E pronto, não há nada a fazer.
Por incrível que pareça, a campanha eleitoral para a presidência fica marcada, até ao fim, pelo BPN.
Bom, tendo em atenção que, até então, a campanha morna tinha sido marcada por assuntos da competência do Governo e não da presidência, até, se calhar, faz sentido.
No fundo, a presidência, na concepção que esta malta do centrão tem da coisa, não serve para nada. Uns recados, umas advertências à porta fechada, umas paradas militares, uns discursos encriptados e uns bolos-reis. Pouco mais, nada de realmente importante.
Há apenas um ponto importante: se o FMI vier, mandam o Sócrates com o caralho ou não?
É só isto que interessa, na verdade, e não vi nem Alegre nem Cavaco responder directamente a esta questão. Por motivos que, em ambos os casos, se compreendem perfeitamente.
Para mim, esta história do BPN/SLN e do Cavaco interessa muito pouco. Não houve crime nem indícios disso, apenas um negócio fajuto que lhe deu, e à sua filha, muito dinheiro a ganhar.
O que aconteceu é simples, e passo a explicar.
Em 1999/2000, Cavaco e a filha compraram acções da SLN, dona do BPN, que era o seu maior activo. A compra foi feita tendo como contraparte Oliveira Costa, na altura presidente do banco e da SLN. Dois anos depois, as acções foram vendidas de volta à SLN, por um preço mais de 100% superior ao da compra. Como a SLN não é cotada, não há um valor de mercado que sirva de referência aos títulos em causa. Portanto, teve que haver uma avaliação específica de quanto valiam as acções. Para haver um cabal esclarecimento da questão, tudo se resume a saber quem avaliou as acções e com que critérios. Se calhar a valorização faz sentido. Mas não sabemos nem nunca vamos saber.
Aquilo que é claro é que as acções foram vendidas baratas e compradas de volta caras. Ora isto é má gestão da SLN. A não ser que a contrapartida deste negócio fossem favores, influências, etc, etc. Foi isto que aconteceu, como aconteceu com Dias Loureiros e outra malta do PSD. Não sendo possível provar o que foi dado em troca, tudo se resumiu a Oliveira Costa dar aos amigos alguma guita a ganhar, em prejuízo da sua própria empresa, com os resultados que mais tarde se vieram a saber. No fundo, a questão não será necessariamente criminal, mas sim de mostrar as negociatas feitas entre bons e velhos amigos. Questão que adquire importância porque suja a imagem pseudo-imaculada do Santo Aníbal.
Cavaco cometeu um erro crasso que, não fosse a ausência de rivais e a vantagem que tem, lhe podia ter custado a reeleição. Confrontado com o caso BPN por Manuel Alegre (que diga-se, percebeu bem que não tinha grande coisa a dizer pelo que fez uma insinuação muito vaga e a contragosto), atacou a gestão actual do BPN. Que está lá a trabalhar, praticamente de borla, para resolver o problema que os amigos do Cavaco criaram, e que vai custar 5 mil milhões de euros a todos nós. Mas a coisa fez barulho mas passou, no fim de semana de fim de ano. O outro erro monstruoso foi Cavaco voltar a falar no assunto na segunda-feira, na Madeira (não sei se são os ares, mas é impossível a qualquer gajo do PSD naquela área não se transformar num débil mental). E aí, ao reintroduzir o tema BPN na campanha, quando não tinha necessidade de o fazer, enterrou-se ainda mais.
A imprensa, nomeadamente a política, vive para as campanhas. E as campanhas fazem-se de casos e de soundbytes. Como esta campanha estava morta à partida, com um vencedor antecipado, andava tudo desesperado por um caso, nem que fosse um fait-diver. E Cavaco serviu-o de bandeja, embora seja um caso que só o pode penalizar. Como resultado, metade dos jornalistas do país está, neste momento, a tentar levantar podres sobre o BPN e tentando ligá-los a Cavaco, como forma de alimentar as não sei quantas páginas diárias de jornal sobre a campanha. O Público trouxe a lume que vários antigos responsáveis do BPN, alguns suspeitos de muita merda, fazem parte da comissão de honra do candidato Cavaco Silva. Não é crime, mas fica mal, porque o colam aos amigalhaços de outros tempos. E isto é só o princípio, acreditem. A minha única dúvida é se os directores de jornais vão ter os tomates de publicar mais lixarada. Porque os jornalistas vão encontrar coisas, isso é seguro, mesmo que tudo não passe de insinuações vagas e que não incriminem directamente Cavaco. Mas nestes casos, a insinuação basta para fazer mossa. Não acredito é que os directores dos jornais, sabendo perfeitamente que a reeleição de Cavaco é inevitável, estejam dispostos a comprar uma guerra de anos com o presidente.
