sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A casa dos espelhos

Como raio o Sócrates toma as medidas que toma, que em qualquer situação significariam a morte política de qualquer Governo, e com isto surge como o salvador da Pátria e coloca o líder da oposição em apuros?

Com sorte, com muita cara de pau e com muita incompetência do seu rival.

Ontem à noite ouvi um tipo com cara de xavalo betinho tachista boy, chamado não sei quantos Medina, a dizer que o Governo e o PS, com isto, estavam a "cumprir o seu dever patriótico".
Dever patriótico era correr com esta gente já, rapidamente, e de preferência de forma violenta.

Mas já lá voltamos.

Com isto, Sócrates entalou completamente Passos Coelho.
Se ele deixa isto passar, fica colado às medidas de Sócrates e limitado na sua capacidade de o atacar. Se não deixa isto passar, atira o país aos lobos dos "especuladores dos mercados internacionais" e é anti-patriota. Touché.

A questão é o que fazer agora. O que vai fazer o homem que se recusava a aprovar um orçamento porque descia os benefícios fiscais, na prática um encapotado aumento de impostos? O que vai fazer ele agora confrontado com um real, efectivo e brutal aumento de impostos?
Durante semanas, Passos Coelho insistiu que a redução do défice tinha de vir, sobretudo, da redução da despesa. Mas não disse como. E agora Sócrates faz-lhe a vontade: aí está o corte na despesa, da forma mais violenta, em salários. O que pode fazer Passos agora? Dizer que não, que afinal queria cortes noutra despesa? Se é isso, porque não o disse?

É, de facto, uma belíssima armadilha que Sócrates montou ao seu rival, com a extraordinária ajuda deste.

Vai ter de comer e calar. Está neste momento à procura do argumento de retórica que lhe permita aprovar esta palhaçada sem perder totalmente a face, mas deu-se mal. É bem feito. É o que acontece quando garotos fazem voz grossa.

Tudo isto é verdade, mas é politiquice. O mais importante não está aqui. É que, enquanto os analistas políticos (e eu próprio) estão ocupados com este raciocínio, esquecem-se do fundamental.
Que tudo o que se está a passar é da responsabilidade de Sócrates e do seu bando de malfeitores.
Ponto final.
Estes senhores que falam agora de dever patriótico eram os que, há apenas um ano, diziam que Ferreira Leite era anti-patriota por se opor ao TGV, indo ao ponto de a acusar de ter uma visão obscurantista e isolacionista, de defender o mote salazarento do "orgulhosamente sós".
Agora dizem exactamente o mesmo que ela, e o contrário do que diziam.
Estes belos patriotas são aqueles que, em 2009, ano de forte crise e, curiosamente, de três eleições, deram um aumento de 3% aos funcionários públicos, todos, com grandes e pequenos salários. Eleições ganhas, agora toca a cortar 5%.
Estes patriotas são aqueles cujo líder está há anos a falar de um país imaginário, em que a economia "cresce de forma cada vez mais robusta" e no qual "não é necessário aumentar os impostos" e muito menos "cortar salários". Não foi há um ano, foi há três meses.
Estes são os patriotas que examearam a máquina do Estado com os seus boys, que ainda hoje tratam a PT como a sua coutada pessoal, apesar de nessa empresa terem menos de 0,05% do seu capital.
Estes são os patriotas que, perante esta situação, falam dos submarinos de Paulo Portas e atacam o PSD por criticar o Governo, virando o bico ao prego, como se todos fossem responsáveis pela situação actual, todos menos o PS.
É como um vizinho que não faz obras em casa e põe em risco todo o prédio. Os outros vizinhos vão avisando que aquilo é perigoso, e ele goza, contente da vida. Depois, por via da sua incúria, acaba mesmo por incendiar a casa e todo o prédio. E depois aparece de baldinho na mão, com postura "patriótica", criticando os outros que se recusam a apagar o fogo.
O PS vive numa gigantesca casa de espelhos, em que vê em si as virtudes dos outros, e nos outros todas as suas falhas e todos os seus pecados.
Se Sócrates conseguir - e eu acredito que vá conseguir - convencer os portugueses com esta encenação, esta mentira gigantesca que se tornará o golpe do século, então Portugal tem o que merece.

Eu achava que havia limites à cara de pau. Mas já há muito que sei que não há limites para a credulidade e estupidez deste miserável povo.

1 comentário:

funafunanga disse...

No outro dia vi no Motelx o filme "Noite Sangrenta". Basicamente, é a história duns magalas que andaram uma noite de carripana por Lisboa, indo a casa de cada membro da intelligentzia medíocre da I República que deixara o país no caos, apanharam-nos à mão um a um e enfiaram-lhes um balázio na tola. Fiquei a pensar algumas coisas inconfessáveis sobre a saída para a actual situação do país.

... Foi a primeira vez que um filme tuga me deu tesão.