Deu hoje grande brado uma notícia do Correio da Manhã de que a Águas de Portugal (AdP), empresa pública, comprou 400 carros de grande cilindrada para os seus administradores e quadros de topo.
Mas isto só é surpresa para quem anda desatento.
Em Portugal há uma filosofia: quem é chefe tem que ser bem tratado. Tem de ter carro, gasolina, telemóvel e cartão de crédito. Mais secretária, de preferência boa e que saiba fazer broches.
Em qualquer grande empresa, na grande maioria das médias empresas e até em muitas pequenas, o director, o gestor, o senhor engenheiro, é Deus. Ganha muito bem, muito acima de toda a gente que efectivamente produz, mas em cima disso tem as chamadas "regalias". A teoria é de que é preciso dar muito dinheiro e mordomias aos chefes, para se poder atrair e reter "os melhores". É a mesma coisa que os deputados da Assembleia da República. É para mim um escândalo que não haja obrigatoriedade de exclusividade nessa função. Eles lá vão sendo advogados, gestores, etc, enquanto são deputados, porque isso é "atrair os melhores". Porque se assim não fosse, "os melhores" não quereriam ser deputados, porque "ganham mais no privado".
Ponto 1 - se o objectivo é lucrar, estamos conversados sobre o sentido de serviço público desta gente
Ponto 2 - este modelo já demonstrou que não é assim que se atrai os melhores. Atrai-se os corruptos, os gananciosos, os boys dos interesses
Ponto 3 - estes senhores, coitaditos, fazem dois mandatos e, tenham a idade que tiverem, papam logo uma choruda reforma
Ponto 4 - estes senhores ainda têm direito a uma coisa fantástica chamada "subsídio de reintegração", quando saem de deputado. Por, coitados, terem passado uns anos num sítio - que lhes permite continuar a trabalhar - onde fazem contactos e movem influências que lhes dão rendimentos para o resto da vida.
Na minha empresa, há vários directores. Muitos ganham mais de 5 mil euros limpos por mês, e têm direito a carro da empresa, que levam para casa, de férias, etc. Muitos funcionários ganham 500 euros, e é desse dinheiro que tiram o passe. Já os chefes, que naturalmente são quem mais condições têm para comprar os seus grandes carros, têm carros à borla, pagos pela empresa. E depois não há dinheiro para aumentos.
A questão é que o rei vai nu. Vou fazer uma inconfidência: se retirarem estas "regalias" todas, os chefes não se vão embora. Ninguém lhes pega. São fraquíssimos. São medíocres. Só um país liderado há décadas por elites de merda é que chegaria a este estado de pré-falência. Se eles são assim tão brilhantes, por que raio isto está na merda?...
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
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1 comentário:
reproduzi a tua última frase, com o devido reconhecimento do autor e link.
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