Fechadas as candidaturas aceites, o grande Candidato Vieira voltou a ficar de fora. Foi pena, pá.
Mas, como até aqui, serás sempre o meu presidente.
Disseste que só desistias de fosses eleito. Como tal, não desistas, senhor presidente!
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
Man...
...eu podia perdoar-te seres um merdas, seres um falso livre do PS, um burguês armado ao revolucionário, um capacho do Sócrates, etc, etc.
Podia perdoar-te quase tudo.
Menos o que se passou hoje, que foi tu conseguires levar um baile de 15-0 de uma nulidade intelectual como Cavaco Silva.
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
Ground Zero
A esmagadora maioria dos ministros deste Governo é má, ainda pior que o seu medíocre líder. Mas há uns que, para além de maus, são idiotas.
É o caso de Rui Pereira.
Para quem não sabe, diz que é ministro da Administração Interna. E é um senhor que acha que todos são parvos, tal como todos os membros do governo acham que todos os portugueses são parvos (e são, meteram-nos lá). E este senhor acha também que não tem que falar ou dar esclarecimentos sobre os assuntos da sua responsabilidade política. Depois da rábula dos blindados, que eram "essenciais para a segurança dos cidadãos", e que vinham para a cimeira da Nato e ainda não chegaram, agora já não queremos essa merda para nada. Como passou o prazo da entrega, já não são essenciais para nada. O Estado denunciou o contrato, e bem, embora obviamente nunca devesse ter sequer feito a encomenda. E agora o senhor acha que não tem nada que responder sobre este assunto.
Hoje, pela décima-quinta vez na última semana, recusou-se de novo a falar. Foi a uma iniciativa qualquer absolutamente irrelevante, mas insistia que ali só falava naquela coisa irrelevante que ninguém sabe, nem ele, o que é.
Vejam bem este vídeo, que infelizmente não é a versão integral, e digam-me lá se este senhor não tem, claramente e com urgência, de ser internado...
É o caso de Rui Pereira.
Para quem não sabe, diz que é ministro da Administração Interna. E é um senhor que acha que todos são parvos, tal como todos os membros do governo acham que todos os portugueses são parvos (e são, meteram-nos lá). E este senhor acha também que não tem que falar ou dar esclarecimentos sobre os assuntos da sua responsabilidade política. Depois da rábula dos blindados, que eram "essenciais para a segurança dos cidadãos", e que vinham para a cimeira da Nato e ainda não chegaram, agora já não queremos essa merda para nada. Como passou o prazo da entrega, já não são essenciais para nada. O Estado denunciou o contrato, e bem, embora obviamente nunca devesse ter sequer feito a encomenda. E agora o senhor acha que não tem nada que responder sobre este assunto.
Hoje, pela décima-quinta vez na última semana, recusou-se de novo a falar. Foi a uma iniciativa qualquer absolutamente irrelevante, mas insistia que ali só falava naquela coisa irrelevante que ninguém sabe, nem ele, o que é.
Vejam bem este vídeo, que infelizmente não é a versão integral, e digam-me lá se este senhor não tem, claramente e com urgência, de ser internado...
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
Bons exemplos
Neste mundo de downloads gratuitos, cada vez compro menos cds, como toda a gente. Mas a verdade é que até tenho comprado mais coisas em português, o que se explica facilmente: não se encontra facilmente na net; normalmente são mais baratos; e um gajo sempre ajuda um camarada tuga.
Nas últimas semanas comprei o "Romance/Hardcore" dos Corações de Atum, o "Nada a Esconder" dos Tara Perdida, "Are you ready for the blackout" dos X-Wife, "Casa Ocupada" dos Linda Martini, "Madrugada" dos Peixe:Avião e "Deve Haver" de Nuno Prata.
Para além da vitalidade que se vê no aparecimento de boas bandas portuguesas, ouvindo pelo menos estes três últimos nomes, pode ver-se quão grande foi a influência dos grandes Ornatos Violeta, dos quais Nuno Prata foi baixista. Música (quase toda) feita em português, feita de forma não básica, inspirada, dura e doce. Enfim, coisas boas para ouvir, ou redescobrir.
Deixo-vos um tema do óptimo disco do Nuno Prata. Custa 11 euros na Fnac. E vale muito a pena.
PS - JP Simões prepara-se para editar novo disco. Se for tão bom como "1970" será uma compra segura.
Nas últimas semanas comprei o "Romance/Hardcore" dos Corações de Atum, o "Nada a Esconder" dos Tara Perdida, "Are you ready for the blackout" dos X-Wife, "Casa Ocupada" dos Linda Martini, "Madrugada" dos Peixe:Avião e "Deve Haver" de Nuno Prata.
Para além da vitalidade que se vê no aparecimento de boas bandas portuguesas, ouvindo pelo menos estes três últimos nomes, pode ver-se quão grande foi a influência dos grandes Ornatos Violeta, dos quais Nuno Prata foi baixista. Música (quase toda) feita em português, feita de forma não básica, inspirada, dura e doce. Enfim, coisas boas para ouvir, ou redescobrir.
Deixo-vos um tema do óptimo disco do Nuno Prata. Custa 11 euros na Fnac. E vale muito a pena.
PS - JP Simões prepara-se para editar novo disco. Se for tão bom como "1970" será uma compra segura.
Como foder completamente uma boa ideia
Em Portugal só há duas maneiras de fazer as coisas: ou se perde o tempo todo em estudos exaustivos e acaba por não se fazer nada, ou se avança porque sim, sem pensar bem as coisas, e dá merda.
O nosso amigo António Costa, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, parece ser partidário desta segunda via.
Mas já me incomoda um bocado isso me ter feito perder duas horas dentro do carro, a mim e a milhares de pessoas. Tudo por uma simples razão: ninguém avisou que a via mais central e importante de Lisboa ia estar cortada para uns tipos de calças de lycra darem umas corridas. Não só ninguém avisou como, nas ruas à volta, não havia qualquer sinalização. Ou seja, um gajo tinha de cair que nem um patinho na armadilha, de onde só conseguia sair duas horas depois. Se soubesse teria ido de metro, algo que faria se fosse dia de semana ou se soubesse que iam paralisar a cidade desde o Marquês até ao rio.
No meu caso, desci do Príncipe Real até à Alexandre Herculano, para depois atravessar a Avenidade da Liberdade. Mas esta estava fechada, pelo que mandaram milhares de carros para a rua lateral, que só tem uma via. Mais genial ainda, ia-se descendo obrigatoriamente a rua e...éramos obrigados a subir para a Praça da Alegria, que me levou de volta ao ponto de partida, o Príncipe Real. Tirando o facto de eu ter perdido duas horas, entretanto.
Na Avenida da Liberdade eu até vi polícias. Estavam a guardar os cones que tapavam a avenida, para o caso de alguém os queres roubar. Quando, num tom obviamente pouco calmo, perguntei que raio de merda era aquela e se não teria sido melhor avisar os condutores, o senhor polícia zangou-se comigo porque eu não estava a circular!
Eu queria circular, caralho! Eu queria circular para casa! Mas durante duas horas obrigaram-me a circular, a um à hora, num percurso que inevitavelmente me levou ao mesmo sítio!
Desde que chegou à Câmara, António Costa destacou-se por três coisas: tentar equilibrar financeiramente a autarquia (indo aos bolsos à malta), foder ainda mais o trânsito e a cabeça aos condutores (esses criminosos!) e, por último, parvoíces tipo dia sem carros/Red Bull Air Race e coisas assim.
Nas cidades civilizadas também há corridas. E dias sem carros. E concertos na rua, e animação e tudo e tudo e tudo. Isso é bom. Mas também há competência, que é coisa que claramente falta na Câmara de Lisboa. Era simples: era avisar. Mas os senhores estavam demasiado ocupados a descer a rua aos saltinhos, para aparecer na fotografia.
Isto não surpreende vindo deste xamussas. Um tipo que ganhou a Câmara assente na ideia de trazer mais habitantes para a cidade e cuja primeira medida, já eleito, foi aumentar brutalmente todos os impostos (directos e indirectos) que incidem sobre os munícipes. Ele gosta é de circo e palhaçada. E de fingir que faz. A eficiência não é impossível, nem sequer é difícil. É só pensar um bocadinho nas coisas, senhor presidente da Câmara.
Já agora, achei muita piada aos grandes e saudáveis desportistas que, terminada a bela corridinha, se apressaram todos a entrar nos seus automóveis (!) estacionados na zona da Baixa, provocando outro engarrafamento monstro. É bem feito.
