de deixar cair de uma vez este processo que deixou uma ferida profunda na sociedade portuguesa.
Vi gente, supostamente civilizada, a chamar Carlos Cruz de prevertido, assim que se soube a decisão do tribunal. Meia hora antes não era, meia hora depois já era. Não há necessidade de todo este circo, de descarregar em alguém já tão penalizado as nossas frustrações. 
Não sei se é culpado ou não.
Sei que ele, e os outros, foram penalizados. Foram quase todos condenados, a justiça fez o que tinha a fazer. Talvez as vítimas não o consigam nunca ultrapassar, mas nós todos, colectivamente e enquanto sociedade, devemos fazê-lo. Devem acabar os insultos, o circo mediático, tudo isso.
Tirando a aberração de tempo que decorreu, que destrói qualquer imagem de justiça, esta funcionou. Julgou. Tomou uma decisão. Os condenados podem recorrer, como é seu direito.
É preciso respeitar esta "normalidade". Condenados, que cumpram o que têm de cumprir. Sem qualificativos.
Aqueles que foram condenados, vi-os sair, na televisão. Cansados, arrasados, farrapos. Tinham acabado de ver a sua reputação destruída e a liberdade cortada, ainda que não de imediato. Confesso que me custa que sejam incendiados na praça pública. Que se cumpra a normalidade da justiça. Ponto final.
Precisamos todos de seguir em frente. Tenho a certeza de que há erros no processo, porque necessariamente isso acontece em algo tão extenso e tão complexo. E vi também muita gente atacar os juízes. É preciso, também aqui, ser tolerante. Eu não queria estar naquele lugar. Terão feito o seu melhor. É importante acreditar nisto.
Toda a gente está cansada. Vítimas e arguidos. É altura de tranquilidade, e de deixar o resto dos processos correrem.

Uma última nota: choca-me profundamente ver os advogados e outros representantes da Casa Pia, virem, de lágrimas nos olhos, aplaudir esta sentença. Ver a Catalina Pestana, cuja responsabilidade era defender aqueles alunos, cantar vitória pelos abusados, perdoem-me, mas não me convence. A própria Casa Pia, e os seus responsáveis, deviam estar no banco dos réus.
E sabermos, todos nós, que muitos outros abusos aconteceram, e que muitos outros abusadores deviam estar ali sentados.

Mas é preciso seguir em frente. Em nome de uma sociedade mais saudável.

E, acima de tudo, que isto tenha servido para algo. Para que isto não volte a acontecer.

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