Weekend tropical
O Santiago Alquimista promete-nos duas noites de boa onda, sexta e sábado.
Na sexta, é o concerto dos promissores Los Cubos, e na noite seguinte os sempre saudosos (das colónias e não só) Irmãos Catita.
Los Cubos:
Apesar de se chamarem LOS CUBOS, de tocarem «ritmos calientes», e de serem citados pelo Habanero, rejeitam o rótulo de "banda de salsa" pela simples razão de fazerem uma música mais abrangente que os seus camaradas cubanos – chegando mesmo a infiltrar-se na onda Nuyorica, com um cheiro misto de Ipanema e de arraial minhoto!
Não esquecer que a maior parte dos alfacinhas não sabe o que é um arraial minhoto, muito menos Salsa – sobretudo depois dessa explosão aberrante que dá pelo nome de latin mix. De Ipanema conhecem vagamente uma garota de sovacos perfumados, e nunca ouviram os nomes August Darnell ou Funkapolitan, chegando mesmo a pensar que Nuyorica é um jogo japonês sucessor do Tamagoshi.
Enfim: eis LOS CUBOS envoltos no ambiente de mistério que gera todos os mitos e apaixona multidões. Pela descrição da Polícia Judiciária, estamos perante perigosos agitadores de plateias, que finalmente vão ser apanhados em flagrante por quem se queira divertir à grande e goste de música verdadeiramente nova.
A judite aconselha os interessados a comparecer no Teatro Santiago Alquimista no dia 1 Abril, com roupas de festa, próprias para dançar ritmos calientes! Viva a folia!
Quanto aos Catitas, não é preciso dizer nada. A não ser que moi-même faz anos no Sábado e poderá ser encontrado no Alquimista, a partir da meia noite, bebendo uma piña colada e equilibrando um abacaxi na testa.
quarta-feira, 30 de março de 2005
E gosto das holandesas.......
Eu gosto da Europa. Gosto de viajar na Europa, da comodidade dos euros, de não ser preciso um papel especial para andar de um lado para o outro.
Mas não sei se gosto da Constituição Europeia. Não sou contra nem a favor, apenas não sei de que raio de trata.
Isto a propósito dos referendos que, por essa Europa fora, se vão fazer a partir de agora.
A França, esse eixo central do velho continente, está a braços com um problema muito simples: nas sondagens, o Não lidera, e cada semana que passa ganha terreno. Os analistas explicam que esse Não nem sequer tem muito a ver com a Europa, mas sim com problemas internos, nomeadamente económicos, pelo que as pessoas usam o Não como sinal de protesto contra os políticos.
Estão no seu direito, como é óbvio. Mas agora coloca-se uma questão: que fazer, se a França disser que não?
A Constituição fará sentido sem um dos seus principais impulsionadores? Por que razão devem os portugueses, ou os espanhóis, ou quaisquer outros, vincular-se a um documento que não obrigará em nada um dos principais países da União Europeia?
Pois é. A questão, afinal, é mais complicada. E vai mais longe.
Por que carga de água nos vêm perguntar isto agora, se nunca o fizeram antes em relação a seja o que for que tenha a ver com a Europa?
O Não é uma tentação. É a tentação de dizer "vou lá meter a cruzinha no Não e ver como os gajos se desembrulham agora". Eu próprio me sinto tentado, embora admitindo que não me sinto nada informado.
O problema é que os senhores que mandam fazem estes referendos apenas como uma formalidade. Se fossem mais que isso, não haveria problema algum em que a França dissesse que não, porque haveria um plano B. Mas os senhores que mandam, em Bruxelas e em cada um dos países, nunca pensaram em semelhante coisa, preferindo ao debate sério fazer referendos para dar à coisa uma aparência de desígnio popular, que não é e muito dificilmente virá a ser.
Não gosto que tratem os meus concidadãos, portugueses e europeus, como idiotas, yes-men para o que os políticos bem entendem. Não admito que, depois de décadas a tomarem decisões por mim, finjam que me dão uma oportunidade para decidir seja o que for, porque é mentira.
Fico à espera que me esclareçam, porque entretanto o Não folclórico e hipotético me parece cada vez mais tentador.
Eu gosto da Europa. Gosto de viajar na Europa, da comodidade dos euros, de não ser preciso um papel especial para andar de um lado para o outro.
Mas não sei se gosto da Constituição Europeia. Não sou contra nem a favor, apenas não sei de que raio de trata.
Isto a propósito dos referendos que, por essa Europa fora, se vão fazer a partir de agora.
A França, esse eixo central do velho continente, está a braços com um problema muito simples: nas sondagens, o Não lidera, e cada semana que passa ganha terreno. Os analistas explicam que esse Não nem sequer tem muito a ver com a Europa, mas sim com problemas internos, nomeadamente económicos, pelo que as pessoas usam o Não como sinal de protesto contra os políticos.
Estão no seu direito, como é óbvio. Mas agora coloca-se uma questão: que fazer, se a França disser que não?
A Constituição fará sentido sem um dos seus principais impulsionadores? Por que razão devem os portugueses, ou os espanhóis, ou quaisquer outros, vincular-se a um documento que não obrigará em nada um dos principais países da União Europeia?
Pois é. A questão, afinal, é mais complicada. E vai mais longe.
Por que carga de água nos vêm perguntar isto agora, se nunca o fizeram antes em relação a seja o que for que tenha a ver com a Europa?
O Não é uma tentação. É a tentação de dizer "vou lá meter a cruzinha no Não e ver como os gajos se desembrulham agora". Eu próprio me sinto tentado, embora admitindo que não me sinto nada informado.
O problema é que os senhores que mandam fazem estes referendos apenas como uma formalidade. Se fossem mais que isso, não haveria problema algum em que a França dissesse que não, porque haveria um plano B. Mas os senhores que mandam, em Bruxelas e em cada um dos países, nunca pensaram em semelhante coisa, preferindo ao debate sério fazer referendos para dar à coisa uma aparência de desígnio popular, que não é e muito dificilmente virá a ser.
Não gosto que tratem os meus concidadãos, portugueses e europeus, como idiotas, yes-men para o que os políticos bem entendem. Não admito que, depois de décadas a tomarem decisões por mim, finjam que me dão uma oportunidade para decidir seja o que for, porque é mentira.
Fico à espera que me esclareçam, porque entretanto o Não folclórico e hipotético me parece cada vez mais tentador.
terça-feira, 29 de março de 2005
Coitadinho, ninguém lhe mexia!.........
Falemos agora do nosso amigo Pedro Mexia. Na sua crónica no DN, o intelectual versou sobre o tratamento cinematográfico dado ao sexo explícito, chegando à conclusão de que "ninguém sabe filmar o acto sexual".
Mas, mais importante que tudo isto, está na confissão que encima a sua crónica, em que o intelectual Mexia dá algumas pistas sobre o que o tornou assim.
"Aos dezasseis ou dezassete anos vi pela primeira vez sexo explícito no cinema (em situação etariamente irregular). Foi no Fórum Picoas, e logo com o célebre Império dos Sentidos".
Que maroto, o Mexia! A ver o Império dos Sentidos! Em situação etariamente irregular! Ganda maluco!
Ó meu caro Mexia!
Homem que é homem aos 16 anos já consumiu metade do conteúdo de uma sex-shop de tamanho médio, já papou qualquer coisita e, sobretudo, não perde tempo a ver merdas como o Império dos Sentidos!
Tivesse vossemecê deleitado os olhos no "Banana e Chocolate", esse clássico de Ilona Staler, dita Cicciolina, e talvez agora conseguisse mijar de pé.
Assim, nada a fazer. Lamento.
Falemos agora do nosso amigo Pedro Mexia. Na sua crónica no DN, o intelectual versou sobre o tratamento cinematográfico dado ao sexo explícito, chegando à conclusão de que "ninguém sabe filmar o acto sexual".
Mas, mais importante que tudo isto, está na confissão que encima a sua crónica, em que o intelectual Mexia dá algumas pistas sobre o que o tornou assim.
"Aos dezasseis ou dezassete anos vi pela primeira vez sexo explícito no cinema (em situação etariamente irregular). Foi no Fórum Picoas, e logo com o célebre Império dos Sentidos".
Que maroto, o Mexia! A ver o Império dos Sentidos! Em situação etariamente irregular! Ganda maluco!
Ó meu caro Mexia!
Homem que é homem aos 16 anos já consumiu metade do conteúdo de uma sex-shop de tamanho médio, já papou qualquer coisita e, sobretudo, não perde tempo a ver merdas como o Império dos Sentidos!