O nosso amigo António Costa, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, parece ser partidário desta segunda via.
Vem isto a propósito de, ontem, eu ter passado duas horas entalado num engarrafamento monstro na cidade de Lisboa. Sim, num domingo à tarde.
Eu explico, depois de ter percebido.
Parece que há uma coisa que é a "Corrida de São Silvestre", uma prova de atletismo que, em todo o mundo, se disputa nas primeiras horas de cada ano. Ou seja, logo à seguir à passagem de ano. Em todo o mundo? Não, porque duas irredutíveis aldeias lusitanas - Lisboa e Porto - decidiram que este ano já não era assim: era a dia 26 e à tarde. E mai nada. Infelizmente não choveu.
Atenção, eu acho a coisa um bocado apalhaçada, mas não tenho nada contra. A malta quer correr no centro da cidade? Tá-se bem, força nisso.Mas já me incomoda um bocado isso me ter feito perder duas horas dentro do carro, a mim e a milhares de pessoas. Tudo por uma simples razão: ninguém avisou que a via mais central e importante de Lisboa ia estar cortada para uns tipos de calças de lycra darem umas corridas. Não só ninguém avisou como, nas ruas à volta, não havia qualquer sinalização. Ou seja, um gajo tinha de cair que nem um patinho na armadilha, de onde só conseguia sair duas horas depois. Se soubesse teria ido de metro, algo que faria se fosse dia de semana ou se soubesse que iam paralisar a cidade desde o Marquês até ao rio.
No meu caso, desci do Príncipe Real até à Alexandre Herculano, para depois atravessar a Avenidade da Liberdade. Mas esta estava fechada, pelo que mandaram milhares de carros para a rua lateral, que só tem uma via. Mais genial ainda, ia-se descendo obrigatoriamente a rua e...éramos obrigados a subir para a Praça da Alegria, que me levou de volta ao ponto de partida, o Príncipe Real. Tirando o facto de eu ter perdido duas horas, entretanto.
Na Avenida da Liberdade eu até vi polícias. Estavam a guardar os cones que tapavam a avenida, para o caso de alguém os queres roubar. Quando, num tom obviamente pouco calmo, perguntei que raio de merda era aquela e se não teria sido melhor avisar os condutores, o senhor polícia zangou-se comigo porque eu não estava a circular!
Eu queria circular, caralho! Eu queria circular para casa! Mas durante duas horas obrigaram-me a circular, a um à hora, num percurso que inevitavelmente me levou ao mesmo sítio!
Desde que chegou à Câmara, António Costa destacou-se por três coisas: tentar equilibrar financeiramente a autarquia (indo aos bolsos à malta), foder ainda mais o trânsito e a cabeça aos condutores (esses criminosos!) e, por último, parvoíces tipo dia sem carros/Red Bull Air Race e coisas assim.
Nas cidades civilizadas também há corridas. E dias sem carros. E concertos na rua, e animação e tudo e tudo e tudo. Isso é bom. Mas também há competência, que é coisa que claramente falta na Câmara de Lisboa. Era simples: era avisar. Mas os senhores estavam demasiado ocupados a descer a rua aos saltinhos, para aparecer na fotografia.
Isto não surpreende vindo deste xamussas. Um tipo que ganhou a Câmara assente na ideia de trazer mais habitantes para a cidade e cuja primeira medida, já eleito, foi aumentar brutalmente todos os impostos (directos e indirectos) que incidem sobre os munícipes. Ele gosta é de circo e palhaçada. E de fingir que faz. A eficiência não é impossível, nem sequer é difícil. É só pensar um bocadinho nas coisas, senhor presidente da Câmara.
Já agora, achei muita piada aos grandes e saudáveis desportistas que, terminada a bela corridinha, se apressaram todos a entrar nos seus automóveis (!) estacionados na zona da Baixa, provocando outro engarrafamento monstro. É bem feito.
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
Choque de Naftalina
Anda pela Sic Radical um programa de humor chamado "Gente da Minha Terra", da autoria deste tipo aqui ao lado, que parece que tem a barba desenhada a caneta de feltro. O rapaz chama-se Rui Sinel de Cordes, embora eu ao pesquisar na net lhe tenha chamado Rui Cordel de Sines (honest mistake).
Quem já viu o programa, sabe o que o espera: o senhor anda pelo país, visitando localidades, e gozando alarvemente com elas. O que me parece um óptimo ponto de partida para um programa de humor, ou de qualquer outro tipo.
Acontece que a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (a bafienta ERC) recebeu uma série de queixas de gente que, só pode, se leva demasiado a sério e se considerou ofendida pelas declarações proferidas no programa. Num deles, piadas de mau gosto sobre o Rui Pedro (a criança que desapareceu há uma data de anos) e sobre as vítimas de Entre-os-Rios. Noutro, sobre os Açores, focou o estereótipo de que naquele arquipélago as mulheres são todas horrorosas, abunda a violência doméstica e que na ilha Terceira há uma concentração anormalmente alta de homossexuais.
Por tudo isto, vem a ERC dar razão às queixas, recomendando à Sic Radical que se abstenha de emitir episódios que ofendam a dignidade humana, etc, etc (a decisão pode e deve ser consultada aqui, é hilariante).
Acontece que a própria ERC, que emprega centenas de tipos pagos com o nosso dinheiro e que na prática serve para muito pouco, cai numa (aliás, várias) contradição muito interessante. Diz que ofende a dignidade do povo da Terceira dizer que lá são todos paneleiros, mas depois acusa o programa de ter um tom homofóbico. Ou seja, diz que o programa dá uma visão negativa da homossexualidade, o que é errado; mas quando isso se aplica a alguém, está mal, porque aparentemente é ofensivo dizer-se que alguém é homossexual. Meus amigos, vamos lá a ver se a gente se entende. Se a ERC considera ofensivo dizer que alguém é homossexual, não estará a própria ERC a ser discriminatória e preconceituosa, e como tal a praticar aquilo que critica?
Mas enfim, esta é apenas mais uma decisão absurda da ERC. É uma espécie de comité bafiento e pidesco, que não faz o que deve fazer (por exemplo, controlar como deve ser o cumprimento da programação anunciada ou os tempos de publicidade ou as perigosíssimas relações entre os media e o poder económico) e se dedica quase exclusivamente a fazer de guardião dos bons costumes. Basta lembrar a decisão de obrigar ao cancelamento da pronografia gratuita na TV Cabo, algo que, de uma penada, fez retroceder a democracia portuguesa uns 15 anos.
O problema de "Gente da Minha Terra" não é ser ofensivo, que até é. E é parvo, estúpido, imaturo, preconceituoso, etc, etc, tudo coisas que fazem boa comédia.
O problema do programa é não ter piada nenhuma.
Suspeito que algumas piadas até podiam ter piada, se fossem ditas/contadas por outra pessoa. O rapaz esforça-se e tal, mas sempre num estilo de puto estúpido que acaba por não agarrar o espectador. Eu acredito sempre que este tipo de humor negro, parecido com o do Bruno Nogueira, por exemplo, deve ser complementado com um tom auto-depreciativo, o que ajuda o espectador a não ficar com a ideia de que está ali um merdas que se acha melhor que toda a gente.
O programa não tem piada, e é apenas mais um exemplo da série de coisas que apareceram depois do boom dos Gato Fedorento. Com a valiosa excepção dos "Contemporâneos" (que também gozava, e bem, com muita coisa) e do Aleixo, tudo o resto que apareceu foi um bocado merdoso. Alguns tinham boas ideias e falhavam na concretização, outras tinham até produção mas falta de material humorístico. Já agora, o Unas sempre foi uma merda, não é de agora.
Mas não ter piada não é crime. Vejo um genial programa como o Daily Show e sei que, se fosse neste oásis de desenvolvimento que é Portugal, a ERC já teria mandado fechar. Porque quer defender a moral e os bons costumes, dos quais acha que é representante, apesar de não ter mandato para isso. Até o nome do seu presidente - Azeredo Lopes - cheira a velho, a naftalina, a Estado Novo. Há quantos anos os senhores da ERC não mandam uma foda bem dada? Talvez ajudasse...
Para concluir, apenas uma pergunta: como se pode acusar este programa de ofender a dignidade humana e não dizer nada de "Tardes da Júlia", Fátimas Lopes, Gouchas e essas merdas, em que tudo é exploração de tragédia e boçalidade?
Se calhar porque, apesar disso, esses programas servem para perpetuar a ideia de um povo português "pobre mas honrado", "de brandos costumes", "pequenino mas trabalhador", etc, etc. Valores que a ERC, na sua bolha temporal, tanto preza.
