sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Sobre os livros

E sobre a relação que temos com eles. E sobre a pirataria digital, claro.

Agora anda na moda o iPad. Que acho que dá para ler livros. O Kindle também dá para ler livros, aliás só dá para ler livros, acho. O iPad não, é tipo bimby, dá para tudo e mais um par de botas. Eu não tenho nem conto ter nenhum dos dois. Se fosse para ler, acho que preferia ter um iPad. Afinal se faz o mesmo que o outro e mais um monte de cenas giras, porque raio alguém optaria por um Kindle? Só há uma resposta possível. É que o Kindle é para quem gosta de ler (ia dizer livros, mas eu cá gosto de livros e por isso mesmo não acho piada ao Kindle); o iPad é para quem gosta de se armar aos cucos.
Acho que só conheço uma pessoa que tem um iPad. É o meu chefe. Anda o dia todo a brincar com aquilo em vez de trabalhar. Dá-lhe mais atenção do que à mulher e aos filhos. E acho que, desde que o comprou, o meu chefe é tipo parar ter dormido mais vezes com o iPad do que com a mulher.

Falo disto porque me apercebi que, na Amazon, em muitas situações sai mais caro comprar a versão digital de um livro (download, ou sacar, em português) do que comprar o livro propriamente dito, e tê-lo entregue na nossa casinha.
E isto é algo que não consigo entender. Em termos de custos, um download custa o quê? 30 cêntimos? 10? Nada?! É um ficheiro, já lá está, é só carregar no send ou que raio é e...voilá. Ou seja, custos virtualmente inexistentes para o vendedor. Já um livro é preciso, no mínimo, gastar guita na impressão e no papel, bem como na deslocação física do objecto.
É um mistério esta diferença.
Cheira-me que esta discrepância de preços só existe porque estão na moda e porque, com os livros digitais, a malta compra livros em barda. Vão ao site e "trazem" um monte deles. Não é preciso espaço nas estantes. É por isso que a malta acaba por não ligar ao monte de livros, tal como eu não ligo nenhuma a metade dos albuns que saco da net. É demasiado, e não há o compromisso físico de ter um objecto que, do tacto ao cheiro, reclama a nossa atenção. Eu já tenho a casa cheia de cd's, mas se estes fossem mais baratos deixava de gamar música na net. É inevitável que, com o objecto na mão, lhe dê mais atenção. A capa, o livrinho, onde o vou arrumar no meio dos outros, etc, um mundo de rituais que constroem a beleza que é ser um amante de livros e de discos.
Confesso que há outra coisa que não entendo. Se os e-books são tão bons, porque raio não há ainda pirataria a sério? Eu tenho outra teoria. Porque os e-books só são bons para meia dúzia de cromos (sei que estou a ofender a malta, mas enfim), que estão realmente empenhados em dar estilo com o seu Kindle.
Eu cá não me sinto minimamente atraído pelos e-books. Mas quando, ainda por cima, são mais caros que os livros a sério...not gonna happen.
Uma teoria dos Kindlemaniacs é que, assim, podem levar um monte de livros para todo o lado. Mas, sejamos realistas, será que nós vamos assim tão frequentemente para o Nepal, escalar o Evereste ou fazer férias na Amazónia profunda?

Eu adoro livros. Já ficheiros informáticos é coisa que me deixa muito indiferente.
No fundo, o que quero dizer é isto: o livro existe há tantas centenas de anos porque é uma coisa boa, útil, fácil. É básica e rudimentar, mas funciona. Será que estamos assim tão preguiçosos ou tecnocratas para precisarmos de uma forma mais fácil de ler um livro?

2 comentários:

. disse...

dois sucintos comentários ao teu post:

1. excelente escolha de livro. li o on the road em inglês versão de autor, difícil mas muito bom.

2. mesmo que queiram levar o tal aparelhómetro carregado de livros para o nepal, a vantagem é que um livro físico não fica sem bateria. só precisas da luz do sol para ler.

dito, estou do teu lado e não acho piada nenhuma a essas modernices. um livro, ou um cd, tem que se tocar, sentir e cheirar.

Little Bastard disse...

Obrigado, Du.
Queria escolher uma capa qualquer para ilustrar, e esta foi uma escolha óbvia. A descoberta do Kerouac, há muitos anos, foi como entrar num outro mundo, que me abriu portas para uma série de muitos outros autores.