Tivesse vossemecê deleitado os olhos no "Banana e Chocolate", esse clássico de Ilona Staler, dita Cicciolina, e talvez agora conseguisse mijar de pé.
Assim, nada a fazer. Lamento.
LX Soundsystem
Ontem à noite tive o privilégio de assistir, à borlix, a um óptimo concerto na Aula Magna, oferecido pela CM de Lisboa.
A primeira parte coube aos Hipnotica, que estão agora mais jazzy do que há uns anos, e bem melhores, diga-se. Recomendo o último álbum, Reconciliation. Boa surpresa, ideal para uma noite de conversa e cigarros.
Depois vieram os Clã. E pronto, os Clã não sabem dar um mau concerto. Casa cheia, bom ambiente, grande garra. Numa altura em que o fruto da época são Toranjas e Britneys, um concerto dos Clã é um luxo.
Um único reparo: concerto em que não se pode beber nem fumar lá dentro?!......
Ficou a música, e a boa iniciativa da Câmara Municipal, que nos deu a semana passada concertos gratuitos de Pluto e Ena Pá.
Ontem à noite tive o privilégio de assistir, à borlix, a um óptimo concerto na Aula Magna, oferecido pela CM de Lisboa.
A primeira parte coube aos Hipnotica, que estão agora mais jazzy do que há uns anos, e bem melhores, diga-se. Recomendo o último álbum, Reconciliation. Boa surpresa, ideal para uma noite de conversa e cigarros.
Depois vieram os Clã. E pronto, os Clã não sabem dar um mau concerto. Casa cheia, bom ambiente, grande garra. Numa altura em que o fruto da época são Toranjas e Britneys, um concerto dos Clã é um luxo.
Um único reparo: concerto em que não se pode beber nem fumar lá dentro?!......
Ficou a música, e a boa iniciativa da Câmara Municipal, que nos deu a semana passada concertos gratuitos de Pluto e Ena Pá.
Journal Of An Idle Consultant
VI. Homem-Morcego
Sexta-feira, são quase sete da tarde é hora de despir o fato de macaco de idle consultant e de regressar ao meu covil secreto e vestir a farda de Homem-Morcego, pois duas noites de combate a uma semana de trabalho assim o exigem.
Nove menos dez, ainda fiz pouco mais de metade do caminho de regresso a casa. A culpa é de um choque em cadeia com seis viaturas na auto-estrada, com direito a capotamento e uma viatura totalmente carbonizada. Segundo a rádio, dois ou três feridos em estado considerado muito grave e um morto. Entraram com o pé errado no fim-de-semana.
Dez na noite, só tenho tempo para mudar de roupa, lavar a tromba, besuntar os sovacos com desodorizante e apanhar o primeiro táxi rumo à tasca aonde costumamos encontrar-nos todas as sextas-feiras para jantar e fazer uma corrida alcoólica contra o tempo, afinal a próxima segunda-feira é já ali ao virar da esquina.
A ementa de sexta-feira é invariavelmente a mesma imperiais, tremoços, mais imperiais, bitoques e outras iguarias similares, mais algumas imperiais, contar anedotas porcas, falar mal dos patrões, clientes, vizinhos e amigos ausentes - "mais quatro imperiais, se faz favor " - sobremesas, cafés, digestivos e cigarrinhos, eventualmente mais uma ou outra imperial e a continha.
É quase meia-noite e o nosso grupo desloca-se para o nosso próximo poiso habitual, uma tasca com um quarto do tamanho da primeira, aonde a cerveja em garrafa e os tremoços imperam. A noite avança e já entramos no sábado. "Quem é que quer mais uma Super?" Creditamos álcool no nosso fígado à mesma velocidade estonteante com que debitamos asneiradas e conversas mais ou menos sérias sobre artes, politica, eutanásia, futebol e outros assuntos correntes.
"Alguém que faça o filtro."
Quase duas da manhã, o comboio já vai em velocidade excessiva e não há travão de emergência que o pare. A quantidade de asneiras por segundo supera já em seis vezes o máximo recomendado pela Comunidade Europeia.
"É pá... Granda cú!"
"Faz lá isso." - Bilhetes para o carrossel da selva para todos. Mais rápido, mais alto, mais... Uíiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiinnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnn!!!
Três da manhã a tasca já está fechada e a procissão há muito que saiu do adro, nós ficamos para trás. O grupo começa a dispersar-se, uns com a desculpa do sono, de que a semana foi cansativa, outros nem por isso.
Os ébrios que resistem vão para o Buraco. O Buraco é um daqueles sítios que mais se parece com a casa da nossa avó pelas festas do Natal, cheia de parentes afastados e mais ou menos conhecidos, a quem se atiram camarões cozidos à testa, depois do bacalhau com grão e de umas garrafas de tinto, antes de se abrir os presentes. Só que com boa música.
Excepto às vezes, quando a música é depositada nos pratos à pázada com a delicadeza do coveiro da junta de freguesia, e o ambiente parece o da festa da mangueira do regimento de sapadores bombeiros. Andam todos ao mesmo. Andamos todos.
Há que passar às medidas extremas, vodkas com qualquer coisa e shots de outra coisa qualquer. O álcool e a música provocam estranhos movimentos na mais variadas partes dos nossos corpos, há quem chame a isso dançar, outros a doença de Parkinson.Cinco da manhã o DJ mata a festa. Debandada geral.
Está na hora de ir para o recato do lar, ou o que não mata engorda e vamos dar um pulinho "à da disco". É só um pulinho, daqui para acolá, a discoteca está ao rubro e a abarrotar. Pé na boca. Está quase tão difícil arranjar uma bebida como pão para a boca na Etiópia, os movimentos de Parkinson acentuam-se e os olhos estão embaciados pelo álcool, fumo, barulho das luzes, e não há gaja por muito mais fashion que esteja com o seu top reduzido e barriguinha lisa que os desembacie.
Sete e tal da manhã, acho eu. O sol já vai alto.
Chamem o INEM.
VI. Homem-Morcego
Sexta-feira, são quase sete da tarde é hora de despir o fato de macaco de idle consultant e de regressar ao meu covil secreto e vestir a farda de Homem-Morcego, pois duas noites de combate a uma semana de trabalho assim o exigem.
Nove menos dez, ainda fiz pouco mais de metade do caminho de regresso a casa. A culpa é de um choque em cadeia com seis viaturas na auto-estrada, com direito a capotamento e uma viatura totalmente carbonizada. Segundo a rádio, dois ou três feridos em estado considerado muito grave e um morto. Entraram com o pé errado no fim-de-semana.
Dez na noite, só tenho tempo para mudar de roupa, lavar a tromba, besuntar os sovacos com desodorizante e apanhar o primeiro táxi rumo à tasca aonde costumamos encontrar-nos todas as sextas-feiras para jantar e fazer uma corrida alcoólica contra o tempo, afinal a próxima segunda-feira é já ali ao virar da esquina.
A ementa de sexta-feira é invariavelmente a mesma imperiais, tremoços, mais imperiais, bitoques e outras iguarias similares, mais algumas imperiais, contar anedotas porcas, falar mal dos patrões, clientes, vizinhos e amigos ausentes - "mais quatro imperiais, se faz favor " - sobremesas, cafés, digestivos e cigarrinhos, eventualmente mais uma ou outra imperial e a continha.
É quase meia-noite e o nosso grupo desloca-se para o nosso próximo poiso habitual, uma tasca com um quarto do tamanho da primeira, aonde a cerveja em garrafa e os tremoços imperam. A noite avança e já entramos no sábado. "Quem é que quer mais uma Super?" Creditamos álcool no nosso fígado à mesma velocidade estonteante com que debitamos asneiradas e conversas mais ou menos sérias sobre artes, politica, eutanásia, futebol e outros assuntos correntes.
"Alguém que faça o filtro."
Quase duas da manhã, o comboio já vai em velocidade excessiva e não há travão de emergência que o pare. A quantidade de asneiras por segundo supera já em seis vezes o máximo recomendado pela Comunidade Europeia.
"É pá... Granda cú!"
"Faz lá isso." - Bilhetes para o carrossel da selva para todos. Mais rápido, mais alto, mais... Uíiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiinnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnn!!!
Três da manhã a tasca já está fechada e a procissão há muito que saiu do adro, nós ficamos para trás. O grupo começa a dispersar-se, uns com a desculpa do sono, de que a semana foi cansativa, outros nem por isso.