Quem já viu o programa, sabe o que o espera: o senhor anda pelo país, visitando localidades, e gozando alarvemente com elas. O que me parece um óptimo ponto de partida para um programa de humor, ou de qualquer outro tipo.
Acontece que a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (a bafienta ERC) recebeu uma série de queixas de gente que, só pode, se leva demasiado a sério e se considerou ofendida pelas declarações proferidas no programa. Num deles, piadas de mau gosto sobre o Rui Pedro (a criança que desapareceu há uma data de anos) e sobre as vítimas de Entre-os-Rios. Noutro, sobre os Açores, focou o estereótipo de que naquele arquipélago as mulheres são todas horrorosas, abunda a violência doméstica e que na ilha Terceira há uma concentração anormalmente alta de homossexuais.
Por tudo isto, vem a ERC dar razão às queixas, recomendando à Sic Radical que se abstenha de emitir episódios que ofendam a dignidade humana, etc, etc (a decisão pode e deve ser consultada aqui, é hilariante).
Acontece que a própria ERC, que emprega centenas de tipos pagos com o nosso dinheiro e que na prática serve para muito pouco, cai numa (aliás, várias) contradição muito interessante. Diz que ofende a dignidade do povo da Terceira dizer que lá são todos paneleiros, mas depois acusa o programa de ter um tom homofóbico. Ou seja, diz que o programa dá uma visão negativa da homossexualidade, o que é errado; mas quando isso se aplica a alguém, está mal, porque aparentemente é ofensivo dizer-se que alguém é homossexual. Meus amigos, vamos lá a ver se a gente se entende. Se a ERC considera ofensivo dizer que alguém é homossexual, não estará a própria ERC a ser discriminatória e preconceituosa, e como tal a praticar aquilo que critica?
Mas enfim, esta é apenas mais uma decisão absurda da ERC. É uma espécie de comité bafiento e pidesco, que não faz o que deve fazer (por exemplo, controlar como deve ser o cumprimento da programação anunciada ou os tempos de publicidade ou as perigosíssimas relações entre os media e o poder económico) e se dedica quase exclusivamente a fazer de guardião dos bons costumes. Basta lembrar a decisão de obrigar ao cancelamento da pronografia gratuita na TV Cabo, algo que, de uma penada, fez retroceder a democracia portuguesa uns 15 anos.
O problema de "Gente da Minha Terra" não é ser ofensivo, que até é. E é parvo, estúpido, imaturo, preconceituoso, etc, etc, tudo coisas que fazem boa comédia.
O problema do programa é não ter piada nenhuma.
Suspeito que algumas piadas até podiam ter piada, se fossem ditas/contadas por outra pessoa. O rapaz esforça-se e tal, mas sempre num estilo de puto estúpido que acaba por não agarrar o espectador. Eu acredito sempre que este tipo de humor negro, parecido com o do Bruno Nogueira, por exemplo, deve ser complementado com um tom auto-depreciativo, o que ajuda o espectador a não ficar com a ideia de que está ali um merdas que se acha melhor que toda a gente.
O programa não tem piada, e é apenas mais um exemplo da série de coisas que apareceram depois do boom dos Gato Fedorento. Com a valiosa excepção dos "Contemporâneos" (que também gozava, e bem, com muita coisa) e do Aleixo, tudo o resto que apareceu foi um bocado merdoso. Alguns tinham boas ideias e falhavam na concretização, outras tinham até produção mas falta de material humorístico. Já agora, o Unas sempre foi uma merda, não é de agora.
Mas não ter piada não é crime. Vejo um genial programa como o Daily Show e sei que, se fosse neste oásis de desenvolvimento que é Portugal, a ERC já teria mandado fechar. Porque quer defender a moral e os bons costumes, dos quais acha que é representante, apesar de não ter mandato para isso. Até o nome do seu presidente - Azeredo Lopes - cheira a velho, a naftalina, a Estado Novo. Há quantos anos os senhores da ERC não mandam uma foda bem dada? Talvez ajudasse...
Para concluir, apenas uma pergunta: como se pode acusar este programa de ofender a dignidade humana e não dizer nada de "Tardes da Júlia", Fátimas Lopes, Gouchas e essas merdas, em que tudo é exploração de tragédia e boçalidade?
Se calhar porque, apesar disso, esses programas servem para perpetuar a ideia de um povo português "pobre mas honrado", "de brandos costumes", "pequenino mas trabalhador", etc, etc. Valores que a ERC, na sua bolha temporal, tanto preza.
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
Magic the Gathering
As pessoas acusam-me de ser cínico por não cair na patranha da magia da paternidade, de que tudo passou a ser lindo, de que sou uma pessoa totalmente diferente, blá blá blá.
É um bocado lixado focar-me nisso quando hoje, às 9h30 da manhã e depois de mais uma noite em branco, estava na farmácia a levar uma lição sobre as diferenças entre uma sonda anal e um clister.
E mais espectacular ainda: quando finalmente cheguei a casa, a xavala tinha finalmente acabado de se cagar.
É um bocado lixado focar-me nisso quando hoje, às 9h30 da manhã e depois de mais uma noite em branco, estava na farmácia a levar uma lição sobre as diferenças entre uma sonda anal e um clister.
E mais espectacular ainda: quando finalmente cheguei a casa, a xavala tinha finalmente acabado de se cagar.
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
Vergonha Mínima Nacional
Há coisas que, de tão previsíveis, perdem a pouca piada que poderiam, hipoteticamente, ter.
Tudo isto, da parte dos patrões e do governo, é apenas a prova que faltava - se é que faltava - de qual o modelo que se pretende para Portugal e para os portugueses. O modelo dos salários baixos, da chantagem sobre os trabalhadores, das falinhas mansas e dos pseudo-compromissos nacionais que aproveitam sempre aos mesmos.
Ainda haverá quem não queira ver?...
A novela do salário mínimo parece um daqueles enredos da TVI, em que desde o princípio já se percebeu o fim mas eles lá vão enchendo o chouriço, com voltas e reviravoltas de enredo que não convencem ninguém. Infelizmente, nesta novela do Governo, há a Helena André em vez das mamas da Rita Pereira ou de qualquer moranguita de 15 anos.
Isto vinha a ser preparado há muito tempo. Perante os sinais que se avolumavam, os cabrões dos jornalistas tiveram a ousadia de fazer o seu trabalho e perguntar repetidamente aos ministros se seria mantido o COMPROMISSO FORMAL de aumentar o salário mínimo para os 500 euros. Todos eles fugiram à questão, atiraram areia para os olhos da malta, enfim, fizeram o que esta malta xuxa está habituada a fazer, tratar todos como idiotas. Para o desfecho que se conhece hoje. O salário mínimo nacional aumenta uns generosíssimos 10 euros, um luxo. E fica 15 euros abaixo do que estava acertado por toda a gente: sindicatos, patrões, governo.
Tudo normal, portanto.
Há várias coisas que merecem ser salientadas neste dia de mais um episódio negro de política "socialista".
Em primeiro lugar a total ausência de Sócrates. Como tem sido cada vez mais comum, ninguém o viu, deixando Helena André e Vieira da Silva a entreterem o pagode com a velha rábula de "quantos ministros são precisos para mudar uma lâmpada/enrabar o povo". Depois, a postura tradicionalmente corajosa da UGT. Depois de um devaneio extremista no apoio à Greve Geral, vem agora assinar tudo, dizer que não faz mal, é na boa. E João Proença, esse gnomo da floresta, tem a desfaçatez de dizer, hoje, que "valeu a pena fazer a Greve Geral". Indeed.
Depois, a inefável Helena André. Esta senhora, que nos tempos de juventude/espinha dorsal era uma feroz sindicalista, está feita uma grande ministra xuxalista. Consegue negar todas as evidências, anunciar a morte com um sorriso, cagar com cheiro a malmequeres. Hoje apareceu, toda contente, a dizer que o Governo mantinha o compromisso de atingir o salário mínimo de 500 euros em 2011, tentando com uma vergonhosa questão de semântica fingir que não tinha quebrado um compromisso. Mais uma vez, os inconscientes dos jornalistas perguntaram que raio isso quer dizer. E a senhora, toda abespinhada com a irreverência das questões, lá veio dizer que, até Outubro, isso ia acontecer. Não vou sequer perder tempo a dissertar sobre o valor da palavra de qualquer dirigente xuxalista. Quero apenas reter o ar de satisfação com que ela disse isto, qual "Santa's Little Helper" obesa, ficando indignada por o seu anúncio não ter levado, no mínimo, ao lançamento de foguetes e a um ou outro peidinho de emoção. Agora vai ao cu ao povo, ao contrário do que tinha dito, e promete dar a pomadinha até Outubro. E esta merda deste povo mal-agradecido ainda faz cara feia?!
