quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
Última posta idiota de 2009
Boris Vian, apesar dos problemas de coração, insistia em tocar trompete. Guevara, apesar da asma, insistia em fumar os seus charutos cubanos. Eu próprio, apesar dos pequenos cancros que tenho alojados em cada um dos meus dedos, insisto em escrever estas idiotices. Bom ano, pessoal.
Que venha o próximo
Na ausência dos espectaculares balanços que, em tempos idos, ocupavam este tasco no lindo mês de Dezembro, aqui fica uma singela mensagem de final de ano.
2009 foi mau. Podia dizer que foi desafiante, interessante, complexo, bla, bla, bla. Não é verdade. Foi um ano miserável e felizmente o senhor calendário já avança, de caçadeira em punho, para o abater sem misericórdia. Foi uma merda. Triste, deprimente, injusto. Tudo aquilo que um ano decente nunca seria.
Para além da crise, do estado deste lindo e pobre país, a nível pessoal também não foi brilhante. Foi, aliás, duríssimo.
O único consolo é que, no fundo, ainda aqui estou, ainda sou rodeado pelas pessoas que amo, e que vai ser preciso realmente mais para me derrubar.
De qualquer forma, acredito que 2010 será, de facto, um ano extraordinário. Não sei porquê. Chamem-lhe um feeling, uma estúpida crença no karma, no equilíbrio cósmico. Sinto que, de alguma forma, a vida me deve algo. Estou à espera.
Aqui ficam os meus votos pessoais para 2010:
1 - mudar de emprego
2 - tentar deixar de fumar
3 - acabar o livro que estou a escrever há ano e meio
4 - que o Glorioso seja campeão
5 - saúde para todos os amigos e família
6 - continuar a alimentar este tamagotchi malnutrido chamado Vodka Atónito
7 - que venha um very little bastard.
Boas entradas e um bom ano para todos.
2009 foi mau. Podia dizer que foi desafiante, interessante, complexo, bla, bla, bla. Não é verdade. Foi um ano miserável e felizmente o senhor calendário já avança, de caçadeira em punho, para o abater sem misericórdia. Foi uma merda. Triste, deprimente, injusto. Tudo aquilo que um ano decente nunca seria.
Para além da crise, do estado deste lindo e pobre país, a nível pessoal também não foi brilhante. Foi, aliás, duríssimo.
O único consolo é que, no fundo, ainda aqui estou, ainda sou rodeado pelas pessoas que amo, e que vai ser preciso realmente mais para me derrubar.
De qualquer forma, acredito que 2010 será, de facto, um ano extraordinário. Não sei porquê. Chamem-lhe um feeling, uma estúpida crença no karma, no equilíbrio cósmico. Sinto que, de alguma forma, a vida me deve algo. Estou à espera.
Aqui ficam os meus votos pessoais para 2010:
1 - mudar de emprego
2 - tentar deixar de fumar
3 - acabar o livro que estou a escrever há ano e meio
4 - que o Glorioso seja campeão
5 - saúde para todos os amigos e família
6 - continuar a alimentar este tamagotchi malnutrido chamado Vodka Atónito
7 - que venha um very little bastard.
Boas entradas e um bom ano para todos.
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
Esclarecimento
A mulher do estupefacto amarelo sonhou esta noite que eu a traía com uma bailarina chinesa. Para que não haja qualquer equívoco, venho por este meio declarar publicamente que é tudo mentira.
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
La nostalgie, camarade
Muitas vezes aquilo que entendemos como progresso acaba por nos tornar prisioneiros de uma falsa facilidade que, em tempos, não nos fazia falta para nada.
Um pequeno exemplo:
Um pequeno exemplo:
1 - 1991; um colega leva para a escola um exemplar da Gina surripiado ao pai. Um mundo novo abre-se de repente, e durante anos o maravilhoso universo porno esteve ali, tranquilo, companheiro, do quiosque ao pé do Pingo Doce da Rebelva para o conforto da parte de baixo do colchão.
2 - fast forward para 2002; a internet faz a sua entrada tímida na casa do mesmo rapaz.