Os ébrios que resistem vão para o Buraco. O Buraco é um daqueles sítios que mais se parece com a casa da nossa avó pelas festas do Natal, cheia de parentes afastados e mais ou menos conhecidos, a quem se atiram camarões cozidos à testa, depois do bacalhau com grão e de umas garrafas de tinto, antes de se abrir os presentes. Só que com boa música.
Excepto às vezes, quando a música é depositada nos pratos à pázada com a delicadeza do coveiro da junta de freguesia, e o ambiente parece o da festa da mangueira do regimento de sapadores bombeiros. Andam todos ao mesmo. Andamos todos.
Há que passar às medidas extremas, vodkas com qualquer coisa e shots de outra coisa qualquer. O álcool e a música provocam estranhos movimentos na mais variadas partes dos nossos corpos, há quem chame a isso dançar, outros a doença de Parkinson.Cinco da manhã o DJ mata a festa. Debandada geral.
Está na hora de ir para o recato do lar, ou o que não mata engorda e vamos dar um pulinho "à da disco". É só um pulinho, daqui para acolá, a discoteca está ao rubro e a abarrotar. Pé na boca. Está quase tão difícil arranjar uma bebida como pão para a boca na Etiópia, os movimentos de Parkinson acentuam-se e os olhos estão embaciados pelo álcool, fumo, barulho das luzes, e não há gaja por muito mais fashion que esteja com o seu top reduzido e barriguinha lisa que os desembacie.
Sete e tal da manhã, acho eu. O sol já vai alto.
Chamem o INEM.
segunda-feira, 28 de março de 2005
Assim a malta deixa de ir à bola
“Reconhecido poliglota, o Santo Padre costuma desejar Feliz Páscoa de Ressurreição em mais de meia centena de idiomas, o que não conseguiu fazer este ano, apesar de o ter tentado, com o cardeal Angel Sodano a substitui-lo nessa tarefa”.
Ao menos, devolvam o preço dos bilhetes.
ps: Poupando-me de pesos na consciência e de ímpetos justiceiros de algum dos meus (grandes) amigos católicos, direi que a forma como este assunto tem sido tratado pela comunicação social me choca um pouco. Por quatro razões:
- A primeira, pelo destaque que lhe é dado;
- A segunda, pelo modo selvagem como é acompanhado, sempre na expectativa canina de ver se o Papa “está apto para Domingo” como se de um futebolista se tratasse;
- A terceira, por legitimar toda a legião de descrentes ou, mesmo, de católicos não praticantes a opinar através de veredictos esclarecidos como “Ah, o Papa devia era renunciar” ou “O homem tá é agarrado ao poder”, escorregando inevitavelmente a conversa de café até outras sentenças eclesiásticas como a já clássica “A igreja tem é que mudar. Os padres deviam poder casar e as mulheres também ser ordenadas ”;
- A quarta, já não me lembro. (ó Deus, faz de mim um intelectual!)
“Reconhecido poliglota, o Santo Padre costuma desejar Feliz Páscoa de Ressurreição em mais de meia centena de idiomas, o que não conseguiu fazer este ano, apesar de o ter tentado, com o cardeal Angel Sodano a substitui-lo nessa tarefa”.
Ao menos, devolvam o preço dos bilhetes.
ps: Poupando-me de pesos na consciência e de ímpetos justiceiros de algum dos meus (grandes) amigos católicos, direi que a forma como este assunto tem sido tratado pela comunicação social me choca um pouco. Por quatro razões:
- A primeira, pelo destaque que lhe é dado;
- A segunda, pelo modo selvagem como é acompanhado, sempre na expectativa canina de ver se o Papa “está apto para Domingo” como se de um futebolista se tratasse;
- A terceira, por legitimar toda a legião de descrentes ou, mesmo, de católicos não praticantes a opinar através de veredictos esclarecidos como “Ah, o Papa devia era renunciar” ou “O homem tá é agarrado ao poder”, escorregando inevitavelmente a conversa de café até outras sentenças eclesiásticas como a já clássica “A igreja tem é que mudar. Os padres deviam poder casar e as mulheres também ser ordenadas ”;
- A quarta, já não me lembro. (ó Deus, faz de mim um intelectual!)
quinta-feira, 24 de março de 2005
Sugestão para o fim de semana pascal
De partida para o prolongado fim de semana, deixo aqui como sugestão o blog de um bom amigo bastardiano.
Enjoy.
www.pomboincontinente.blogspot.com
De partida para o prolongado fim de semana, deixo aqui como sugestão o blog de um bom amigo bastardiano.
Enjoy.
www.pomboincontinente.blogspot.com
quarta-feira, 23 de março de 2005
Os Primeiros Danos
Com a vitória do PS nas legislativas morre um dos meus blogs favoritos: O País Relativo.
Há, como argumentam no derradeiro post, o cansaço inerente à manutenção de um blog à séria, mas haveria, também, a partir de agora, que perder muito do sentido crítico face ao actual governo que apoiam.
Morre de pé.
Com a vitória do PS nas legislativas morre um dos meus blogs favoritos: O País Relativo.
Há, como argumentam no derradeiro post, o cansaço inerente à manutenção de um blog à séria, mas haveria, também, a partir de agora, que perder muito do sentido crítico face ao actual governo que apoiam.
Morre de pé.
segunda-feira, 21 de março de 2005
Journal Of An Idle Consultant
V. Idle Consultants flutuam a 11.000 pés de altitude
Uma casca de limão está afogada num martini rosso prostrado à minha frente. Nove e um quarto, invariavelmente estão todos atrasados. "Ainda bem que marquei o jantar para as oito e meia." Um a um, a sós ou acompanhados pelas suas namoradas, esposas ou engates de curta duração, os meus colegas idle consultants vão chegando para o jantar de comemoração da partida de um colega para uma temporada de consultoria nas américas.
Raramente nos encontramos fora local de trabalho, excepto em ocasiões especiais como esta ou em escassos casamentos e alguns funerais. Quase sempre um idle consultant morre antes dos trinta e cinco anos, nunca de morte natural, a maior parte das vezes devido a acidente de viação, outras vezes por consumo excessivo de anti-depressivos, estupefacientes, doenças infecto-contagiosas, práticas sado-masoquistas ou eventualmente suicídio.
Um quarto para as dez, já cá estamos todos... os dezasseis.
Por entre martinis, caipirinhas, imperiais, um vodka martini "shaken not stirred", queijinhos de cabra e estaladiças tostas barradas com manteiga de alho, eles vão discutindo sobre as suas magníficas viaturas turbo diesel alemãs e sobre qual o melhor atalho para se deslocarem daqui para acolá, de ali para além e vice-versa, enquanto elas palram acerca dos filhos que querem vir a ter, de lojas, da última moda e outras coisas imperceptíveis que se confundem com o barulho que está no restaurante.
Peço um bitoque. Um bitoque não engana. Um bitoque é sempre um bitoque em qualquer restaurante, tasca ou casa deste país. É como um velho conhecido que nunca nos desilude, que nos acompanha num copo ao balcão de um qualquer bar quando estamos sós e com o qual debatemos sobre a importância do fio dental no rabo desta ou daquela gaja.
Sinto o meu espirito abandonar o meu corpo e elevar-se até ao nível das luzes fluorescentes do tecto. Qual super-herói de banda desenhada que observa o corrupio dos vultos nas ruas, do terraço de um edifício gótico numa noite de lua cheia, observo os acontecimentos à mesa. O meu corpo apático, essa cápsula carnal momentaneamente desprovida de qualquer vida interior, reage às estórias e piadas que contam, ora com esgares de sorriso, ora com sonoras gargalhadas. Tudo automatizado e com um timming tão perfeito que até pareço participar no jantar.
Observo-me degustar o bitoque em largas garfadas enquanto sorvo longos goles do tinto da casa. Começo a ficar ébrio, as faces rubrorizam-se, da minha boca começam a saltar para a mesa piadas fáceis e por vezes ordinárias. Ninguém fica chocado. Os gajos também estão embriagados cada um tentando ser mais engraçadinho do que o outro, as gajas encontram-se refugiadas na sua fortaleza de futilidades. Nada as pode atingir. Tenho calor, não sei se é provocado pelo tinto da casa ou pela proximidade das luzes fluorescentes do tecto. Talvez ambas.
Mais um copo de tinto. Seis copos de tinto depois, perdigotos da minha boca voam atingindo os mais próximos.