Por último, o boss dos patrões, cujo nome me escapa. Omitiu qualquer explicação sobre o motivo pelo qual é incomportável para uma empresa gastar mais 15 euros mensais nos salários mais baixos dos seus trabalhadores. Ainda bem que omitiu. A única coisa que digo é: se uma empresa arrisca falir se pagar mais 15 euros mensais aos seus trabalhadores que menos recebem, então que abra falência. Chega de chantagem e de palhaçada.
Veio explicar o senhor que, nos últimos anos, o salário mínimo nacional aumentou 18%, e que a produtividade não beneficiou dessa melhoria. Voltamos à velha questão. Em todo o mundo, os portugueses são vistos como bons trabalhadores, e em todos os ramos, dos mais simples aos mais qualificados. Ou seja, não temos uma predisposição genética para a falta de produtividade. Mas cá não há produtividade. Será que é porque cá os "patrões" são portugueses, mais preocupados em comprar o novo Mercedes do que em fazer a sua empresa crescer sustentadamente?Tudo isto, da parte dos patrões e do governo, é apenas a prova que faltava - se é que faltava - de qual o modelo que se pretende para Portugal e para os portugueses. O modelo dos salários baixos, da chantagem sobre os trabalhadores, das falinhas mansas e dos pseudo-compromissos nacionais que aproveitam sempre aos mesmos.
Este é o mundo de Sócrates, esse grande "socialista". Que tem sonhos molhados com o capital. Que vive num mundo de Ruis Pedros Soares, Varas e Mexias, em que os amigos são pagos a peso de ouro, explorando aqueles que, no dia a dia e no contacto com os clientes, trabalham no duro para encher o cu a umas dúzias de CEO's, tipos tão geniais, mas tão geniais que ninguém lhes pega sem ser por favor político. Sócrates, esse pacóvio armado em gestor, vê os de baixo como uma massa homogénea e sem rosto, cujo único papel é trabalhar, trabalhar, trabalhar. Porque, na sua visão mesquinha e provinciana, quem dá valor acrescentado, quem é realmente bom, são os seus amigos CEO. Esses sim, precisam de tudo, coitadinhos.
Os outros são uma coisa apenas: carne para canhão.Ainda haverá quem não queira ver?...
Sporting Clube os Belenenses
E a solução é...José Couceiro.
Para quando algo de verdadeiramente revolucionário, tipo o Norton de Matos?
Para quando algo de verdadeiramente revolucionário, tipo o Norton de Matos?
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
Wiki-Waka
Anda tudo maluco com o Wikileaks. Com as histórias, os fait-divers, os processos do Assange, etc.
A minha posição é simples: estou a adorar e acho tudo muito bem.
Vamos por partes.
No que toca à correspondência consular da rede norte-americana, ou seja, dos seus embaixadores com a casa-mãe em Washington, há ali de tudo: tricas, irrelevâncias e bombas noticiosas de inegável interesse público.
A primeira coisa que me surpreendeu foi ver que, afinal, os embaixadores e quejandos afinal fazem qualquer coisa. Eu pensava que eles era só mamar, dar um cocktail por ano e estava feito. Afinal não. Eles lêem jornais, estabelecem contactos e depois reportam ao governo norte-americano. Já é refrescante saber que fazem alguma coisa, ainda que sirvam para muito pouco. E depois esforçam-se a escrever. Aquilo que me surpreende é que haja alguém, nos states, interessado em ler que o Alegre é um "dinossauro esquerdista" ou que o Cavaco é assaltado por espasmos incontroláveis de cada vez que está na mesma divisão que um bolo-rei. Eu gosto de ler estas palhaçadas, mas acho que é tempo perdido de quem as escreveu e de quem as divulga.
Mas depois há o resto. Os voos da CIA (isto tá tão mal contadinho....), o caso BCP-Irão, etc, etc. Coisas muito relevantes e das quais não saberíamos se não fossem estas "fugas".
Anda muita malta, como o Portas, acenando com o argumento de que os documentos são confidenciais e que a sua divulgação é um crime. É a mesma coisa que com as escutas do Apito Dourado ou do Sócrates a fazer trafulhices. Defendo o que sempre defendi: divulgação total e eles que se fodam.
Uma coisa é a vida privada, e aquilo que se liga exclusivamente a isso. É irrelevante institucionalmente e não merece ser devassada. Outra coisa são assuntos de inegável interesse público, no sentido em que acarretem, ou devam acarretar, uma responsabilização política ou ética/social por parte de titulares de cargos de interesse público.
Como já disse muita vez, a violação do segredo de justiça tem um grande condão: coloca os humildes na mesma posição que os poderosos, no que toca ao fundamental acesso à informação. São incontáveis os casos de Varas, Pintos da Costa, Paulos Pedrosos e Fátimas Felgueiras que tiveram acesso a informação privilegiada, e que com isso beneficiaram. Não vejo ninguém ir atrás disso. Mas quando a violação do segredo de justiça se destina a colocar todos no mesmo ponto de acesso à informação, cai o Carmo e a Trindade. E isto não aceito.
Eu quero saber. Não por curiosidade, não por voyeurismo. Mas porque há muita gente no mundo com muito poder, que ganha muito dinheiro e que tem uma vida muito mais fácil que 99,9% dos outros habitantes. No mínimo, a sua actuação tem que ser transparente e tem que ser conhecida. Porque se não conseguem exercer a sua actividade de forma limpa e clara, que saiam e dêem a vaga a outros.
O mundo anda há demasiado tempo a ser comido à bruta por uma pseudo-elitezinha de merda que vai sempre escondendo a sua mediocridade e o horror do seu comportamento atrás de segredos e regras burocráticas, que não têm, na maior parte das vezes, outro objectivo que não seja perpetuar os cargos, as mordomias e a pouca-vergonha.
Divulguem tudo. Doa a quem doer.
A minha posição é simples: estou a adorar e acho tudo muito bem.
Vamos por partes.
No que toca à correspondência consular da rede norte-americana, ou seja, dos seus embaixadores com a casa-mãe em Washington, há ali de tudo: tricas, irrelevâncias e bombas noticiosas de inegável interesse público.
A primeira coisa que me surpreendeu foi ver que, afinal, os embaixadores e quejandos afinal fazem qualquer coisa. Eu pensava que eles era só mamar, dar um cocktail por ano e estava feito. Afinal não. Eles lêem jornais, estabelecem contactos e depois reportam ao governo norte-americano. Já é refrescante saber que fazem alguma coisa, ainda que sirvam para muito pouco. E depois esforçam-se a escrever. Aquilo que me surpreende é que haja alguém, nos states, interessado em ler que o Alegre é um "dinossauro esquerdista" ou que o Cavaco é assaltado por espasmos incontroláveis de cada vez que está na mesma divisão que um bolo-rei. Eu gosto de ler estas palhaçadas, mas acho que é tempo perdido de quem as escreveu e de quem as divulga.
Mas depois há o resto. Os voos da CIA (isto tá tão mal contadinho....), o caso BCP-Irão, etc, etc. Coisas muito relevantes e das quais não saberíamos se não fossem estas "fugas".
Anda muita malta, como o Portas, acenando com o argumento de que os documentos são confidenciais e que a sua divulgação é um crime. É a mesma coisa que com as escutas do Apito Dourado ou do Sócrates a fazer trafulhices. Defendo o que sempre defendi: divulgação total e eles que se fodam.
Uma coisa é a vida privada, e aquilo que se liga exclusivamente a isso. É irrelevante institucionalmente e não merece ser devassada. Outra coisa são assuntos de inegável interesse público, no sentido em que acarretem, ou devam acarretar, uma responsabilização política ou ética/social por parte de titulares de cargos de interesse público.
Como já disse muita vez, a violação do segredo de justiça tem um grande condão: coloca os humildes na mesma posição que os poderosos, no que toca ao fundamental acesso à informação. São incontáveis os casos de Varas, Pintos da Costa, Paulos Pedrosos e Fátimas Felgueiras que tiveram acesso a informação privilegiada, e que com isso beneficiaram. Não vejo ninguém ir atrás disso. Mas quando a violação do segredo de justiça se destina a colocar todos no mesmo ponto de acesso à informação, cai o Carmo e a Trindade. E isto não aceito.
