terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Como foder completamente uma boa ideia

Em Portugal só há duas maneiras de fazer as coisas: ou se perde o tempo todo em estudos exaustivos e acaba por não se fazer nada, ou se avança porque sim, sem pensar bem as coisas, e dá merda.
O nosso amigo António Costa, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, parece ser partidário desta segunda via.
Vem isto a propósito de, ontem, eu ter passado duas horas entalado num engarrafamento monstro na cidade de Lisboa. Sim, num domingo à tarde.
Eu explico, depois de ter percebido.
Parece que há uma coisa que é a "Corrida de São Silvestre", uma prova de atletismo que, em todo o mundo, se disputa nas primeiras horas de cada ano. Ou seja, logo à seguir à passagem de ano. Em todo o mundo? Não, porque duas irredutíveis aldeias lusitanas - Lisboa e Porto - decidiram que este ano já não era assim: era a dia 26 e à tarde. E mai nada. Infelizmente não choveu.
Atenção, eu acho a coisa um bocado apalhaçada, mas não tenho nada contra. A malta quer correr no centro da cidade? Tá-se bem, força nisso.
Mas já me incomoda um bocado isso me ter feito perder duas horas dentro do carro, a mim e a milhares de pessoas. Tudo por uma simples razão: ninguém avisou que a via mais central e importante de Lisboa ia estar cortada para uns tipos de calças de lycra darem umas corridas. Não só ninguém avisou como, nas ruas à volta, não havia qualquer sinalização. Ou seja, um gajo tinha de cair que nem um patinho na armadilha, de onde só conseguia sair duas horas depois. Se soubesse teria ido de metro, algo que faria se fosse dia de semana ou se soubesse que iam paralisar a cidade desde o Marquês até ao rio.
No meu caso, desci do Príncipe Real até à Alexandre Herculano, para depois atravessar a Avenidade da Liberdade. Mas esta estava fechada, pelo que mandaram milhares de carros para a rua lateral, que só tem uma via. Mais genial ainda, ia-se descendo obrigatoriamente a rua e...éramos obrigados a subir para a Praça da Alegria, que me levou de volta ao ponto de partida, o Príncipe Real. Tirando o facto de eu ter perdido duas horas, entretanto.
Na Avenida da Liberdade eu até vi polícias. Estavam a guardar os cones que tapavam a avenida, para o caso de alguém os queres roubar. Quando, num tom obviamente pouco calmo, perguntei que raio de merda era aquela e se não teria sido melhor avisar os condutores, o senhor polícia zangou-se comigo porque eu não estava a circular!
Eu queria circular, caralho! Eu queria circular para casa! Mas durante duas horas obrigaram-me a circular, a um à hora, num percurso que inevitavelmente me levou ao mesmo sítio!
Desde que chegou à Câmara, António Costa destacou-se por três coisas: tentar equilibrar financeiramente a autarquia (indo aos bolsos à malta), foder ainda mais o trânsito e a cabeça aos condutores (esses criminosos!) e, por último, parvoíces tipo dia sem carros/Red Bull Air Race e coisas assim.
Nas cidades civilizadas também há corridas. E dias sem carros. E concertos na rua, e animação e tudo e tudo e tudo. Isso é bom. Mas também há competência, que é coisa que claramente falta na Câmara de Lisboa. Era simples: era avisar. Mas os senhores estavam demasiado ocupados a descer a rua aos saltinhos, para aparecer na fotografia.
Isto não surpreende vindo deste xamussas. Um tipo que ganhou a Câmara assente na ideia de trazer mais habitantes para a cidade e cuja primeira medida, já eleito, foi aumentar brutalmente todos os impostos (directos e indirectos) que incidem sobre os munícipes. Ele gosta é de circo e palhaçada. E de fingir que faz. A eficiência não é impossível, nem sequer é difícil. É só pensar um bocadinho nas coisas, senhor presidente da Câmara.

Já agora, achei muita piada aos grandes e saudáveis desportistas que, terminada a bela corridinha, se apressaram todos a entrar nos seus automóveis (!) estacionados na zona da Baixa, provocando outro engarrafamento monstro. É bem feito.

1 comentário:

Há que ser objectivo disse...

o autor da posta tem toda a razão
vão correr para o rio