O empregado deposita um café à minha frente. Abençoado sejas. Bebo o café de um só trago, com um choque de realidade o meu espirito é atirado abruptamente de encontro ao meu corpo. Estou meio tonto. Pago a minha parte da conta, guardo o maço de tabaco, telemóvel, a carteira e levanto-me. As pernas pouca ou nenhuma força têm.
Despedimo-nos uns dos outros fazendo votos que este encontro se repita brevemente. Faço figas.
Chamo um taxi e debito ao taxista o que se assemelha a uma morada... a minha morada espero eu. Entre uma espécie de dois dedos de conversa com o taxista, percorremos a cidade. Chego a casa. São e salvo. Pelo menos por esta vez.
V. Idle Consultants flutuam a 11.000 pés de altitude
Uma casca de limão está afogada num martini rosso prostrado à minha frente. Nove e um quarto, invariavelmente estão todos atrasados. "Ainda bem que marquei o jantar para as oito e meia." Um a um, a sós ou acompanhados pelas suas namoradas, esposas ou engates de curta duração, os meus colegas idle consultants vão chegando para o jantar de comemoração da partida de um colega para uma temporada de consultoria nas américas.
Raramente nos encontramos fora local de trabalho, excepto em ocasiões especiais como esta ou em escassos casamentos e alguns funerais. Quase sempre um idle consultant morre antes dos trinta e cinco anos, nunca de morte natural, a maior parte das vezes devido a acidente de viação, outras vezes por consumo excessivo de anti-depressivos, estupefacientes, doenças infecto-contagiosas, práticas sado-masoquistas ou eventualmente suicídio.
Um quarto para as dez, já cá estamos todos... os dezasseis.
Por entre martinis, caipirinhas, imperiais, um vodka martini "shaken not stirred", queijinhos de cabra e estaladiças tostas barradas com manteiga de alho, eles vão discutindo sobre as suas magníficas viaturas turbo diesel alemãs e sobre qual o melhor atalho para se deslocarem daqui para acolá, de ali para além e vice-versa, enquanto elas palram acerca dos filhos que querem vir a ter, de lojas, da última moda e outras coisas imperceptíveis que se confundem com o barulho que está no restaurante.
Peço um bitoque. Um bitoque não engana. Um bitoque é sempre um bitoque em qualquer restaurante, tasca ou casa deste país. É como um velho conhecido que nunca nos desilude, que nos acompanha num copo ao balcão de um qualquer bar quando estamos sós e com o qual debatemos sobre a importância do fio dental no rabo desta ou daquela gaja.
Sinto o meu espirito abandonar o meu corpo e elevar-se até ao nível das luzes fluorescentes do tecto. Qual super-herói de banda desenhada que observa o corrupio dos vultos nas ruas, do terraço de um edifício gótico numa noite de lua cheia, observo os acontecimentos à mesa. O meu corpo apático, essa cápsula carnal momentaneamente desprovida de qualquer vida interior, reage às estórias e piadas que contam, ora com esgares de sorriso, ora com sonoras gargalhadas. Tudo automatizado e com um timming tão perfeito que até pareço participar no jantar.
Observo-me degustar o bitoque em largas garfadas enquanto sorvo longos goles do tinto da casa. Começo a ficar ébrio, as faces rubrorizam-se, da minha boca começam a saltar para a mesa piadas fáceis e por vezes ordinárias. Ninguém fica chocado. Os gajos também estão embriagados cada um tentando ser mais engraçadinho do que o outro, as gajas encontram-se refugiadas na sua fortaleza de futilidades. Nada as pode atingir. Tenho calor, não sei se é provocado pelo tinto da casa ou pela proximidade das luzes fluorescentes do tecto. Talvez ambas.
Mais um copo de tinto. Seis copos de tinto depois, perdigotos da minha boca voam atingindo os mais próximos.
O empregado deposita um café à minha frente. Abençoado sejas. Bebo o café de um só trago, com um choque de realidade o meu espirito é atirado abruptamente de encontro ao meu corpo. Estou meio tonto. Pago a minha parte da conta, guardo o maço de tabaco, telemóvel, a carteira e levanto-me. As pernas pouca ou nenhuma força têm.
Despedimo-nos uns dos outros fazendo votos que este encontro se repita brevemente. Faço figas.
Chamo um taxi e debito ao taxista o que se assemelha a uma morada... a minha morada espero eu. Entre uma espécie de dois dedos de conversa com o taxista, percorremos a cidade. Chego a casa. São e salvo. Pelo menos por esta vez.
sexta-feira, 18 de março de 2005
Duelo ao sol
Segundo o NY Times, Bono Vox era um dos candidatos preferidos a ser o próximo líder do Banco Mundial. Isto é um completo disparate, mas para o remediar o tântrico Sting já ameaçou a edição de dois novos discos por ano, caso não seja ele o escolhido.
Sting, tou contigo. Tudo menos mais música de merda (isto também serve para ti, ó Bono).
Segundo o NY Times, Bono Vox era um dos candidatos preferidos a ser o próximo líder do Banco Mundial. Isto é um completo disparate, mas para o remediar o tântrico Sting já ameaçou a edição de dois novos discos por ano, caso não seja ele o escolhido.
Sting, tou contigo. Tudo menos mais música de merda (isto também serve para ti, ó Bono).
Journal Of An Idle Consultant
IV. Terapia
Um rasgo de felicidade enche-me as faces. Uma maravilha! vou-me repetindo até à exaustão, no interior do utilitário citadino com o aquecimento avariado.
Eis duas das vantagens de se trabalhar nos subúrbios:
- Uma: viaja-se sempre em sentido contrário ao do trânsito;
- Duas: não somos supostamente tão infelizes como os outros.
Uma maravilha! Só tem o que merecem! Repito-me até sentir uma certa náusea. Confesso gostar desta certa má disposição que sinto no estômago. A infelicidade dos outros pode ser por vezes cá um bálsamo. Já é Outono, a negra noite desce sobre nós cada vez mais cedo. Não háque enganar... os médios acesos das viaturas e os rostos apáticos dos seus condutores no regresso aos seus palacetes suburbanos adquiridos a trinta anos, definitivamente não enganam. Pelo menos assim tão de repente não enganam. Poucas coisas me devem fazer sentir melhor do que imaginar que as desgraças dos outros são piores que as nossas.
Gosto de ir ao final do dia a supermercados nos bairros bem da cidade. Duas a três vezes por semana cruzo a cidade rasgando o escuro manto outonal que a cobre. Escolho um supermercado de uma qualquer cadeia de um grande grupo económico. Entro. A iluminação branca fluorescente reflectida no chão de mosaico branco, nas paredes e expositores cremes, adquire um estranho tom acolhedor, quase uterino , uma espécie de deitar no divã do psiquiatra. A introspecção é obrigatória. Lentamente, como que ausente, percorro os corredores do supermercado. Soja, seitã, tofú. Alimentação para pseudo-iluminados Zen. Mais valia comerem cartão, sempre deve ser mais saboroso!. Picanha, peitos de peru, costeletas, orelha de porco. Sinto que alguma saliva se vai formando debaixo da minha língua. Corredor dos lacticínios. Leite gordo. Meio gordo. Magro. O relaxamento é total. movo-me tão lentamente que pareço estar a deslocar-me para trás.
Passo por uma família bem. Pai: perto dos quarenta, cabelo escuro puxado para trás à força de três camadas matinais de gel, a perder cabelo velozmente, casaco azul escuro com botões dourados e brasão ao peito e a pele ligeiramente bronzeada pelos passeios de fim de semana no pequeno iate do sogro. Mãe: trinta e poucos anos, loura de cabelos lisos pelos ombros, cara inchada do stress provocado pela empregada da Europa de Leste que apenas domina seis ou sete mil vocábulos em português, anca de quem foi abandonada pela beleza aquando do nascimento do terceiro rebento. Os rebentos: todos louros, um de uns prováveis oito anos corre velozmente para a secção das bolachas e chocolates, os outros dois, gémeos de trêsanos quais pequenos duendes de jardim agridem-se mutuamente provocando a ira dos pais. Sorrio.
Corredor das bebidas espirituosas. Enquanto percorro o corredor, vou tocando com as pontas dos dedos nas garrafas de whisky, gin e vodka. Que toque agradável. Escolho duas garrafas do melhor vodka russo e vou pagar. Numa das caixas um jovem casal de namorados, ambos de boas famílias discutem em alto e bom com a pobre da empregada, por qualquer coisa do género como o facto de esta ter colocado o pacote de bolachas digestivas da menina no mesmo saco de compras em que estavam os ovos.