Eu quero saber. Não por curiosidade, não por voyeurismo. Mas porque há muita gente no mundo com muito poder, que ganha muito dinheiro e que tem uma vida muito mais fácil que 99,9% dos outros habitantes. No mínimo, a sua actuação tem que ser transparente e tem que ser conhecida. Porque se não conseguem exercer a sua actividade de forma limpa e clara, que saiam e dêem a vaga a outros.
O mundo anda há demasiado tempo a ser comido à bruta por uma pseudo-elitezinha de merda que vai sempre escondendo a sua mediocridade e o horror do seu comportamento atrás de segredos e regras burocráticas, que não têm, na maior parte das vezes, outro objectivo que não seja perpetuar os cargos, as mordomias e a pouca-vergonha.
Divulguem tudo. Doa a quem doer.
Cara de Pau
Há várias qualidades que, em teoria, são exigíveis a um primeiro ministro ou a um governo. Competência, por exemplo. Honestidade. Transparência. Responsabilidade.
Pelo menos isto.
Vem isto a propósito das últimas movimentações de Sócrates e sus muchachos no que toca à lei laboral,algo muito bem lembrado pelo camarada Papousse. Tal como tinha já escrito, assim que se começou a falar nesta matéria percebemos todos que algo estava errado e que, de uma forma ou de outra, nos iam foder outra vez. Sócrates esteve em Bruxelas e de lá, da Comissão Europeia, veio a informação de que Portugal ia "flexibilizar" as leis laborais, Ora já sabemos o que isto quer dizer, que nos vão "flexibilizar" a espinha. Mas Sócrates disse logo, já em Portugal, que nada disso. Naaaaa, estamos é a olhar para as regras laborais de forma a estimular o emprego, em várias vertentes.
Ora o que aconteceu?
Só isto: a primeira alteração conhecida é a fixação de montantes máximos de indemnização em caso de despedimento de trabalhadores. Será isto uma medida de estímulo ao emprego? Ou será mais uma medida de estímulo ao desemprego?...
Mais uma vez, temos este cenário: conversa, conversa, conversa, eufemismos e digressões verbais. Mentiras descaradas. A gente pergunta uma coisa, eles respondem outra, arranjam nomes técnicos e parvoíces, sem dar nunca uma resposta clara. E depois vêm as medidas, e aqui temos.
Eu gostava de ter um governo competente. Eu gostava de ter um governo honesto. Eu gostava de ter um governo que falasse a verdade, falasse claro e respondesse ao escrutínio público.
Gostava, no mínimo, de ter um governo que não fizesse de mim parvo todos os dias do ano.
Pelo menos isto.
Vem isto a propósito das últimas movimentações de Sócrates e sus muchachos no que toca à lei laboral,algo muito bem lembrado pelo camarada Papousse. Tal como tinha já escrito, assim que se começou a falar nesta matéria percebemos todos que algo estava errado e que, de uma forma ou de outra, nos iam foder outra vez. Sócrates esteve em Bruxelas e de lá, da Comissão Europeia, veio a informação de que Portugal ia "flexibilizar" as leis laborais, Ora já sabemos o que isto quer dizer, que nos vão "flexibilizar" a espinha. Mas Sócrates disse logo, já em Portugal, que nada disso. Naaaaa, estamos é a olhar para as regras laborais de forma a estimular o emprego, em várias vertentes.
Ora o que aconteceu?
Só isto: a primeira alteração conhecida é a fixação de montantes máximos de indemnização em caso de despedimento de trabalhadores. Será isto uma medida de estímulo ao emprego? Ou será mais uma medida de estímulo ao desemprego?...
Mais uma vez, temos este cenário: conversa, conversa, conversa, eufemismos e digressões verbais. Mentiras descaradas. A gente pergunta uma coisa, eles respondem outra, arranjam nomes técnicos e parvoíces, sem dar nunca uma resposta clara. E depois vêm as medidas, e aqui temos.
Eu gostava de ter um governo competente. Eu gostava de ter um governo honesto. Eu gostava de ter um governo que falasse a verdade, falasse claro e respondesse ao escrutínio público.
Gostava, no mínimo, de ter um governo que não fizesse de mim parvo todos os dias do ano.
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Auto-promoção barata
De borla, aliás.
Se olharem para uma coisita ali à direita vêem que o Vodka existe desde o ano da graça de 2003. Já não é feito insignificante um blog sem tipos conhecidos aguentar-se tanto tempo, nesta época em que o facebook e merdas parecidas ficou com o monopólio do bitaite. Eu sou assim. Gosto de cassetes e discos de vinil. E gosto de blogs.
Feito mais significativo é este ano de 2010 ser o segundo ano mais prolífico da história deste blog, em número de posts, superado apenas por 2004, ano em que muita malta escrevia aqui. Mas não vou lamentar-me. Para mim, o Vodka ter um ano tão forte como este, em termos de produção, é prova suficiente de vitalidade. Sei que quantidade não é qualidade, mas enfim, qualidade nunca foi coisa em que a gente tenha realmente apostado.
Aos nossos queridos leitores, um obrigado pela companhia.
Se olharem para uma coisita ali à direita vêem que o Vodka existe desde o ano da graça de 2003. Já não é feito insignificante um blog sem tipos conhecidos aguentar-se tanto tempo, nesta época em que o facebook e merdas parecidas ficou com o monopólio do bitaite. Eu sou assim. Gosto de cassetes e discos de vinil. E gosto de blogs.
Feito mais significativo é este ano de 2010 ser o segundo ano mais prolífico da história deste blog, em número de posts, superado apenas por 2004, ano em que muita malta escrevia aqui. Mas não vou lamentar-me. Para mim, o Vodka ter um ano tão forte como este, em termos de produção, é prova suficiente de vitalidade. Sei que quantidade não é qualidade, mas enfim, qualidade nunca foi coisa em que a gente tenha realmente apostado.
Aos nossos queridos leitores, um obrigado pela companhia.
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
Twin Peaks
Aqui há dias tive uma discussão interessante com um amigo, acerca da novela da TVI que ganhou um Emmy, ou um Grammy ou um Gremlin nos EUA. Dizia ele que parecia impossível, que a novela era uma merda, etc, etc.
É claro que a discussão interessante não é, obviamente, esta, mas sim as mamas da Rita Pereira.
Tão revoltado estava o meu amigo com o prémio que só à minha menção das belas mamas da menina ele se atirou de cabeça num daqueles discursos de que as mamas, aquelas belas tetas, são falsas.
Foi isto que ele disse. São falsas.
A discussão terminou da única maneira possível, comigo a chamá-lo de bicha. Não o queria fazer, mas não tive qualquer hipótese. Eu sou um gajo, portanto perante a pergunta "mamas verdadeiras ou mamas falsas" a minha resposta só poderá ser "depende das mamas", "que raio isso interessa" ou "sim, mande vir".
ps - aquele tipo lá atrás não é o Bairrão, presidente da TVI? para onde estaria ele a olhar, para a grande qualidade da produção do seu canal?
É claro que a discussão interessante não é, obviamente, esta, mas sim as mamas da Rita Pereira.
Tão revoltado estava o meu amigo com o prémio que só à minha menção das belas mamas da menina ele se atirou de cabeça num daqueles discursos de que as mamas, aquelas belas tetas, são falsas.
Foi isto que ele disse. São falsas.
A discussão terminou da única maneira possível, comigo a chamá-lo de bicha. Não o queria fazer, mas não tive qualquer hipótese. Eu sou um gajo, portanto perante a pergunta "mamas verdadeiras ou mamas falsas" a minha resposta só poderá ser "depende das mamas", "que raio isso interessa" ou "sim, mande vir".
As gajas usam muito este argumento, que as mamas, ou o resto, é falso. As mulheres, esses seres que conseguem gastar guita a um ritmo que desafia os computadores da Nasa em toda a merda que as possa tornar mais atraentes. Atenção, eu não me queixo disto. Prefiro a beleza artificial ao horror ou banalidade natural. Elas gastam em maquiagens, calças que lhes fazem melhor rabo, soutiens que puxam as mamas para cima, cinturas descaídas e o camandro, metade das coisas nós nem sabemos bem descrever. Tudo certo. Mas como podem gajas que tudo fazem para melhorar o que a natureza lhes deu depois virar-se contra as que compram mamas? Bom, a explicação até é simples...
Quanto ao prémio, eu tenho uma teoria. São os cabrões dos americanos, que querem tanto convencer toda a gente que são fabulosos que decidiram escolher uma ganda poia como o melhor da selecção do resto do mundo. Tipo "vejam bem esta merda de Portugal, e isto é o melhor que se fez em todo o mundo! Excepto nos EUA, claro".