3 - fast forward para 2004; o dito rapaz entende que é hora de se livrar do seu património de porno acumulado, já não com medo de ser catado pela mãe, mas de ser catado pela namorada. Afinal já havia internet ou, como ele gostava de lhe chamar, a máquina do porno.
4 - fast forward para 2009 - o rapaz, já de barba rija, fica várias semanas sem internet em casa. E o colchão sem nada, nem uma revista, nem um posterzito maroto, nem um calendário de oficina. Nada.
Digam o que disserem, uma Gina é uma Gina.
sábado, 26 de dezembro de 2009
Upgraded & ready to rock
Depois de um problema técnico mais complicado do que o esperado - e que ainda não está resolvido - estou de volta ao vosso convívio.
Obviamente tenho acompanhado a evolução do nosso querido tasco, entregue às mãos inexperientes mas bem intencionadas do nosso camarada amarelo. Mas, se bem que tenha apreciado o seu contributo (nomeadamente a foto do post chamado Little Christmas em que a tipa tem umas mamas realmente bestiais), a verdade é que fiquei todo roído por, devido à falta de computador em casa, não poder comentar pequenos nacos da realidade deste país que não cessa de me surpreender.
Desde os deputados a chamarem-se de palhaços, ao meu grande Benfica, às tricas do Socras com o senhor do bolo-rei, passando pela jogada de mestre de roubar o rébu er raisse do porto para lisboa, tanta coisa haveria para dizer.
Surpreendo-me até como foi possível ao mundo interpretar tudo isto, e até continuar a girar direitinho no seu eixo, sem os meus fabulosos comentários.
Enfim, o vosso martírio terminou.
Continuo a apelar aos antigos frequentadores deste tasco que regressem do seu exílio dourado. Ainda assim, com a inteligência do amarelo e com os meus looks, o vodka está bem e recomenda-se.
Boas festas para todos.
Obviamente tenho acompanhado a evolução do nosso querido tasco, entregue às mãos inexperientes mas bem intencionadas do nosso camarada amarelo. Mas, se bem que tenha apreciado o seu contributo (nomeadamente a foto do post chamado Little Christmas em que a tipa tem umas mamas realmente bestiais), a verdade é que fiquei todo roído por, devido à falta de computador em casa, não poder comentar pequenos nacos da realidade deste país que não cessa de me surpreender.
Desde os deputados a chamarem-se de palhaços, ao meu grande Benfica, às tricas do Socras com o senhor do bolo-rei, passando pela jogada de mestre de roubar o rébu er raisse do porto para lisboa, tanta coisa haveria para dizer.
Surpreendo-me até como foi possível ao mundo interpretar tudo isto, e até continuar a girar direitinho no seu eixo, sem os meus fabulosos comentários.
Enfim, o vosso martírio terminou.
Continuo a apelar aos antigos frequentadores deste tasco que regressem do seu exílio dourado. Ainda assim, com a inteligência do amarelo e com os meus looks, o vodka está bem e recomenda-se.
Boas festas para todos.
Um crime ao pequeno-almoço
Hoje de manhã fui buscar um crime ao frigorífico, olhei para a embalagem e deitei-o fora: estava prescrito.
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
Composição
Eu gosto muito do Natal porque recebo muitas prendas. Eu não gosto nada do Natal porque tenho que gastar muito dinheiro para oferecer muitas prendas aos outros e depois fico sem dinheiro para comprar coisas para mim. Por causa disso, eu engano os outros, recebendo prendas, mas não oferecendo nenhuma prenda. Os outros são muito inteligentes e percebem logo e para o ano não me oferecem prenda nenhuma e eu fico triste a achar que ninguém gosta de mim. Eu volto a oferecer prendas aos outros para oferecerem prendas a mim e voltarem a gostar de mim. Eu volto a enganar os outros oferecendo prendas que custam poucas moedas e recebendo prendas dque custam muitas, muitas moedas. Os outros são muito inteligentes e percebem logo e para o ano só me oferecem prendas que custam poucas moedas e eu fico triste a achar que ninguém gosta de mim. Este ano eu pedi ao Pai Natal para o Natal e a vida não serem coisas tão complicadas. Ontem à noite eu recebi muitas meias brancas, muitas meias brancas, mas o Natal e a vida continuam a ser coisas muito complicadas. Cá para mim eu acho que o Pai Natal não existe e que são os outros a tentarem enganar a mim.