À minha aproximação a porta automática do supermercado cede-me a passagem. Cá fora um vento frio e pequenas gotas de chuva que caiem sobre os pára-brisas dos automóveis estacionados aguardam-me.
Respiro fundo.
A vida pode não ser um mar de rosas, mas é pelo menos uma lata de mão de vaca com grão. Não cheira bem. Não sabe bem. Mas ao menos alimenta!
IV. Terapia
Um rasgo de felicidade enche-me as faces. Uma maravilha! vou-me repetindo até à exaustão, no interior do utilitário citadino com o aquecimento avariado.
Eis duas das vantagens de se trabalhar nos subúrbios:
- Uma: viaja-se sempre em sentido contrário ao do trânsito;
- Duas: não somos supostamente tão infelizes como os outros.
Uma maravilha! Só tem o que merecem! Repito-me até sentir uma certa náusea. Confesso gostar desta certa má disposição que sinto no estômago. A infelicidade dos outros pode ser por vezes cá um bálsamo. Já é Outono, a negra noite desce sobre nós cada vez mais cedo. Não háque enganar... os médios acesos das viaturas e os rostos apáticos dos seus condutores no regresso aos seus palacetes suburbanos adquiridos a trinta anos, definitivamente não enganam. Pelo menos assim tão de repente não enganam. Poucas coisas me devem fazer sentir melhor do que imaginar que as desgraças dos outros são piores que as nossas.
Gosto de ir ao final do dia a supermercados nos bairros bem da cidade. Duas a três vezes por semana cruzo a cidade rasgando o escuro manto outonal que a cobre. Escolho um supermercado de uma qualquer cadeia de um grande grupo económico. Entro. A iluminação branca fluorescente reflectida no chão de mosaico branco, nas paredes e expositores cremes, adquire um estranho tom acolhedor, quase uterino , uma espécie de deitar no divã do psiquiatra. A introspecção é obrigatória. Lentamente, como que ausente, percorro os corredores do supermercado. Soja, seitã, tofú. Alimentação para pseudo-iluminados Zen. Mais valia comerem cartão, sempre deve ser mais saboroso!. Picanha, peitos de peru, costeletas, orelha de porco. Sinto que alguma saliva se vai formando debaixo da minha língua. Corredor dos lacticínios. Leite gordo. Meio gordo. Magro. O relaxamento é total. movo-me tão lentamente que pareço estar a deslocar-me para trás.
Passo por uma família bem. Pai: perto dos quarenta, cabelo escuro puxado para trás à força de três camadas matinais de gel, a perder cabelo velozmente, casaco azul escuro com botões dourados e brasão ao peito e a pele ligeiramente bronzeada pelos passeios de fim de semana no pequeno iate do sogro. Mãe: trinta e poucos anos, loura de cabelos lisos pelos ombros, cara inchada do stress provocado pela empregada da Europa de Leste que apenas domina seis ou sete mil vocábulos em português, anca de quem foi abandonada pela beleza aquando do nascimento do terceiro rebento. Os rebentos: todos louros, um de uns prováveis oito anos corre velozmente para a secção das bolachas e chocolates, os outros dois, gémeos de trêsanos quais pequenos duendes de jardim agridem-se mutuamente provocando a ira dos pais. Sorrio.
Corredor das bebidas espirituosas. Enquanto percorro o corredor, vou tocando com as pontas dos dedos nas garrafas de whisky, gin e vodka. Que toque agradável. Escolho duas garrafas do melhor vodka russo e vou pagar. Numa das caixas um jovem casal de namorados, ambos de boas famílias discutem em alto e bom com a pobre da empregada, por qualquer coisa do género como o facto de esta ter colocado o pacote de bolachas digestivas da menina no mesmo saco de compras em que estavam os ovos.
À minha aproximação a porta automática do supermercado cede-me a passagem. Cá fora um vento frio e pequenas gotas de chuva que caiem sobre os pára-brisas dos automóveis estacionados aguardam-me.
Respiro fundo.
A vida pode não ser um mar de rosas, mas é pelo menos uma lata de mão de vaca com grão. Não cheira bem. Não sabe bem. Mas ao menos alimenta!
quinta-feira, 17 de março de 2005
quarta-feira, 16 de março de 2005
segunda-feira, 14 de março de 2005
O agradecimento
Numa cerimónia quase secreta, Paulo Portas aproveitou o último dia de mandato para condecorar 12 personalidades. Entre elas estava o ministro das Finanças, António Bagão Félix.
O sentido de oportunidade de Portas revelou-se fantástico, não apenas por ser o último dia do seu mandato mas porque foi também nesse dia que, segundo o Instituto Nacional de Estatística, Portugal regressou oficialmente à recessão económica.
Muito obrigado, Bagão, pelo bom trabalho.
Numa cerimónia quase secreta, Paulo Portas aproveitou o último dia de mandato para condecorar 12 personalidades. Entre elas estava o ministro das Finanças, António Bagão Félix.
O sentido de oportunidade de Portas revelou-se fantástico, não apenas por ser o último dia do seu mandato mas porque foi também nesse dia que, segundo o Instituto Nacional de Estatística, Portugal regressou oficialmente à recessão económica.
Muito obrigado, Bagão, pelo bom trabalho.
Journal Of An Idle Consultant
III. Cafeína
O verdadeiro idle consultant bebe entre quatro a seis cafés por dia. O mínimo obrigatório são: um café ao sair de casa, outro a meio da manhã entre as dez e meia e as onze e meia da manhã, um a seguir ao almoço e outro a meio da tarde.
Como se de um ritual maçónico se tratasse, cumpro diária e religiosamente a minha quota-parte de consumo diário de café. Tarefa árdua e extenuante, mas obrigatória, para que os sentidos estejam sempre alerta e permitam reagir prontamente a qualquer solicitação e aos milhares de informações que são despejados todos os segundos no monitor do meu computador. Guerras, inovações tecnológicas, convulsões políticas, quedas da bolsa, tudo passa diante dos meus olhos a velocidade vertiginosa qual carrossel da selva. Há que estar atento!
Todo o santo dia presto a vassalagem a essa espécie de rei tirano medieval do século XXI a quem chamam de Máquina de Café Automática. Prostro-me diante dela e em troca de dois cobres, ela com a sua magnificência e delicadeza frias do metal e plásticos da sua armadura encarrega-se de me dar tudo o que necessito, cafeína e mais cafeína. Por vezes qual cobrador de impostos indisposto leva-me mais do que as duas moedas de cobre. Vilanagem!. Apetece-me desafiá-la para um duelo ao nascer do sol, atrás da sala de reuniões. Sem testemunhas.Confesso no entanto que os seus botões e luzinhas, me intimidam... Tenho medo é um facto.
Muitas foram as noites em branco que passei a orquestrar a minha solene e doce vingança. Já pensei em envenená-la com pequenas moedas do Congo Belga, atacá-la com um extintor, abrir-lhe a sua enorme bocarra e obrigá-la a engolir neve carbónica até começar a vomitar capuccinos pela ranhura das moedas ou até pensei em desligá-la da corrente.
Não consigo. Sou um fraco! Mais uma vez me encontro curvado em sinal de obediência perante o monstro, enquanto retiro com todas as precauções mais um café das suas entranhas. Tenho medo que me arranque um braço e me perfure o baço. Tiro o café da sua boca, o monstro não me mordeu, nem me cuspiu, faço o caminho de regresso ao meu lugar. Sinto no meu pescoço duas luzinhas vermelhas que me seguem, um calafrio percorre-me a espinha, sento-me na minha cadeira e por cima do monitor lanço-lhe um olhar fulminante.Ela vê-me. Odeia-me. Não faz mal. O sentimento é reciproco.
III. Cafeína
O verdadeiro idle consultant bebe entre quatro a seis cafés por dia. O mínimo obrigatório são: um café ao sair de casa, outro a meio da manhã entre as dez e meia e as onze e meia da manhã, um a seguir ao almoço e outro a meio da tarde.
Como se de um ritual maçónico se tratasse, cumpro diária e religiosamente a minha quota-parte de consumo diário de café. Tarefa árdua e extenuante, mas obrigatória, para que os sentidos estejam sempre alerta e permitam reagir prontamente a qualquer solicitação e aos milhares de informações que são despejados todos os segundos no monitor do meu computador. Guerras, inovações tecnológicas, convulsões políticas, quedas da bolsa, tudo passa diante dos meus olhos a velocidade vertiginosa qual carrossel da selva. Há que estar atento!