Eu acho bem o prémio. Só acho mal é não ter havido um prémio para a Rita Pereira. Se uma merda de uma novela da TVI, que nunca vi e cujo nome desconheço, merece um galardão, não me digam que a menina não merecia uma distinção individual, um premiozinho que fosse.
Aliás, dois prémios, um para cada mama.
ps - aquele tipo lá atrás não é o Bairrão, presidente da TVI? para onde estaria ele a olhar, para a grande qualidade da produção do seu canal?
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
Man...baza!
Há duas semanas que ando um bocado afastado de tudo. Mas agora, ao ver as notícias, não posso deixar de me espantar com a extraordinária força da inércia, ou seja, a inabalável capacidade da nossa vida política em mudar absolutamente nada.
Ouço o Sócrates falar, e não acredito que, anos e anos de trafulhices, mentiras e incompetências depois, ele lá continue alegremente a fingir que ainda é um primeiro ministro com qualquer tipo de autoridade. E parece convencido disso, o que só comprova a minha velha teoria de que este senhor sofre de graves distúrbios de personalidade.
A Comissão Europeia diz que Portugal se comprometeu a flexibilizar as leis laborais, o que já de si é extraordinário tendo em atenção que somos um país de salários miseráveis e com a maior percentagem de precários da Europa. Mas Sócrates diz que não, que não combinou nada, só quer fazer uns ajustes.
Depois de tudo, querem acreditar em quem? Quantas mais provas são necessárias?
José Sócrates é o Manuel Subtil da política portuguesa. Barricou-se no Governo, mas não tem qualquer saída airosa possível.
Ouço o Sócrates falar, e não acredito que, anos e anos de trafulhices, mentiras e incompetências depois, ele lá continue alegremente a fingir que ainda é um primeiro ministro com qualquer tipo de autoridade. E parece convencido disso, o que só comprova a minha velha teoria de que este senhor sofre de graves distúrbios de personalidade.
A Comissão Europeia diz que Portugal se comprometeu a flexibilizar as leis laborais, o que já de si é extraordinário tendo em atenção que somos um país de salários miseráveis e com a maior percentagem de precários da Europa. Mas Sócrates diz que não, que não combinou nada, só quer fazer uns ajustes.
Depois de tudo, querem acreditar em quem? Quantas mais provas são necessárias?
José Sócrates é o Manuel Subtil da política portuguesa. Barricou-se no Governo, mas não tem qualquer saída airosa possível.
sábado, 11 de dezembro de 2010
Clueless
Descobri agora, através do Público, que quando na preparatória eu chamava maricas ao único miúdo que não jogava à bola estava a praticar "Bullying Homofóbico".
É sempre bom finalmente poder meter um nome aos nossos preconceitos.
É sempre bom finalmente poder meter um nome aos nossos preconceitos.
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
Uma pena e venha o futuro
Foi com muita, muita pena que soube do fim oficial dos Da Weasel.
Para mim são, apenas, a melhor banda portuguesa a surgir nos anos 90, juntamente com os Ornatos e, a alguma distância os Clã, de quem não gosto especialmente mas que são muito bons no que fazem.
A primeira vez que os vi ao vivo foi em 1998, numa Queima das Fitas, em Coimbra. Asseguraram a primeira parte de um mítico e muito aguardado concerto dos Violent Femmes, num pavilhão quente e a abarrotar de gente. Estava lá para ouvir os VF, pelo que confesso que não prestei muita atenção à Doninha. Na memória ficou-me um som bastante mau e um puto multado magrinho, de cabeça rapada, a rapar furiosamente.
Voltei a vê-los várias vezes, e os Da Weasel, em palco, foram sempre, sempre bons.
Tenho todos os seus discos, e continuo a revisitá-los. Para mim são uma das poucas bandas portuguesas que conseguiu, de facto, misturar estilos e ser sempre competente, estimulante, e cool. O meu disco preferido é o "Podes fugir mas não te podes esconder", que inclui a música abaixo, "Mata-me de novo". Serviu-me de banda sonora, há muitos anos atrás, a uma fase difícil mas muito interessante na minha vida.
Todos os membros da banda são tipos realmente talentosos, e acredito que muitos deles voltarão a fazer boa música, e não necessariamente nos subgrupos que têm actualmente. E eu vou estar atento.
Mas tenho muita pena.
Para mim são, apenas, a melhor banda portuguesa a surgir nos anos 90, juntamente com os Ornatos e, a alguma distância os Clã, de quem não gosto especialmente mas que são muito bons no que fazem.
A primeira vez que os vi ao vivo foi em 1998, numa Queima das Fitas, em Coimbra. Asseguraram a primeira parte de um mítico e muito aguardado concerto dos Violent Femmes, num pavilhão quente e a abarrotar de gente. Estava lá para ouvir os VF, pelo que confesso que não prestei muita atenção à Doninha. Na memória ficou-me um som bastante mau e um puto multado magrinho, de cabeça rapada, a rapar furiosamente.
Voltei a vê-los várias vezes, e os Da Weasel, em palco, foram sempre, sempre bons.
Tenho todos os seus discos, e continuo a revisitá-los. Para mim são uma das poucas bandas portuguesas que conseguiu, de facto, misturar estilos e ser sempre competente, estimulante, e cool. O meu disco preferido é o "Podes fugir mas não te podes esconder", que inclui a música abaixo, "Mata-me de novo". Serviu-me de banda sonora, há muitos anos atrás, a uma fase difícil mas muito interessante na minha vida.
Todos os membros da banda são tipos realmente talentosos, e acredito que muitos deles voltarão a fazer boa música, e não necessariamente nos subgrupos que têm actualmente. E eu vou estar atento.
Mas tenho muita pena.
Post Office
Como qualquer pessoa normal com menos de 80 anos, só vou aos correios quando tenho de ir. O que acontece talvez umas três vezes por ano. Hoje, que tinha que mandar uma papelada por causa da licença de paternidade, e lá fui eu, já com os envelopes preparados. Só faltava meter selo e empurrar para as bocarras das entregas. Tudo coisas que, julgava eu, conseguiria fazer sem necessidade de intervenção humana para além da minha.
Acontece que, ao contrário do que sucedia até há poucos meses, esta estação dos correios, perto da Estefânia, deixou de ter máquina de selos. Antes, era chegar lá, meter a carta na balança, escolher se é normal ou azul (agora há um verde mas não sei para que serve), meter o dinheiro e pronto, saía o selo. Agora não. Agora tive que estar na fila, atrás dos velhos e desocupados desta vida, para chegar ao balcão e dizer: quero mandar estas três cartas. Algo que eu podia fazer sozinho até há poucos meses.
Perante a minha insistência, o senhor do balcão (os gajos do balcão não são tecnicamente carteiros, pois não?) lá me explicou. A retirada da máquina de selos foi decisão, não explicada, da administração. Pus-me a puxar pela cabeça, e veio a razão: é que assim, se não queremos estar na fila, temos que comprar aqueles envelopes dos correios já com selo, que são bastante mais caros. Um tipo que traga os seus próprios envelopes e só queira a merda de um selo, tem de esperar na fila. Neste caso, 20 minutos de espera.
Deve ser isto que eles chamam eficiência. Deve ser isto que eles explicam por "preparar a empresa para a privatização". Eu chamo-lhe prestar um mau serviço.
Porque uma estação dos correios não é uma barraca da feira da Praça de Espanha, a vender canecas, cachecóis de futebol e livros de autoajuda/Júlio Magalhães.
Infelizmente parece.
Acontece que, ao contrário do que sucedia até há poucos meses, esta estação dos correios, perto da Estefânia, deixou de ter máquina de selos. Antes, era chegar lá, meter a carta na balança, escolher se é normal ou azul (agora há um verde mas não sei para que serve), meter o dinheiro e pronto, saía o selo. Agora não. Agora tive que estar na fila, atrás dos velhos e desocupados desta vida, para chegar ao balcão e dizer: quero mandar estas três cartas. Algo que eu podia fazer sozinho até há poucos meses.
Perante a minha insistência, o senhor do balcão (os gajos do balcão não são tecnicamente carteiros, pois não?) lá me explicou. A retirada da máquina de selos foi decisão, não explicada, da administração. Pus-me a puxar pela cabeça, e veio a razão: é que assim, se não queremos estar na fila, temos que comprar aqueles envelopes dos correios já com selo, que são bastante mais caros. Um tipo que traga os seus próprios envelopes e só queira a merda de um selo, tem de esperar na fila. Neste caso, 20 minutos de espera.
