terça-feira, 8 de julho de 2008

Faíscas

Na noite de domingo, como saberão, arderam dois prédios em plena Avenida da Liberdade. É só a avendida mais cara de Lisboa, em termos de preço do metro quadrado e onde se encontraram as lojas pretensamente mais exclusivas. O prédio onde começou o incêndio estava devoluto, vazio, abandonado, servindo de local de pernoita a alguns agarrados e sem abrigo. Há 4.600 edifícios devolutos em Lisboa, que dariam para a habitação de 25 mil pessoas. Só na avenida da Liberdade, são 65 km quadrados de espaço devoluto. Os bombeiros estiveram bem (foi impressionante vê-los a arriscar a vida empoleirados no edifício em chamas), as autoridades responderam depressa.
Mas o problema está lá, e é uma bomba relógio. Não apenas pelos incêndios, que qualquer dia se poderão tornar um problema pior, mas sim pelo que o centro da cidade (e não apenas o centro) vive, ou não vive. Ninguém lá mora. Há lojas, escritórios e prédios vazios, a cair de podre. Continuamos a expulsar pessoas para a periferia, esvaziando a cidade (parece um museu, só trabalha em horário de expediente), provocando em Lisboa e nos arredores engarrafamentos gigantes, com os custos associados ao nível da poluição, do tempo perdido e do dinheiro gasto em combustíveis por quem acha que fica muito mais barato ir morar para o subúrbio.
A resposta tem sido básica: taxar, a preços exorbitantes, o estacionamento em Lisboa, e a construção de cada vez mais estradas que tragam as pessoas, nos seus carros, para dentro de Lisboa.
A terceira travessia sobre o Tejo, cuja utilidade, de facto, desconheço por completo, vai trazer mais 2.500 carros por dia para a cidade, e isto não parece estranho a ninguém. A resposta é sempre penalizar quem traz o carro, os contribuintes, sacar-lhes mais umas massas. Quanto a resolver o problema, e fazer de Lisboa uma cidade realmente moderna, nem uma ideia.
Foi um só prédio, mas foi mais que isso.
Lisboa está devoluta.

3 comentários:

Anónimo disse...

Para uma Lisboa não devoluta:

1. Punição dos proprietários de casas devolutas, introduzindo no seu cérebro um chip que os obriga permanentemente a ouvir Tokio Hotel
2. Incentivos aos proprietários que reabilitem prédios degradados: introduzindo no seu cérebro um chip que cria um estado de euforia sexual permanente
3. Criação de uma bolsa de arrendamento no centro da cidade a custos controlados para gajas boas pobres, gajas boas ricas e gajas boas jovens

Anónimo disse...

Apoiado. Dispenso isso do chip no cérebro. Se me colocarem uma boazuda na ponta da pichota consigo o mesmo estado de euforia sexual.

Anónimo disse...

hoje a lisboa que não é devoluta é dos ricos e dos escritórios. e mesmo esses já acham dispensável estar no centro da cidade. lisboa é cada vez mais a cidade das 9h às 17h, atafulhada com carros da periferia. e há quem não só não se importe, como é o caso do governo, como ache que o faz realmente falta à cidade são mais umas centenas de carrinhos. então bora lá construir mais uma ponte! ou mais 3!