sábado, 23 de outubro de 2010

O Disco da Minha Vida XII

Bom, isto agora torna-se algo desonesto. Porque tenho de escolher um disco entre 3 ou 4, fantásticos, que considero estarem todos ao mesmo nível.

O disco de hoje é "The Cult of Ray", de Frank Black.
Frank Black, ou Black Francis, como quiserem (o seu nome verdadeiro até é Charles), é, toda a gente sabe, o antigo vocalista e principal compositor dos Pixies.
Para mim, como para muita gente da minha geração, os Pixies bateram demasiado tarde, para muita malta já depois de eles acabarem a sua primeira encarnação. Mas foi bem a tempo de deixar uma marca que, provavelmente, não desaparecerá durante as nossas vidas de amantes de música.
Mas esta não é uma mensagem sobre os Pixies. É uma tentativa de corrigir uma das grandes injustiças da música contemporânea. É que, mesmo para os fãs de Pixies, Frank Black a solo não existe. É mau ou, na melhor das hipóteses, é irrelevante. E isso é errado. Como se o tipo que escreveu todas as grandes músicas dos Pixies, de repente, deixasse de perceber alguma coisa de música. As if...
Foi o Amarelo quem me mostrou o Frank Black, depois de já ter sido ele a mostrar-me os Pixies. Em ambos os casos, estaca céptico, mas rapidamente a coisa mudou. Com Black, ele mostrou-me o seu primeiro disco a solo, homónimo, de 1993, menos de dois anos depois de os Pixies terem editado o derradeiro "Trompe le Monde".
A voz continuava lá. Aquela voz de eterno adolescente, entre o romântico freak e o rebelde alucinado. E isto vindo de um monstro de 100 kilos, gordo e careca, sem pinta absolutamente nenhuma.
E para além da voz, continuava lá o rock. O bom e velho rock.
Ao longo dos discos seguintes, perto de 15, foi mudando e apurando o som, que no início era relativamente semelhante ao que fizera antes. Em termos muito gerais, e fazendo a inevitável comparação com os Pixies, teremos de dizer que estes eram um som mais urbano, se por urbano entendermos uma cave rock num qualquer outro planeta. A solo, Black tem uma estrutura mais clássica de canção, e mais ligada às raízes do rock. Teve uma fase meio country, teve sim senhor, e foi bem boa. Teve outra mais pop, igualmente boa. Mas a sua música teve sempre duas coisas que estiveram sempre lá, misturadas com as outras coisas: o rock, sempre, e a grande capacidade para fazer grandes canções, feitas de adrenalina e de uma grande capacidade aditiva.
Escolhi "The Cult of Ray" como podia ter escolhido o grande "Pistolero", "Dog ín the sand" ou "Teenager of the ear". Podem agarrar num disco qualquer dele e só muito dificilmente não acertam com um grande disco.
Vi-o ao vivo, com a sua banda "The Catholics", há uma data de anos, na Aula Magna. Fui arrastado pelo malogrado Amarelo, até porque na altura não conhecia bem o seu trabalho a solo. Numa sala bem composta, o público foi bombardeado com um grande concerto,  com três guitarras agressivas em palco, e nenhum baixo. A sala foi reagindo entre o entusiasmo e o espanto, para só ir ao rubro quando a banda tocou duas ou três músicas dos Pixies, nomeadamente "Mr. Grieves", que ia levando a casa abaixo.
Talvez como vingança por tudo querer ouvir os Pixies e não a sua nova banda, a verdade é que passei uma semana a ouvir mal, com um zumbido resistente nos ouvidos.
E ele é que tinha razão, e só vim a perceber mais tarde.

Deixo-vos uma das melhores músicas de "The Cult of Ray", curiosamente uma das músicas mais lentas e "baladeiras" que alguma vez fez. Não é muito representativa do seu estilo, mas é representativa do seu talento.

Dá-lhe, Charles.  

3 comentários:

Ex Futuro ex-leitor deste blog disse...

Elá, passo uns meses sem vir aqui e eis que o Amarelo se pôs na alheta. Pois está bem, volto a frequentar a casa.

Carlos Carvalho disse...

Heterónimos depois de Pessoa?
Estudasses...

papousse disse...

Venha o Amarelo.

ps: As presidenciais estão à porta. Não que o facto tenha assim tanta importância para o país, mas sempre dá para darmos umas marretadas uns nos outros.