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
Little Christmas
Pessoal, vamos todos fazer uma vaquinha para oferecer um computador novo ao Bastard neste Natal. Vi uns Magalhães porreiros na Feira da Ladra a 30€.
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
É revoltante, antidemocrático e anticonstitucional
Tanta gente que foi presa, torturada e morta para que fosse possível o 25 de Abril para agora virem censurar a pornografia no meu local de trabalho. Fico revoltado. Com certeza que fico revoltado.
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
O que não mata fortalece
Um gajo que eu sempre admirei foi o Orwell, por ter compreendido antes de todos que talvez a prioridade central da esquerda (e Orwell arriscou a sua própria vida num país estrangeiro em nome das causas da esquerda) deve ser a de denunciar os vícios e imperfeições da própria esquerda, nomeadamente as do chamado socialismo real. Parece-me óbvio que se a esquerda quer ter autoridade moral na apresentação de uma alternativa ao capitalismo, tem de apresentar um projecto com menos vícios e imperfeições que o próprio capitalismo. Ora foi precisamente o contrário que aconteceu com o Socialismo Real. Quando os soviéticos criticavam (e com razão) o capitalismo pela sua profunda desiguldade, minavam a sua própria credibilidade quando mostravam ao mundo que nas suas fronteiras "todos são iguais mas há alguns mais iguais do que outros" (como Orwell muito lucidamente denunciou no Animal Farm), nomeadamente a elite política e militar que detinha o monopólio do poder. E como alguém disse, (e não é preciso termos visto no cinema a triologia do "Senhor dos Anéis" para o compreender), o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente. Da mesma forma, quando os soviéticos criticavam (mais uma vez com razão) o capitalismo pela falta de liberdade que decorre da sua profunda desigualdade (quem é extremamente pobre tem uma liberdade de escolha profundamente menor do que quem é extremamente rico), minavam a sua própria credibilidade quando conseguiam alcançar a proeza de superar o próprio capitalismo no atentado às liberdades fundamentais: a liberdade do voto, a liberdade de expressão, a liberdade de associação, a liberdade de emigração e talvez a mais importante das liberdades, a liberdade da dissidência. Foi assim que milhões de pessoas foram presas, torturadas e mortas pelo socialismo real, simplesmente por terem ousado exercer as mais básicas das liberdades. Quando a esquerda não consegue apresentar uma alternativa mais benigna que o capitalismo, sucede o que sucedeu na Alemanha dividida, em que milhares de alemães de leste arriscavam a própria vida a saltar o muro em direcção à Alemanha Ocidental, quando nenhum alemão ocidental tentava saltar o muro rumo à RDA. E o problema é que estes não só vícios do passado, uma vez que os partidos actuais de esquerda e extrema-esquerda insistem em reproduzir muitas das práticas pouco democráticas do passado. Só quando a esquerda retomar plenamente o projecto de Orwell, ultrapassando em primeiro lugar as suas vulnerabilidades para enfrentar com mais força e autoridade o capitalismo, é que haverá novamente esperança de instituir uma alternativa credível ao capitalismo. O que não mata fortalece.
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
We've got a file on you
o departamento de qualidade está a observar-te, fumas demasiado para os nossos padrões, mijas de mais para os nossos padrões, sabem-se coisas, andas ultimamente com um olhar pensativo, faltas aos jantares de natal, chegas atrasado depois do break, não te ris das piadas do supervisor, olhas de vez em quando para as pernas da colega, abusas claramente do teu sentido de humor, envias mails muito pouco consentâneos com a cultura da empresa, a tendência é ainda subtil mas percebe-se que o gráfico da produtividade está ligeiramente em recta descendente, colas macacos no monitor, colas demasiados macacos para os nossos padrões
domingo, 20 de dezembro de 2009
Music is our radar
Podem-nos arrancar os olhos, a boca, o nariz, as mãos, e, ainda assim, encontraremos sempre o que procuramos.