Todo o santo dia presto a vassalagem a essa espécie de rei tirano medieval do século XXI a quem chamam de Máquina de Café Automática. Prostro-me diante dela e em troca de dois cobres, ela com a sua magnificência e delicadeza frias do metal e plásticos da sua armadura encarrega-se de me dar tudo o que necessito, cafeína e mais cafeína. Por vezes qual cobrador de impostos indisposto leva-me mais do que as duas moedas de cobre. Vilanagem!. Apetece-me desafiá-la para um duelo ao nascer do sol, atrás da sala de reuniões. Sem testemunhas.Confesso no entanto que os seus botões e luzinhas, me intimidam... Tenho medo é um facto.
Muitas foram as noites em branco que passei a orquestrar a minha solene e doce vingança. Já pensei em envenená-la com pequenas moedas do Congo Belga, atacá-la com um extintor, abrir-lhe a sua enorme bocarra e obrigá-la a engolir neve carbónica até começar a vomitar capuccinos pela ranhura das moedas ou até pensei em desligá-la da corrente.
Não consigo. Sou um fraco! Mais uma vez me encontro curvado em sinal de obediência perante o monstro, enquanto retiro com todas as precauções mais um café das suas entranhas. Tenho medo que me arranque um braço e me perfure o baço. Tiro o café da sua boca, o monstro não me mordeu, nem me cuspiu, faço o caminho de regresso ao meu lugar. Sinto no meu pescoço duas luzinhas vermelhas que me seguem, um calafrio percorre-me a espinha, sento-me na minha cadeira e por cima do monitor lanço-lhe um olhar fulminante.Ela vê-me. Odeia-me. Não faz mal. O sentimento é reciproco.
sexta-feira, 11 de março de 2005
quarta-feira, 9 de março de 2005
Falta de assunto
(via messenger)
Ana Raquel - Olááá!
Raviolli_Ninja - Çá Vá?
Ana Raquel - Ah oui...
Raviolli_Ninja - Qué contas?
Ana Raquel - Rien de rien. Tout na même...
Ana Raquel - Coma a lêsme...
Raviolli_Ninja - Lêsmes nã se comem, só los escargotes.
Raviolli_Ninja - Se bem que davam menos trabalho a comer...
Raviolli_Ninja - Mas era a desgraça da indústria dos alfinetes.
(via messenger)
Ana Raquel - Olááá!
Raviolli_Ninja - Çá Vá?
Ana Raquel - Ah oui...
Raviolli_Ninja - Qué contas?
Ana Raquel - Rien de rien. Tout na même...
Ana Raquel - Coma a lêsme...
Raviolli_Ninja - Lêsmes nã se comem, só los escargotes.
Raviolli_Ninja - Se bem que davam menos trabalho a comer...
Raviolli_Ninja - Mas era a desgraça da indústria dos alfinetes.
terça-feira, 8 de março de 2005
O bom exemplo
Numa fábrica de Arcos de Valdevez, encontramos o bom exemplo.
A Confecções Afonso, têxtil, pertence a um grupo de empresários alemães, que pretendem deslocalizar a produção para a República Checa, onde os salários são mais baixos, e a exploração mais fácil.
Depois de uma reunião normal, para tratar de assuntos correntes, os empresários alemães voltaram à fábrica nessa mesma noite, começando a retirar clandestinamente o material da empresa.
Uma das funcionárias notou a estranha movimentação, alertando as colegas e posteriormente a GNR.
À frente da barreira humana, Conceição Pinhão, gerente da fábrica, assalariada como as outras 97 mulheres que ali trabalham.
Sempre apelando à calma, "para continuarmos com a razão do nosso lado", a gerente deixou a GNR fazer, por uma vez, o seu trabalho. As máquinas ficaram, os empresários desapareceram para sempre, deixando salários em atraso mas também os equipamentos de produção.
Conceição Pinhão não desistiu. Tomou conta da fábrica e todas as trabalhadoras continuaram em actividade.
Pagou três meses de salários em atraso, negociou com clientes, fornecedores e com a Segurança Social, e as encomendas não páram de chegar.
Graças a esta auto-gestão, 98 postos de trabalho foram salvos.
Uma história esperançosa e verdadeira, no dia internacional da mulher.
Numa fábrica de Arcos de Valdevez, encontramos o bom exemplo.
A Confecções Afonso, têxtil, pertence a um grupo de empresários alemães, que pretendem deslocalizar a produção para a República Checa, onde os salários são mais baixos, e a exploração mais fácil.
Depois de uma reunião normal, para tratar de assuntos correntes, os empresários alemães voltaram à fábrica nessa mesma noite, começando a retirar clandestinamente o material da empresa.
Uma das funcionárias notou a estranha movimentação, alertando as colegas e posteriormente a GNR.
À frente da barreira humana, Conceição Pinhão, gerente da fábrica, assalariada como as outras 97 mulheres que ali trabalham.
Sempre apelando à calma, "para continuarmos com a razão do nosso lado", a gerente deixou a GNR fazer, por uma vez, o seu trabalho. As máquinas ficaram, os empresários desapareceram para sempre, deixando salários em atraso mas também os equipamentos de produção.
Conceição Pinhão não desistiu. Tomou conta da fábrica e todas as trabalhadoras continuaram em actividade.
Pagou três meses de salários em atraso, negociou com clientes, fornecedores e com a Segurança Social, e as encomendas não páram de chegar.
Graças a esta auto-gestão, 98 postos de trabalho foram salvos.
Uma história esperançosa e verdadeira, no dia internacional da mulher.
Os maus exemplos
Os operários da Opel da fábrica da Azambuja estarão em greve na quinta-feira. É um direito seu, consagrado constitucionalmente, mas a empresa já veio dizer que essa greve pode originar a perda dos postos de trabalho. Isto apesar de, de acordo com a lei fundamental, a greve não poder servir de base a despedimento, por se tratar do legítimo exercício de um direito.
O que se está a passar com a Opel é sintomático do estado a que chegámos.
O grupo diz que tem de fechar fábricas. Como tal, coloca as fábricas europeias (Polónia, Alemanha, Espanha, Portugal, etc) a competirem entre si. Sobreviverão aquelas "que se mostrarem mais flexíveis", ou seja, que aceitarem menos direitos e menos salário, e se possível trabalhando mais. Trabalhadores contra trabalhadores, para o enriquecimento de outros, os donos.
Depois dos inúmeros exemplos que já tivemos em Portugal, será que é este o tipo de investimento estrangeiro que queremos? Será que faz sentido continuar a aceitar tudo e mais alguma coisa, tornarmo-nos "competitivos", para receber investimento que só quer aproveitar baixo custo de mão de obra?Competitivo não é dizer sim a tudo, mas os políticos ainda não perceberam.
Entende-se, sempre tiveram e terão o salário garantido, sem precisar de renegociar horários de trabalho ou sequer de sujar as mãos.
Se no primeiro caso falamos de uma multinacional, falemos agora da Portugal Telecom.
A empresa anunciou recentemente que duplicou o seu lucro em 2004, para 500 milhões de euros. No mesmo dia, anunciou que vai cortar mil postos de trabalho.
Os investidores aplaudem a falta de escrúpulos, a empresa diverte-se, o Estado assobia para o lado.
Os trabalhadores, esses, continuam a ser carne para canhão, nada mais.
Os operários da Opel da fábrica da Azambuja estarão em greve na quinta-feira. É um direito seu, consagrado constitucionalmente, mas a empresa já veio dizer que essa greve pode originar a perda dos postos de trabalho. Isto apesar de, de acordo com a lei fundamental, a greve não poder servir de base a despedimento, por se tratar do legítimo exercício de um direito.
O que se está a passar com a Opel é sintomático do estado a que chegámos.
O grupo diz que tem de fechar fábricas. Como tal, coloca as fábricas europeias (Polónia, Alemanha, Espanha, Portugal, etc) a competirem entre si. Sobreviverão aquelas "que se mostrarem mais flexíveis", ou seja, que aceitarem menos direitos e menos salário, e se possível trabalhando mais. Trabalhadores contra trabalhadores, para o enriquecimento de outros, os donos.
Depois dos inúmeros exemplos que já tivemos em Portugal, será que é este o tipo de investimento estrangeiro que queremos? Será que faz sentido continuar a aceitar tudo e mais alguma coisa, tornarmo-nos "competitivos", para receber investimento que só quer aproveitar baixo custo de mão de obra?Competitivo não é dizer sim a tudo, mas os políticos ainda não perceberam.