Deve ser isto que eles chamam eficiência. Deve ser isto que eles explicam por "preparar a empresa para a privatização". Eu chamo-lhe prestar um mau serviço.
Porque uma estação dos correios não é uma barraca da feira da Praça de Espanha, a vender canecas, cachecóis de futebol e livros de autoajuda/Júlio Magalhães.
Infelizmente parece.
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
Mind Games
Com um recém-nascido há poucos dias em casa, o essencial, venho a descobrir, é não perder a calma.
Nos primeiros dias a minha filha estava aparentemente a passar-se; eu fingia estar bem mas estava preocupado que a minha mulher se passasse; ela fingia estar bem mas estava preocupada que eu me passasse. Ou seja, no fundo, a estabilidade do lar dependia da nossa capacidade em manter um bom bluff.
Tendo em atenção que a felicidade desta casa depende, em larga medida, do estado de espírito da minha senhora, digamos que a expulsão de um tal de Nemias dos "Ídolos" foi recebida entusiasticamente por toda a família.
Nos primeiros dias a minha filha estava aparentemente a passar-se; eu fingia estar bem mas estava preocupado que a minha mulher se passasse; ela fingia estar bem mas estava preocupada que eu me passasse. Ou seja, no fundo, a estabilidade do lar dependia da nossa capacidade em manter um bom bluff.
Tendo em atenção que a felicidade desta casa depende, em larga medida, do estado de espírito da minha senhora, digamos que a expulsão de um tal de Nemias dos "Ídolos" foi recebida entusiasticamente por toda a família.
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
9
Há uns anos atrás, a SIC Radical era o melhor canal da televisão nacional. Tinha comédia, muita comédia, que é algo que, francamente, me apetece sempre ver, seja a que hora for. Na sua maioria, era parva e divertida, o que é a melhor combinação possível.
Infelizmente, nos últimos anos, parece-me que o canal se descaracterizou, à medida em que ia apostando mais em produção própria, na sua grande maioria coisas não apenas amadoras (o que não é grave) mas intragáveis (vide qualquer coisa feita pelo Unas). A sua comédia agora é apenas parva, e isso não tem piada nenhuma. Qualquer um pode ser um idiota, mas um idiota com piada é um privilegiado e uma benção.
Mas agora anda a dar um programa do cacete. "No Reservations" é, acreditem ou não, um programa de culinária. Em que tudo interessa, tudo, incluindo a culinária. O segredo está no autor/apresentador: Anthony Bourdain, ex-chef e crítico gastronómico, que é só um dos tipos mais talentosos de sempre a fazer televisão. Quem nunca viu, faça o favor de espreitar. O facto de o melhor programa da Radical (reposições sempre agradáveis de Seinfeld e South Park não contam) ser um programa de gastronomia é que já é mais estranho. Fica um cheirinho, de uma noite bem regada de Bourdain, em Paris.
Infelizmente, nos últimos anos, parece-me que o canal se descaracterizou, à medida em que ia apostando mais em produção própria, na sua grande maioria coisas não apenas amadoras (o que não é grave) mas intragáveis (vide qualquer coisa feita pelo Unas). A sua comédia agora é apenas parva, e isso não tem piada nenhuma. Qualquer um pode ser um idiota, mas um idiota com piada é um privilegiado e uma benção.
Mas agora anda a dar um programa do cacete. "No Reservations" é, acreditem ou não, um programa de culinária. Em que tudo interessa, tudo, incluindo a culinária. O segredo está no autor/apresentador: Anthony Bourdain, ex-chef e crítico gastronómico, que é só um dos tipos mais talentosos de sempre a fazer televisão. Quem nunca viu, faça o favor de espreitar. O facto de o melhor programa da Radical (reposições sempre agradáveis de Seinfeld e South Park não contam) ser um programa de gastronomia é que já é mais estranho. Fica um cheirinho, de uma noite bem regada de Bourdain, em Paris.
A Voz da Experiência
Ter um filho aumenta exponencialmente a necessidade de pilhas. Para aí umas 30, de tamanhos diferentes.
Ah, e não comprava pilhas há uma data de anos. Elas sempre foram caras pa caraças ou agora são um produto de luxo?
Ah, e não comprava pilhas há uma data de anos. Elas sempre foram caras pa caraças ou agora são um produto de luxo?
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
A Varanda
Entre as vantagens/desvantagens de se morar num bairro típico de Lisboa é, quer queiramos quer não, fazermos parte de uma vida colectiva com os nossos vizinhos. Estava eu, há pouco, a fumar um cigarro na varanda de trás (ah poisé, agora acabaram-se os cigarros indoor), quando disparou, no andar de baixo, o stereo dos meus vizinhos. São uma série de putos, eventualmente estudantes, e a selecção sonora incluiu Green Day dos tempos do Dookie, Offspring e Nada Surf. Ao todo, foram uns 15 minutos de uma espécie de compilação de college rock, que me levou direitinho aos meus 15 anos.
Para qualquer adolescente, a música é, só, a coisa mais importante. Ou devia ser.
Parágrafo.
Quando eu era puto, a música não era só tudo: era uma forma de identificação. Era uma forma de descobrir quem era, quem queria ser, de que lado queria estar. Os meus amigos pertenciam a dois grupos: a malta que jogava à bola, e aí aparecia de tudo, e os gajos que gostavam de música. Quando eu era puto, todos os que gostavam realmente de música gostavam de boa música. Não havia ninguém realmente apaixonado pelos U2, ou pelo Michael Jackson. Quem gostava profundamente de música procurava algo que soasse a autêntico, a sofrido, a verdadeiro, a diferente. Tinha amigos fanáticos de Mão Morta, de Pop DellArte, de Young Gods e de Sonic Youth. Outros fanáticos de Doors, Janis Joplin, Hendrix, Cream e Led Zeppelin. Quando apareceu o grunge, todos os que estavam envolvidos com a música entraram alegremente a bordo. Entre a comunidade heterogénea dos amantes de música, todos começaram a ouvir e a trocar cassetes de Nirvana, Alice in Chains, Pearl Jam, Soundgarden. Pela mesma altura, Green Day, Faith no More, Cypress Hill, Censurados, Guns ou Body Count entraram também nos walkman.
E a verdade é que, chegados à escola, procuravamo-nos uns aos outros, para saber o que se andava a ouvir, se já tinham a cassete que queríamos, se dava para gravar. Havia o nós e havia o eles. Porque não era apenas música. Para mim, simplesmente não era possível ser realmente amigo de um fã hardcore de Dire Straits, por exemplo. Porque, nessa altura, a música era uma forma de estar na vida. E ou querias descobrir ou querias pastar, e eu tinha um orgulho febril em estar entre os primeiros. E foi a música que me fez sobreviver à Escola Secundária de Carcavelos, e que ajudou a moldar quem fui e quem sou hoje.
Obviamente, há muito deixei de ser tão sectário em relação às pessoas. Mas a verdade é que, de todos os meus amigos - mesmo aqueles que fiz já a trabalhar - não creio que haja um que, na adolescência, fosse fã de U2 ou de Dire Straits ou de Madonna.
De alguma forma, a matriz ficou. E a vida sabe o que faz.
Vejo a música que se faz hoje em dia, e tenho alguma pena dos putos. Não sei que raio de música de revolta andam eles a ouvir. E é essencial para qualquer puto decente ouvir música de revolta, do contra, que questione, que lute. Um puto que ouve Katie Perry ou Kings of Leon vai ser, quando crescer, um conformadinho de merda. Pode ser bem sucedido, habituado ao menor denominador comum do mainstream, mas terá uma grande tendência para ser um gajo bastante aborrecido.
Espero, no fundo, que eu não saiba nada sobre os putos de hoje, e que eles andem, de facto, a ouvir coisas boas e diferentes. Não é preciso Dead Kennedys ou Tara Perdida. Mas algo que os faça buscar, procurar e encontrar-se.
Boa semana, minha gente.
Para qualquer adolescente, a música é, só, a coisa mais importante. Ou devia ser.
Parágrafo.