sábado, 19 de dezembro de 2009
O nosso semanário de referência não cede nem um milímetro ao fenómeno de "tabloidização" da imprensa
Notícia publicada no Expresso em 12-12-2009: "O Lado feio de Tiger Woods: Onze mulheres, entre empregadas de bar e actrizes porno, terão tido um caso com o golfista"
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
A melhor forma de homenagear o "príncipe do mau gosto" é o mau gosto deste memorial: "Always look on the bright side of life"
"Ele era o príncipe do mau gosto. Ele adorava chocar. De facto, mais do que ninguém que eu conheça, o Gray encorporava e simbolizava tudo o que era mais ofensivo e juvenil nos Monty Python. E o seu prazer em chocar pessoas levava-o a feitos cada vez maiores."
Os verdadeiros aristocratas
Há quem diga que existem três formas de aristocracia: a do sangue, a do dinheiro, a da inteligência. Desprezo as três pelo menosprezo pedante que demonstram para com o resto da humanidade. Contudo, tenho uma sincera admiração pela aristocracia do falhanço. Por mais esforços que os comuns dos mortais façam para os salvar, esta casta demonstra ostensivamente a sua superioridade através da recusa sistemática de qualquer ajuda (por mais sedutora que seja), entregando-se inteiramente à vertigem e volúpia da auto-destruição. Julgo ser a mais elevada e inacessível forma de aristocracia pelo questionamento absoluto que exercem em relação às convenções dominantes do que é uma vida normal e bem sucedida. Pelo glamour da sua decadência, pela nobreza do seu fatalismo e pela poesia do seu abandono, os falhados demonstram inequivocamente ser os únicos e verdadeiros aristocratas do nosso tempo.
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
A meritocracia será imoral
A meritocracia é injusta. O mérito de cada um não depende das nossas escolhas mas sim da lotaria de oportunidades que nos coube em vida. O merecimento nunca deve der baseado no acaso. Ninguém merece os genes com que nasce. Ninguém merece os pais com que nasce. Ninguém merece o bairro onde nasce. Há desigualdades de base na distribuição das capacidades das pessoas, que não dependem da nossa vontade e do nosso esforço. Se Einstein tivesse nascido na Musgueira não seria Einstein, apesar de a probabilidade de vir a ser um delinquente extraordinariamente inteligente ser bastante elevada. Se Einstein tivesse nascido num bairro rico em Portugal também não seria Einstein: ninguém merece sequer o país onde nasce. A igualdade de oportunidades é uma mentira. Logo, a distribuição de bens escassos numa dada sociedade (como os salários e o reconhecimento social) não deve ser baseado no mérito (meritocracia) mas sim no esforço de cada um ("esforçocracia"?). Eu sei que os patrões me vão arremessar um qualquer objecto para cima dos meus dentes definitivos, mas considero que se alguém menos produtivo se esforçar até ao seu potencial máximo, deverá receber mais do que um colega mais produtivo que, devido à sua indolência, aplica apenas uma fatia mínima das suas potencialidades. Claro que têm razão, é quase obsceno criticar a meritocracia num país que despreza a cultura de mérito e que a substitui pela cultura de favorecimento, cunha e clientelismo (especialmente no sector público). Proponho então que parem imediatamente a leitura desta posta e que voltem a lê-la só daqui a muitos, muitos anos (séculos?), quando a distribuição do poder na nossa sociedade for baseada essencialmente no mérito de cada um e não nos seus amigos. A meritocracia será imoral.