Hoje, Alexandre Relvas veio reagir à "campanha suja" que liga Cavaco ao BPN. E disse uma mentira descarada: que Cavaco já explicou tudo cabalmente, nos debates televisivos. Ele podia dizer tudo, ou até simplesmente que Cavaco não tem que responder. Que foi um investimento privado quando não era titular de qualquer cargo político, que declarou a mais-valia e pagou os impostos, etc, etc. E que, como tal, não é um assunto presidencial ou legal, pelo que não tem que explicar nada. Mas não. O senhor Relvas e o senhor Cavaco vão pelo caminho da mentira, de que este último já esclareceu tudo. O que é absolutamente falso.
Mais, se ele quer esclarecer, repito, basta dizer coisas simples: quem avaliou o preço de compra e o preço de venda, e como se justifica esta súbita valorização. Só isto. Não tem de o fazer, mas pode fazê-lo, se não tiver nada a temer. Não pode é dizer que tudo é claro e está explicado.
Cavaco, nesta campanha, está a demonstrar ser exactamente o contrário do que tenta passar. Diz que não é político, mas é o político português no activo com mais anos de exercício de altos cargos. Finge-se de conciliador mas é agressivo e mal encarado. Fala nos pobrezinhos mas despreza Fernando Nobre e Xico Lopes quando este o faz, como se o Santo Aníbal tivesse o exclusivo do tema. E, sobretudo, perde completamente as estribeiras quando é questionado, confrontado ou contrariado, bem ao estilo do nosso velho conhecido...Sócrates.
Porque Cavaco não conhece o conceito de candidato. Acha inadmissível que um presidente em funções tenha de andar no meio do povo a distribuir bandeirinhas. E que tenha que debater com borra-botas como Defensor Moura ou Chico Lopes ou qualquer um dos outros. E que tenha, imagine-se a desfaçatez, de responder a perguntas dos jornalistas.Ele é o tipo mais honesto que todos. Os outros são todos má moeda.
Ele queria uma campanha vitoriosa, laudatória, calminha e caladinha como ele sempre foi. Um ritual de incenso e folhas de palmeira, com a multidão a cantar hosanas ao Santo Aníbal. É um arrogante de merda, que não consegue, pura e simplesmente colocar-se ao mesmo nível que qualquer outro ser. Ele está genuinamente repugnado por ter sequer de disputar estas eleições.
Vai ganhar, claro, mas finalmente deixou cair a máscara. Esta parvoíce do BPN serviu, ao menos, para isto.
PS - acho imensa piada muita malta do PSD vir agora queixar-se da campanha suja, quando fizeram o que fizeram com o Sócrates. E acho muita piada à malta do PS, como a insuportável Edite Estrela, que vem atacar Cavaco com a história do BPN, depois de ter rasgado as vestes com as "inaceitáveis insinuações" contra Sócrates. Que, lembremo-lo sempre, eram muito mais graves e fundamentadas que esta história do BPN, abalando seriamente os princípios básicos do Estado de Direito. Se esta merda funcionasse, Sócrates não teria sido só demitido: estava preso.
Enfim, estão bem uns para os outros.
quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
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8 comentários:
E sobre os negócios do Luís Filipe Vieira, já te informaste?
Sim Carlos Carvalho Travestido, concordo com a atribuição de prioridades. Isso de discutir os destinos do país pode esperar, venham de lá as coisas importantes, como o futebol.
Andavas a portar-te tão bem...
Lamento desiludi-lo, mas aqui no blog nunca se discutiu caro steward, muito menos os destinos do país.
Aqui, o negócio é a bela posta de pescada. E se alguém trouxer bacalhau, está a puta armada e o Barnabé leva no focinho.
Ninguém falou de futebol, eu pensava que o tema era chulos e manobras marotas, não?
Carrega orelhas.
Confesso que o meu intelecto inferior não consegue acompanhar a catadupa de
trocadilhos, 2ºs sentidos, parangonas à Record, anormalidades em geral e imbecilidades em particular.
Bastard,
A história tem mesmo algum interesse. Não é irrelevante (pelo menos politicamente)apurar se estes negócios fazem parte do bolo de trapalhadas que conduziu à nacionalização apoiada pelo PR. Já estou como o outro, se toda esta nebulosa tivesse ocorrido com o Sócrates, garanto-te que a jornalada se esforçaria um pouquinho mais para apurar a verdade dos factos.
Raviolli,
A ininteligibilidade e o tavestismo parecem ser as principais características do personagem.Impossível de acompanhar.
Tu queres ver que é agora que se vai discutir os destinos do país aqui no blog?
Não será irrelevante. Mas, tendo em atenção que não houve um facto novo desde então, porque raio durante anos ninguém quis saber disto, e só o levanta agora? Se era mau ou criticável, por que raio pactuaram, para só se lembrarem agora?
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