E hoje, primeiro dia da nova legislatura, foi o dia de Fernando Nobre.
Será? Não será? Não foi.
Gostei muito de ver os deputados, entre as votações, andando descontraidamente pelo hemiciclo, na galhofa. Parecia o primeiro dia de escola, no qual houve ameaça de bomba e portanto não houve aulas. Nesta conjuntura, perdermos o primeiro dia da legislatura neste absurdo ritual medieval é, simbolicamente, um péssimo presságio.
E quanto a Nobre?
É muito difícil, hoje em dia, encontrar alguém com simpatia pelo tipo. Eu próprio, que votei nele para as presidenciais, nunca morri de amores por ele. E, obviamente, desde que se juntou ao Passos, tudo piorou.
Mas, ainda assim, a pergunta que, creio, devemos fazer a nós próprios é: preferimos o Guilherme Silva? O Mota Amaral? O inefável Jaime Gama? Qualquer uma destas ou de muitas outras mofentas e flatulentas personagens?
Pela minha parte, não.
Eu sei que o tipo é maluco, eventualmente no sentido clínico do termo. Eu sei que já foi de tudo sem ser de nada. Sei que cai mal a cena de "só vou se for para mandar naquilo". Eu sei isso tudo.
Uns justificam-no com o facto de não ser um tipo de consensos, capaz de unir os partidos. Talvez. Mas a verdade é que apoiou o Bloco há uns anos, depois foi candidato presidencial numa espécie de esquerda pardacenta e agora foi cabeça de lista do PSD. Sei que não era bem isso que se queria, mas isto é um tipo de abrangência. Não a que se esperaria, mas ao menos ninguém pode dizer que é um tipo de um partido, e que alienou os outros. Não é o cabrão do Lello ou do Santos Silva. Se calhar alienou foi toda a gente, um partido de cada vez...
Sei que a escolha de Passos foi maquiavélica. Queria votos e achava que se ia safar com Nobre. Não ganhou grande coisa com isso.
Mas, apesar das motivações, acho que seria simbolicamente importante que Nobre - ou qualquer pessoa com o mesmo perfil cívico e apartidário - fosse eleito para um lugar de destaque no Parlamento.
Porque os ventos são de mudança, e é errado e perigoso pensarmos que isso só é significativo ou verdadeiro nos votos portugueses dados à Direita. Não. Grécia, Espanha e, também, Portugal, mostram que temos de encontrar novas formas de fazer as coisas. As ruas não têm sempre razão, mas têm um significado, que seria desastroso ignorar.
E o que teve Nobre? Uma humilhação em pleno Parlamento. O tipo de fora, o outsider, o penetra, torturado, humilhado e alvo de um bullying cobarde e anónimo pelos "senhores deputados". Os de sempre. Os velhos e os novos, que querem desesperadamente e o mais rápido possível parecer-se com os velhos, para efeitos de "credibilidade", que eles confundem com "responsabilidade".
Nobre, simbolicamente, era a sociedade civil a meter o pé na porta do que é a coutada dos partidos. E estes, cruelmente, bateram-lhe com a porta na cara. "Não és daqui, não pertences aqui, não és um dos nossos". E um tipo que não é "um dos nossos" nunca poderia "mandar em nós". Que era o que eu gostaria de ver.
As análises políticas do dia (de onde raio saíram de repente tantos politólogos?!) estão todas, como esperado, no superficial. Todos salientam, salivando contentes de banalidades, que esta foi "a primeira derrota do Governo de Passos Coelho". Mas isto, na verdade, não passa de uma análise de fait-diver que não será sequer um rodapé na história política deste país.
Mais importante que tudo isso, e não vejo ninguém dizê-lo, é o que isto diz acerca do nosso sistema. É a primeira vez, desde o 25 de Abril, que o candidato proposto pelo partido mais votado é chumbado. Vão dizer-me que todos, mas todos, eram melhores e mais merecedores do que Fernando Nobre?
Não acredito.
Acontece que todos, uns mais e outros menos, eram parte do caldo cultural dos partidos e, mais esquema menos concessão, todos acabaram por ser aprovados.
Nobre foi castigado por se ter atrevido.
É nisto que, creio, devemos reflectir.
terça-feira, 21 de junho de 2011
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