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
O bom, o mau e o vilão
Não acreditem no Master Yoda. O Mal é sempre mais forte do que o Bem. Quando o bom vê o Berlusconi todo esmurrado, apesar do bom considerá-lo um fascista-populista-racista-xenófobo-corrupto cuja fonte de poder quase absoluto advém da concentração promíscua quase absoluta de múltiplos poderes na sua mão (além de primeiro ministro, Berlusconi é dono de um império poderoso que inclui meios de comunicação social, clubes de futebol e outras empresas importantes), fica com compaixão do Berlusconi, porque empatiza para com o sofrimento de alguém cujo nariz e dentes foram partidos por um estatueta dura arremessada com força contra a sua cara. O mau é mais forte do que o bom porque os seus interesses nunca são limitados por este tipo de pruridos humanistas. Para o bom vencer o mau, resta-lhe o paradoxo da imitação maquiavélica: tornar-se igual ao mau porque os seus fins nobres justificam os meios mais perversos. Mas é claro que neste processo o bom deixou de o ser. O mal é sempre mais forte.
sábado, 12 de dezembro de 2009
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
A banalização da chantagem no nosso discurso político
Quando a esquerda propõe que os custos da crise não sejam sempre imputados aos trabalhadores e aos mais pobres mas que sejam também repartidos pelo capital e pelos mais ricos (através de impostos sobre grandes fortunas, fim do sigílio bancário, fim do offshore da Madeira, fim dos benefícios fiscais dos bancos, aumento da tributação sobre as mais-valias bolsistas, reforço da progressividade dos nossos impostos (nomeadamente através da criação de novos escalões de IRS para os rendimentos mais elevados), imposição de limites aos salários e bónus dos CEOs, etc.), a resposta dos nossos empresários é sempre a mesma: se se atreverem em mexer nos nossos interesses, fugimos com o nosso capital para o estrangeiro. O que é curioso e perverso é que esta chantagem mafiosa do tipo "don't mess with us, otherwise you are going to wake up with the head of your favourite horse bleeding next to you" é aceite como normal e legítima, não suscitando qualquer indignação digna de nota. Enquanto se perpetuar este estádio de total banalização da chantagem enquanto instrumento dos poderosos na reacção a qualquer tentativa de contra-poder de esquerda, restam poucas esperanças para que haja espaço político e mediático de afirmação de uma alternativa de esquerda.
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Dúvidas e perplexidades sobre o 25 de Novembro - Parte II
Vou retomar aqui o tema que o Papousse no outro dia aflorou: o 25 de Novembro. Sou muito ambivalente em relação a esse processo. Por um lado, vejo-o como algo muito negativo: vitória das forças mais conservadoras sobre as forças mais progressistas; o fim da espontaneidade naif mas sincera das milhares de pessoas que acreditavam genuinamente que era possível criar um Portugal justo e fraterno sem classes sociais; o sonho e a utopia a cederem lugar à "normalização democrática", com tudo o que isso implica de conformismo, resignação, real politik, tacticismo, corrupção, hipocrisia, demagogia, populismo e cedência aos interesses dos mais poderosos (nomeadamente o interesse do capital económico e financeiro português e internacional). Por outro lado, vejo o 25 de Novembro como um processo com alguns elementos positivos, já que o outro lado da barricada (PCP e extrema esquerda, nomeadamente a UDP e a LCI/PSR que mais tarde deram origem ao BE) não era propriamente constituído por um grupo de anjinhos. O PCP sempre foi uma extensão política do PCUS, que recebia apoio da União Soviética e que, ao que tudo indica (se bem que ainda é muito cedo para se fazer uma história rigorosa de acontecimentos ainda tão recentes) só não avançou com uma guerra civil e uma revolução do tipo "soviético" porque a União Soviética lhe retirou o tapete: na altura havia uma espécie de Tratado de Tordesilhas entre os Americanos e os Soviéticos, em que ambos acordavam não interferir na esfera de influência do outro, e Portugal, pertencendo à Europa Ocidental, estava claramente no eixo americano. A extrema-esquerda também não era uma alternativa propriamente muito democrática: muitos apoiavam o modelo chinês e albanês; e todos (ou quse todos) representavam o excesso revolucionário não pensante, em que se ocupava, saneava, lavantavam-se barricadas, sequestrava-se, despedia-se tudo o que eles considerassem inimigos da classe operária, em operações colectivas completamente ilegais e anti-democráticas. Não nos podemos esquecer que em nas primeiras eleições democráticas em 25 de Abril de 1975 (eleições para a Constituinte) venceu o PS por 38%, o PCP teve só 12% e a extrema-esquerda teve uma votação meramente residual. Nesse sentido, quando o Grupo dos Nove liderado por Melo Antunes (facção menos esquerdista do MFA e do Conselho de Revolução), comandou as operações do 25 de Novembro de forma a que os militares entregassem o poder aos partidos democraticamente eleitos, só posso ter simpatia por essa causa. Que o povo português repetidamente tenha decidido eleger repetidamente as forças políticas mais conservadoras, de tal forma a que Portugal, ainda hoje, assume a vergonhosa posição de ser o país mais desigual da União Europeia, é algo que é só culpa do povo português (apesar de termos de democraticamente aceitar o veredicto do povo) e não do 25 de Novembro e seus apoiantes.