Quando eu era puto, a música não era só tudo: era uma forma de identificação. Era uma forma de descobrir quem era, quem queria ser, de que lado queria estar. Os meus amigos pertenciam a dois grupos: a malta que jogava à bola, e aí aparecia de tudo, e os gajos que gostavam de música. Quando eu era puto, todos os que gostavam realmente de música gostavam de boa música. Não havia ninguém realmente apaixonado pelos U2, ou pelo Michael Jackson. Quem gostava profundamente de música procurava algo que soasse a autêntico, a sofrido, a verdadeiro, a diferente. Tinha amigos fanáticos de Mão Morta, de Pop DellArte, de Young Gods e de Sonic Youth. Outros fanáticos de Doors, Janis Joplin, Hendrix, Cream e Led Zeppelin. Quando apareceu o grunge, todos os que estavam envolvidos com a música entraram alegremente a bordo. Entre a comunidade heterogénea dos amantes de música, todos começaram a ouvir e a trocar cassetes de Nirvana, Alice in Chains, Pearl Jam, Soundgarden. Pela mesma altura, Green Day, Faith no More, Cypress Hill, Censurados, Guns ou Body Count entraram também nos walkman.
E a verdade é que, chegados à escola, procuravamo-nos uns aos outros, para saber o que se andava a ouvir, se já tinham a cassete que queríamos, se dava para gravar. Havia o nós e havia o eles. Porque não era apenas música. Para mim, simplesmente não era possível ser realmente amigo de um fã hardcore de Dire Straits, por exemplo. Porque, nessa altura, a música era uma forma de estar na vida. E ou querias descobrir ou querias pastar, e eu tinha um orgulho febril em estar entre os primeiros. E foi a música que me fez sobreviver à Escola Secundária de Carcavelos, e que ajudou a moldar quem fui e quem sou hoje.
Obviamente, há muito deixei de ser tão sectário em relação às pessoas. Mas a verdade é que, de todos os meus amigos - mesmo aqueles que fiz já a trabalhar - não creio que haja um que, na adolescência, fosse fã de U2 ou de Dire Straits ou de Madonna.
De alguma forma, a matriz ficou. E a vida sabe o que faz.
Vejo a música que se faz hoje em dia, e tenho alguma pena dos putos. Não sei que raio de música de revolta andam eles a ouvir. E é essencial para qualquer puto decente ouvir música de revolta, do contra, que questione, que lute. Um puto que ouve Katie Perry ou Kings of Leon vai ser, quando crescer, um conformadinho de merda. Pode ser bem sucedido, habituado ao menor denominador comum do mainstream, mas terá uma grande tendência para ser um gajo bastante aborrecido.
Espero, no fundo, que eu não saiba nada sobre os putos de hoje, e que eles andem, de facto, a ouvir coisas boas e diferentes. Não é preciso Dead Kennedys ou Tara Perdida. Mas algo que os faça buscar, procurar e encontrar-se.
Boa semana, minha gente.
domingo, 5 de dezembro de 2010
sábado, 4 de dezembro de 2010
News Update II
Quando completo a segunda noite sem dormir a ponta de um corno, o meu coração pensa sempre naqueles queridos papás e mãmãs que dizem "disfrutem agora desta fase, porque eles crescem muito rápido".
Deviam ser fuzilados.
Todos.
Mas primeiro torturados com várias horas ininterruptas a ouvir o Greatest Hits dos HIM, entrecortado pelos gritos da minha filha.
Deviam ser fuzilados.
Todos.
Mas primeiro torturados com várias horas ininterruptas a ouvir o Greatest Hits dos HIM, entrecortado pelos gritos da minha filha.
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
News Update
E pronto, a Alice já cá está. Passou pelo habitual mau bocado, mas a sua mãe foi um bravo soldado, e cá estamos. Nasceu segunda-feira, e desde então a coisa tem sido uma sucessão bastante rápida de resolução de problemas de curto prazo. Coisas básicas, tipo fralda-mamar-dormir, ou o choro desesperado que, como veio, já se foi. Enfim, o costume, segundo dizem.
É claro que a minha filha é linda, e isto é dizer muito de uma miúda que nem cabelo tem. A única outra rapariga que merecia o adjectivo linda mesmo sem cabelo era a Nathalie Portman num filme qualquer, e que apesar disso continuava 'clearly doable'.
Mas estou a divagar.
Desde segunda que não sei de notícias, nem sequer de futebol. Todo o tempo "livre" é dedicado a uma actividade que alguns humanos gostam, chamada "dormir".
Ou seja, voltarei, mas não sei quando.
Estamos cansados, mas felizes.
Carry on.
É claro que a minha filha é linda, e isto é dizer muito de uma miúda que nem cabelo tem. A única outra rapariga que merecia o adjectivo linda mesmo sem cabelo era a Nathalie Portman num filme qualquer, e que apesar disso continuava 'clearly doable'.
Mas estou a divagar.
Desde segunda que não sei de notícias, nem sequer de futebol. Todo o tempo "livre" é dedicado a uma actividade que alguns humanos gostam, chamada "dormir".
Ou seja, voltarei, mas não sei quando.
Estamos cansados, mas felizes.
Carry on.
Como diria o outro: São grandes homens
A miserável argumentação que, ontem na AR, sustentou os votos contra a proposta de tributação de dividendos não merecerá aqui qualquer replicação, digamos, substantiva. Há espaços próprios, e gente mais séria, para o efeito.Não contem comigo para trabalho tão digno.
O que me leva a escrever um número considerável de palavras (face ao que neste blogue digito) é o expediente da abstenção tomado por alguns deputados do PS na esperança de manter viva a áurea de esquerda moderna que ostentam, garantindo, em simultâneo, o objectivo essencial da respectiva turba parlamentar: o chumbo da tributação de um imposto sobre os dividendos antecipados.
A matéria em discussão e votação não se prestava a meias tintas. Chocam, por isso, mais do que os votos contra, as abstenções de Miguel Laranjeiro, João Galamba e Miguel Vale de Almeida.
O caso de Miguel Vale de Almeida seria, à primeira vista, o mais perturbador, mas a realidade mais actual regista, olhando à sua performance, que a esquerda pôde apenas contar com os seus préstimos em combates na área, digamos, dos costumes - casamentos entre paneleiros do mesmo sexo, ivêgês, e afins mais ou menos anticlericais – o que, não sendo despiciendo, parece, ainda assim, poucochinho para um fundador de um recente partido de esquerda (trata-se, recordo, de um dos criadores do Bloco de Esquerda).
A sua abstenção, assim como dos outros dois camaradas, aparecerá aos olhos dos mais incautos como um exercício, ainda que leve, de irreverência e inconformismo, mas, na prática (e, queiramos ou não, a prática tem nestas coisas capital importância) apenas contribuiu para inviabilizar a proposta do PCP, salvaguardando os interesses de quem, além de rechear os bolsinhos com muitos e muitos euros, costuma encher imoralmente a boca nos Prós e Contras e SIC Notícias desta vida em clamores por cargas maciças de austeridade sobre quem trabalha e sobre quem menos tem. Tudo em nome da pátria, confiando que a fórmula proclamada, de tão antiga quanto liberal, revele o caminho da redenção.
Conforme a fotografia o documenta: é esperar sentados.
O que me leva a escrever um número considerável de palavras (face ao que neste blogue digito) é o expediente da abstenção tomado por alguns deputados do PS na esperança de manter viva a áurea de esquerda moderna que ostentam, garantindo, em simultâneo, o objectivo essencial da respectiva turba parlamentar: o chumbo da tributação de um imposto sobre os dividendos antecipados.
A matéria em discussão e votação não se prestava a meias tintas. Chocam, por isso, mais do que os votos contra, as abstenções de Miguel Laranjeiro, João Galamba e Miguel Vale de Almeida.
O caso de Miguel Vale de Almeida seria, à primeira vista, o mais perturbador, mas a realidade mais actual regista, olhando à sua performance, que a esquerda pôde apenas contar com os seus préstimos em combates na área, digamos, dos costumes - casamentos entre paneleiros do mesmo sexo, ivêgês, e afins mais ou menos anticlericais – o que, não sendo despiciendo, parece, ainda assim, poucochinho para um fundador de um recente partido de esquerda (trata-se, recordo, de um dos criadores do Bloco de Esquerda).
A sua abstenção, assim como dos outros dois camaradas, aparecerá aos olhos dos mais incautos como um exercício, ainda que leve, de irreverência e inconformismo, mas, na prática (e, queiramos ou não, a prática tem nestas coisas capital importância) apenas contribuiu para inviabilizar a proposta do PCP, salvaguardando os interesses de quem, além de rechear os bolsinhos com muitos e muitos euros, costuma encher imoralmente a boca nos Prós e Contras e SIC Notícias desta vida em clamores por cargas maciças de austeridade sobre quem trabalha e sobre quem menos tem. Tudo em nome da pátria, confiando que a fórmula proclamada, de tão antiga quanto liberal, revele o caminho da redenção.
Conforme a fotografia o documenta: é esperar sentados.
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