sábado, 19 de setembro de 2009

O disco da minha vida IV


1969. Os hippies estavam a dar as últimas, e o som inglês começava a tomar conta. Depois dos Beatles e dos Stones, uns anos antes, os sons mais pesados dos Led Zeppelin, Deep Purple e Black Sabath começavam a anunciar o que se seguiria, nos anos 70.
1992. Um puto do subúrbio recebe uma cassete mal gravada que muda a sua vida.
Estamos a falar dos Led Zeppelin, essa banda de hard-rock e blues com as letras mais parolas do mundo (dragões e o camandro) e o maior feeling que alguma vez saiu de um poderoso PA.

Todos os albums dos LZ são bons, exceptuando talvez os dois últimos, "Coda" e "In through the out door".
O "Led Zeppelin II" foi o primeiro deles que conheci, o que talvez explique o facto de, ainda hoje, ser o meu preferido da banda. Como aconteceu com tantos outros discos e bandas, foi o rapaz do estupefacto amarelo quem mo mostrou, de entre o espólio de música fixe do seu irmão mais velho. Na altura, eram os Doors que estavam a dar, mas os LZ eram diferentes. Todos queriam ser o Jim Morrison, ninguém queria ser alguém dos Zepp, pela simples razão que ninguém sabia quem eles eram. Era uma banda, uma verdadeira banda, e o som, a música, eram tudo o que era importante. Os quatro membros da banda eram de um poder incrível, individualmente, mas ultrapassava tudo quando estavam juntos. Um som intenso, coerente, surpreendente, poderoso.
E, num momento em que toda a gente começou a querer ser alternativa, ninguém sabia quem eram os LZ. Eram uma relíquia dos anos 70, um comboio-expresso chegado do passado a meio da noite. Eram, enfim, rock n roll como nunca conhecera, e como nunca soubera que era possível existir.
É, de todos os discos deles, o mais completo, aquele no qual todos os membros têm os seus momentos brilhantes e espaço para o mostrar, dentro do som coerente da banda. É também a primeira vez que uma band de hard-rock mostra o que era possível fazer no estúdio. A produção é suja mas fabulosa, com ecos, reverb, feedback, tudo e mais alguma coisa. Em resumo, uma viagem de montanha-russa de rock e blues, com toda a energia de uns AC/DC, mas com 10 mil vezes mais criatividade.

É o disco de Whole Lotta Love, que abre o album, mas todas as músicas são excelentes. Destaco a drogada "The Lemon Song", com Robert Plant a bombar na harmónica, a relaxada "What is and what should never be", a histórica Moby Dick com John Bonham a mostrar por que razão foi o melhor baterista rock de sempre, bem, todas as músicas, realmente.

Não me apaixonei, não sofri, não encontrei subitamente o meu lugar na vida com este disco. Não foi preciso nada disso para, ainda hoje, ser um dos discos da minha vida. Era acerca do som, e sempre foi acerca do som.
Um dia, levava a cassete no walkman, tinha calçadas as botas que eu achava que pareciam de cowboy. A descer a rua, a caminho da escola, senti-me um homem. E ouvir este disco, em alto volume, leva-me ´lá outra vez.

Ramble On!!

2 comentários:

o homem do estupefacto amarelo disse...

Por mais que injecte nas minhas frágeis veias doses exageradas de Gang of four, Wire, Hives, Dead Kennedys, Libertines, Jam, My Bloody Valentine e Ramones, o melhor álbum de rock será sempre o Led Zeppelin II, 41 minutos e 24 segundos absolutamente perfeitos (mesmo o Jeff Buckley prolongava eternamente a produção dos seus discos para superar o Led Zeppelin II- não o conseguiu). Se eu fosse primeiro-ministro instituiria o "what is and what should never be" (com o riff de guitarra do Jimmy Page a deambular da coluna esquerda para a coluna direita, da coluna direita para a coluna esquerda, numa harmonia perfeita entre guitarra, baixo, bateria e voz) como novo hino nacional e obrigaria todas as criancinhas a cantarem-no antes de começar as aulas. Ramble on.

Anónimo disse...

"Coda" é basicamente um álbum de outtakes, compreende-se que não seja grande coisa e "In Through The Outdoor", apesar da prevalência algo descaracterizadora dos teclados, tem um grande épico, "Carouselambra".

Para mim o melhor é "Physical Graffitti", que é duplo, ainda por cima. Também aprecio muito a primeira metade de "Presence". Mas toda a discografia dos Zeppelin, com a excepção desses dois últimos álbuns e da última metade de "Presence" ("Tea For One", por exemplo, é uma caricatura deles mesmos), é muito boa.