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
O império americano está em declínio?
O império egípcio durou 3130 anos. O império romano durou 1200 anos. O império inglês durou 450 anos. Parece haver uma tendência para os grandes impérios terem uma duração cada vez mais reduzida. O império americano tem pelo menos 64 anos. Será que já há algum sinal de declínio do império americano? Na minha opinião, não há. O orçamento militar dos Estados Unidos é equivalente ao somatório dos orçamentos militares de todos os outros países. Os Estados Unidos têm presença militar em 156 países, tendo 737 bases militares espalhadas por todo o mundo. Na guerra fria, apesar da supremacia americana, havia um certo equilíbrio de forças devido ao contra-peso geo-estratégico da União Soviética. Desde a queda do muro de Berlim, não há qualquer contra-poder à altura. Fala-se muito dos BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), mas, apesar do crescimento inegável destas potências emergentes, o seu poder económico, político e militar ainda não oferece a mínima sombra ao poder unipolar dos Estados Unidos. E a actual crise financeira e económica também não mudou significativamente a relação de forças, afectando quase todos por igual devido ao carácter global e interdependente das economias modernas. E se a minha análise estiver errada e já houver sinais de declínio do império, eu não gostava nada de assistir à 3ª Guerra Mundial. É que o império americano, como todos os outros impérios, pode não ser eterno, mas, como todos os outros impérios, não vai cair sem estrebuchar. Espero nessa altura já não estar vivo para não assistir aos milhões e milhões de mortos do estrebuchar do império.
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
domingo, 6 de dezembro de 2009
Como é que um agente do SEF consegue determinar a idade de um imigrante ilegal de tronco nu totalmente indocumentado?
Corta-lhe o tronco e conta o número de círculos concêntricos.
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
Happy Mondays
Prefiro ir trabalhar todos os dias a que me caia o frigorífico em cima do dedo grande do pé.
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
Os pecados da Igreja
Não sou crente mas não tenho nenhuma objecção de princípio contra a religião. Cada um acredita no que quiser e como estamos no domínio da fé, ninguém pode provar que o ateísmo é mais racional do que a crença ou vice-versa. Aquilo que já me parece fazer sentido criticar são as institituições religiosas, nomeadamente a Igreja Católica. Com efeito, a Igreja não é moral onde devia ser e é moral onde não devia ser.
Comecemos pela primeira crítica. Julgo que a Igreja Católica tem uma atitude arrogante face à moralidade, julgando que num mundo cada vez mais ateu e materialista, cabe-lhe a si a defesa monopolista da moralidade. Se definirmos moralidade como igualdade de direitos, deveres e dignidade de todos os seres humanos, percebemos rapidamente que a Igreja não só não tem o seu monopólio (por exemplo, muitas instituições não religiosas batem-se também pela defesa dos direitos dos mais desfavorecidos), como tem muitos telhados de vidro a este respeito. Quando a Igreja Católica (ao contrário da Igreja Protestante) nega o acesso das mulheres ao sacerdócio, viola o princípio moral de igualdade de direitos de todos os seres humanos. Quando a Igreja Católica condena a homossexualidade (como um pecado, uma doença ou uma aberração contra-natura), viola o princípio moral de igualdade de direitos de todos os seres humanos. Quando a Igreja Católica tem um funcionamento não democrático em que uma cúpula de cardeais impõe de cima para baixo para todos os sacerdotes e crentes as regras de funcionamento de toda a comunidade católica, viola o princípio moral de igualdade de direitos de todos os seres humanos.