Entende-se, sempre tiveram e terão o salário garantido, sem precisar de renegociar horários de trabalho ou sequer de sujar as mãos.
Se no primeiro caso falamos de uma multinacional, falemos agora da Portugal Telecom.
A empresa anunciou recentemente que duplicou o seu lucro em 2004, para 500 milhões de euros. No mesmo dia, anunciou que vai cortar mil postos de trabalho.
Os investidores aplaudem a falta de escrúpulos, a empresa diverte-se, o Estado assobia para o lado.
Os trabalhadores, esses, continuam a ser carne para canhão, nada mais.
Journal Of An Idle Consultant
II. Alegremente caminhamos para o abismo
Encontro-me sentado no meu posto de trabalho, são dez e meia da manhã e pela terceira vez este mês não há internet. Não sei o que passa lá fora no mundo exterior, ou se sequer ainda existe mundo exterior.
Será que as promessas de guerra, atentados à bomba e assassinatos políticos do fim de semana passado se estão a concretizar?
É quarta-feira. Aqui no buraco tudo continua impávido e sereno, como se o mundo lá fora não existisse. Levanto os olhos por cima do monitor do computador e perscruto até onde a vista alcança o escritório, dezenas de computadores e cabecinhas de idle consultants atrás destes. Nada os perturba, nem sequer o facto de a qualquer momento, tudo poder terminar, de forma inversa ao final de uma qualquer telenovela sul-americana... Sem um final feliz.
Gostava de ter uma AK-47 ou uma outra qualquer arma semi-automática na gaveta dos meus pertences. Poderia assim, de vez em quando, subir para cima da minha secretária e gritar: Sua cambada de consultores amorfos! Não sabem que estamos àbeira do abismo?. Eles não responderiam, ou porque não sabem ou porque não se importam. Escolheria um idle consultant aleatoriamente, faria pontaria à sua pequena e oca cabeça e dispararia um único tiro certeiro que o atingiria na nuca e espalharia uma pasta levemente cerebral sobre o seu monitor. Provavelmente ninguém daria por nada, apenas e eventualmente a empregada de limpeza no dia seguinte que se encarregaria de raspar o cadáver do soalho e jogá-lo no lixo juntamente com as resmas de fotocópias mal tiradas e folhas que a impressora não soube imprimir. O monitor seria limpo e reluzente aguardaria pelo próximo consultor. Dizem que abater alguém por trás écobardia... eu gosto de lhe chamar misericórdia.
De repente as massas amorfas começam a movimentar-se e pelo escritório ecoa de que o carrinho da comida está láfora à espera... são onze horas. Olho para as miniaturas de janelas que se encontram junto ao tecto do escritório e vislumbro um céu cinzento e ameaçador... já não sei se estamos em Setembro ou se já caímos no abismo.
II. Alegremente caminhamos para o abismo
Encontro-me sentado no meu posto de trabalho, são dez e meia da manhã e pela terceira vez este mês não há internet. Não sei o que passa lá fora no mundo exterior, ou se sequer ainda existe mundo exterior.
Será que as promessas de guerra, atentados à bomba e assassinatos políticos do fim de semana passado se estão a concretizar?
É quarta-feira. Aqui no buraco tudo continua impávido e sereno, como se o mundo lá fora não existisse. Levanto os olhos por cima do monitor do computador e perscruto até onde a vista alcança o escritório, dezenas de computadores e cabecinhas de idle consultants atrás destes. Nada os perturba, nem sequer o facto de a qualquer momento, tudo poder terminar, de forma inversa ao final de uma qualquer telenovela sul-americana... Sem um final feliz.
Gostava de ter uma AK-47 ou uma outra qualquer arma semi-automática na gaveta dos meus pertences. Poderia assim, de vez em quando, subir para cima da minha secretária e gritar: Sua cambada de consultores amorfos! Não sabem que estamos àbeira do abismo?. Eles não responderiam, ou porque não sabem ou porque não se importam. Escolheria um idle consultant aleatoriamente, faria pontaria à sua pequena e oca cabeça e dispararia um único tiro certeiro que o atingiria na nuca e espalharia uma pasta levemente cerebral sobre o seu monitor. Provavelmente ninguém daria por nada, apenas e eventualmente a empregada de limpeza no dia seguinte que se encarregaria de raspar o cadáver do soalho e jogá-lo no lixo juntamente com as resmas de fotocópias mal tiradas e folhas que a impressora não soube imprimir. O monitor seria limpo e reluzente aguardaria pelo próximo consultor. Dizem que abater alguém por trás écobardia... eu gosto de lhe chamar misericórdia.
De repente as massas amorfas começam a movimentar-se e pelo escritório ecoa de que o carrinho da comida está láfora à espera... são onze horas. Olho para as miniaturas de janelas que se encontram junto ao tecto do escritório e vislumbro um céu cinzento e ameaçador... já não sei se estamos em Setembro ou se já caímos no abismo.
segunda-feira, 7 de março de 2005
A birra
O CDS/PP, vexado com a nomeação de Freitas do Amaral como ministro do próximo governo PS, retirou da parede da sua sede a fotografia do dito senhor, enviando-a para o Largo do Rato, quartel-general dos ditos socialistas.
Não é a primeira vez que uma coisa destas acontece. Freitas tinha já sido esquecido pelos populares em congressos, mesmo no simbólico encontro deste ano no Palácio de Cristal. Manuel Monteiro foi outro dos esquecidos, mas creio que deste eles se esqueceram mesmo, não foi por mal.
Para um partido que fala à boca cheia dos trotskistas a um ponto dos democratas-cristãos, este ritual estalinista é absolutamente hilariante.
Não é apenas a reescrita do passado, a revisão em que estes senhores são tão bons, depois da rábula do R da Evolução de Abril. O PP é, verdadeiramente, uma galinha sem cabeça.
Esta acção não passa de uma birra, demonstrativa do carácter de um partido para quem a palavra democracia apenas lhes serve quando estão no poder, e para meter o eleitorado queque com medo dos perigosos esquerdistas.
Sem Portas, o PP não existe. Aliás, sem Portas, o PP nunca existiu, seja nos bastidores ou sob os holofotes.
Este momento de completos mau-perder e desnorte dos direitinhas é um cenário longamente sonhado.
Apreciemos então cada delicioso momento deste moribundo partido.
Do poder à cova.
RIP.
O CDS/PP, vexado com a nomeação de Freitas do Amaral como ministro do próximo governo PS, retirou da parede da sua sede a fotografia do dito senhor, enviando-a para o Largo do Rato, quartel-general dos ditos socialistas.
Não é a primeira vez que uma coisa destas acontece. Freitas tinha já sido esquecido pelos populares em congressos, mesmo no simbólico encontro deste ano no Palácio de Cristal. Manuel Monteiro foi outro dos esquecidos, mas creio que deste eles se esqueceram mesmo, não foi por mal.
Para um partido que fala à boca cheia dos trotskistas a um ponto dos democratas-cristãos, este ritual estalinista é absolutamente hilariante.
Não é apenas a reescrita do passado, a revisão em que estes senhores são tão bons, depois da rábula do R da Evolução de Abril. O PP é, verdadeiramente, uma galinha sem cabeça.
Esta acção não passa de uma birra, demonstrativa do carácter de um partido para quem a palavra democracia apenas lhes serve quando estão no poder, e para meter o eleitorado queque com medo dos perigosos esquerdistas.
Sem Portas, o PP não existe. Aliás, sem Portas, o PP nunca existiu, seja nos bastidores ou sob os holofotes.
Este momento de completos mau-perder e desnorte dos direitinhas é um cenário longamente sonhado.
Apreciemos então cada delicioso momento deste moribundo partido.
Do poder à cova.
RIP.
quinta-feira, 3 de março de 2005
Journal of an Idle Consultant
I. Dormência
Segunda-feira...
Oito menos dez, a mini-micro-aparelhagem faz click, o som em volume reduzido do programa matinal da rádio acorda-me meia-dúzia de neurónios... poucos, inúteis e perfeitamente dispensáveis. Ignoro o clickda mini-micro-aparelhagem, o programa matinal em geral e o mundo em particular.
Oito e dez.... oito e treze, diz o apresentador lá do outro lado rádio. Ele lá deve saber. O alarme do telemóvel, inicia o seu toque num crescendo sonoro, no mínimo irritante... e qual pára-quedas de emergência, resgata-me para a realidade, impedindo de me estatelar no sono profundo. Quatro outros neurónios despertam. Está reunido o número mínimo necessário à execução dos procedimentos básicos do desligar o alarme do telemóvel, sair da cama e higiene diária.