Passemos então à segunda crítica: a Igreja intromete-se no domínio pessoal tratando-o como moral. Um exemplo deste modo de funcionamento é a atitude da Igreja face à sexualidade. Sempre que estamos perante práticas sexuais mutuamente consentidas por adultos, cada qual exprime a sexualidade como quiser e ninguém tem nada a ver com isso. Pelo contrário, a Igreja considera que a sexualidade tem em si mesma uma natureza moral, existindo formas correctas de sexualidade e formas pecadoras de sexualidade. Para a Igreja, a sexualidade só é moral se visar a procriação e se for praticada no âmbito do casamento (nomeadamente o religioso). Todas as outras formas de sexualidade, especialmente aquelas que visem o prazer pelo prazer (continua a haver uma condenação moral do prazer), são consideradas pecaminosas. Na sua infinita bondade e sabedoria, Deus, no Juízo Final, saberá distinguir estes graves pecados da carne dos pequenos pecados praticados por alguns padres com as crianças do seu rebanho.
Comecemos pela primeira crítica. Julgo que a Igreja Católica tem uma atitude arrogante face à moralidade, julgando que num mundo cada vez mais ateu e materialista, cabe-lhe a si a defesa monopolista da moralidade. Se definirmos moralidade como igualdade de direitos, deveres e dignidade de todos os seres humanos, percebemos rapidamente que a Igreja não só não tem o seu monopólio (por exemplo, muitas instituições não religiosas batem-se também pela defesa dos direitos dos mais desfavorecidos), como tem muitos telhados de vidro a este respeito. Quando a Igreja Católica (ao contrário da Igreja Protestante) nega o acesso das mulheres ao sacerdócio, viola o princípio moral de igualdade de direitos de todos os seres humanos. Quando a Igreja Católica condena a homossexualidade (como um pecado, uma doença ou uma aberração contra-natura), viola o princípio moral de igualdade de direitos de todos os seres humanos. Quando a Igreja Católica tem um funcionamento não democrático em que uma cúpula de cardeais impõe de cima para baixo para todos os sacerdotes e crentes as regras de funcionamento de toda a comunidade católica, viola o princípio moral de igualdade de direitos de todos os seres humanos.
Passemos então à segunda crítica: a Igreja intromete-se no domínio pessoal tratando-o como moral. Um exemplo deste modo de funcionamento é a atitude da Igreja face à sexualidade. Sempre que estamos perante práticas sexuais mutuamente consentidas por adultos, cada qual exprime a sexualidade como quiser e ninguém tem nada a ver com isso. Pelo contrário, a Igreja considera que a sexualidade tem em si mesma uma natureza moral, existindo formas correctas de sexualidade e formas pecadoras de sexualidade. Para a Igreja, a sexualidade só é moral se visar a procriação e se for praticada no âmbito do casamento (nomeadamente o religioso). Todas as outras formas de sexualidade, especialmente aquelas que visem o prazer pelo prazer (continua a haver uma condenação moral do prazer), são consideradas pecaminosas. Na sua infinita bondade e sabedoria, Deus, no Juízo Final, saberá distinguir estes graves pecados da carne dos pequenos pecados praticados por alguns padres com as crianças do seu rebanho.
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
Acho um pouco bom
O que é que têm em comum os Shins, Saint Etienne, Sonic Youth, Rapture, White Stripes e Beach House? Nada a não ser duas coisas: o bom gosto e a chancela da editora independente Sub Pop em algum momento do seu percurso discográfico. Sim, estou-me a referir à célebre editora que no final dos anos 80 editou também os Nirvana, os Soundgarden, os Mudhoney e os Screaming Trees quando o grunge era completamente desconhecido do mainstream. Deixo-vos aqui uma das recentes aquisições da Sub Pop: os brasileiros Cansei de Ser Sexy (CSS), com o seu Pop electrónico dançável e bem humorado, no seu primeiro single internacional (cheio de referências disco).
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