Primeira dificuldade do dia. Por opção estratégica, o telemóvel encontra-se afastado do raio de acção dos braços, não vá um qualquer reflexo despropositado inibi-lo de incumbir a sua missão matinal. O telemóvel encontra-se algures debaixo da cama, com um movimento de torção do corpo e jogando o braço direito tento alcançar o aparelho... não o encontro. Nada sinto. Tento com o braço esquerdo e também nada acontece. Dois neurónios despertam e segredam-me: Tens os dois braços dormentes!. Devia ter desconfiado, afinal nem sequer consegui torcer o corpo para chegar à beira da cama. Devo estar na mesma posição há pelo menos 5 minutos. Oito horas e vinte e sete minutos, confessa-me o senhor da rádio. Pela quarta vez na vida, desde que me lembro, sinto-me totalmente incapacitado, paralisado, qual super homem tetraplégico. Tento fazer retornar a força e o movimento aos braços, com vigorosos e desesperados movimentos de olhos e contorcendo o nariz, o sangue recomeça a fluir novamente nos membros superiores.
Num ápice rebolo para a beira da cama e tacteio velozmente por baixo desta. Encontro finalmente o sacana do telemóvel que ainda não se calou. Amordaço-o e amaldiçoo-o. Silêncio...
Vinte para as nove diz o chato da rádio. Até parece que lhe perguntei alguma coisa. Merda!!!, digo eu que entro às nove da manhã e ainda levo no mínimo trinta minutos de caminho até ao trabalho.
Tenho que ser rápido, preciso dum duche... gelado. Devia de ter pago a conta do gás na semana passada. Bem feita! Para a próxima já não te esqueces... digo isto há três anos e quase todos os meses é sempre a mesma coisa. Com os testículos mirrados e ainda com as costas húmidas regresso apressadamente ao quarto para envergar a farda imposta pelo rígido dress code da idle consultancy. Visto os boxers e calço as meias - post-it mental: estes eram os últimos boxers e meias lavadas, lavar tudo logo à noite - visto as calças, a camisa e ponho a gravata com o nó Windsor que não é desfeito já há três meses - ou será que são seis meses? Não me recordo.
Noticias das nove na rádio. Dizem-me que um comboio descarrilou na Nicarágua, setenta e sete ou setenta e oito mortos, não sabem precisar. Sorte a deles que já não tem que entrar às nove. Pego no casaco, dirijo-me para o carro. Distância aproximada: noventa metros.
A trinta e cinco metros do carro passo pela porta do café. Indeciso, paro e penso se entro para tomar um café e comprar cigarros ou se sigo directo para o trabalho. Com um cafézinho a viagem faz-se melhor. Entro! Afinal, já estou atrasado mesmo, que diferença farão mais cinco minutos, peço o café e os cigarros, bebo café e pago a conta. No rádio do café passa uma merda qualquer da Céline Dion esta gaja nunca mais morre! alguém diz que são nove e dezanove. Já não suporto a história das horas. Sigo para a viatura.
Allegro ma non troppo... Reparo na loura jeitosa que se atravessa à minha frente, mama e rabo rijos, deve ter dezasseis anos no máximo... talvez quinze.
Último semáforo antes da auto-estrada... Auto-estrada. Todos os aselhas do mundo que vão atrasados para o trabalho atravessam-se à minha frente, mais as lesmas das escolas de condução. Hoje apanhei com três deles. Nunca baixar dos cento e quarenta é o lema, dezoito quilómetros depois e menos de cinco minutos de caminho, saio da auto-estrada, menos de três quilómetros me separam do purgatório. Consigo estacionar o carro a três edifícios de distância do trabalho, últimas passadas apressadas e finalmente a porta.
Nove horas, quarenta e nove minutos e onze segundos... Pico o ponto!
I. Dormência
Segunda-feira...
Oito menos dez, a mini-micro-aparelhagem faz click, o som em volume reduzido do programa matinal da rádio acorda-me meia-dúzia de neurónios... poucos, inúteis e perfeitamente dispensáveis. Ignoro o clickda mini-micro-aparelhagem, o programa matinal em geral e o mundo em particular.
Oito e dez.... oito e treze, diz o apresentador lá do outro lado rádio. Ele lá deve saber. O alarme do telemóvel, inicia o seu toque num crescendo sonoro, no mínimo irritante... e qual pára-quedas de emergência, resgata-me para a realidade, impedindo de me estatelar no sono profundo. Quatro outros neurónios despertam. Está reunido o número mínimo necessário à execução dos procedimentos básicos do desligar o alarme do telemóvel, sair da cama e higiene diária.
Primeira dificuldade do dia. Por opção estratégica, o telemóvel encontra-se afastado do raio de acção dos braços, não vá um qualquer reflexo despropositado inibi-lo de incumbir a sua missão matinal. O telemóvel encontra-se algures debaixo da cama, com um movimento de torção do corpo e jogando o braço direito tento alcançar o aparelho... não o encontro. Nada sinto. Tento com o braço esquerdo e também nada acontece. Dois neurónios despertam e segredam-me: Tens os dois braços dormentes!. Devia ter desconfiado, afinal nem sequer consegui torcer o corpo para chegar à beira da cama. Devo estar na mesma posição há pelo menos 5 minutos. Oito horas e vinte e sete minutos, confessa-me o senhor da rádio. Pela quarta vez na vida, desde que me lembro, sinto-me totalmente incapacitado, paralisado, qual super homem tetraplégico. Tento fazer retornar a força e o movimento aos braços, com vigorosos e desesperados movimentos de olhos e contorcendo o nariz, o sangue recomeça a fluir novamente nos membros superiores.
Num ápice rebolo para a beira da cama e tacteio velozmente por baixo desta. Encontro finalmente o sacana do telemóvel que ainda não se calou. Amordaço-o e amaldiçoo-o. Silêncio...
Vinte para as nove diz o chato da rádio. Até parece que lhe perguntei alguma coisa. Merda!!!, digo eu que entro às nove da manhã e ainda levo no mínimo trinta minutos de caminho até ao trabalho.
Tenho que ser rápido, preciso dum duche... gelado. Devia de ter pago a conta do gás na semana passada. Bem feita! Para a próxima já não te esqueces... digo isto há três anos e quase todos os meses é sempre a mesma coisa. Com os testículos mirrados e ainda com as costas húmidas regresso apressadamente ao quarto para envergar a farda imposta pelo rígido dress code da idle consultancy. Visto os boxers e calço as meias - post-it mental: estes eram os últimos boxers e meias lavadas, lavar tudo logo à noite - visto as calças, a camisa e ponho a gravata com o nó Windsor que não é desfeito já há três meses - ou será que são seis meses? Não me recordo.
Noticias das nove na rádio. Dizem-me que um comboio descarrilou na Nicarágua, setenta e sete ou setenta e oito mortos, não sabem precisar. Sorte a deles que já não tem que entrar às nove. Pego no casaco, dirijo-me para o carro. Distância aproximada: noventa metros.
A trinta e cinco metros do carro passo pela porta do café. Indeciso, paro e penso se entro para tomar um café e comprar cigarros ou se sigo directo para o trabalho. Com um cafézinho a viagem faz-se melhor. Entro! Afinal, já estou atrasado mesmo, que diferença farão mais cinco minutos, peço o café e os cigarros, bebo café e pago a conta. No rádio do café passa uma merda qualquer da Céline Dion esta gaja nunca mais morre! alguém diz que são nove e dezanove. Já não suporto a história das horas. Sigo para a viatura.
Allegro ma non troppo... Reparo na loura jeitosa que se atravessa à minha frente, mama e rabo rijos, deve ter dezasseis anos no máximo... talvez quinze.
Último semáforo antes da auto-estrada... Auto-estrada. Todos os aselhas do mundo que vão atrasados para o trabalho atravessam-se à minha frente, mais as lesmas das escolas de condução. Hoje apanhei com três deles. Nunca baixar dos cento e quarenta é o lema, dezoito quilómetros depois e menos de cinco minutos de caminho, saio da auto-estrada, menos de três quilómetros me separam do purgatório. Consigo estacionar o carro a três edifícios de distância do trabalho, últimas passadas apressadas e finalmente a porta.
Nove horas, quarenta e nove minutos e onze segundos... Pico o ponto!
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